domingo, 31 de maio de 2009

D(i)vagar e sempre

Nao vivo pra trabalhar
Trabalho pra ter dinheiro
pra viver por inteiro
pra poder viajar.

Posso até ficar em casa
Levantar e ir pra lida
Sonhar que vôo, navego
Sem sentir o peso da vida.

E na beira do rio Reno
Molhar os pés, acordar
Lembrar que o que é terreno
Nao vai pro lado de lá.

Posso em sonho ir à Florença
Criar na cabeça um roteiro
Uruguai, Guatemala
Ceará, Rio de Janeiro.

Prefiro andar por Recife
Ver prédios em Singapura
a usar roupas de grife
pois revelam a gordura.

Passear por toda a França
Sem Dior, em roupa brega
a ter grana na poupança
e nao ter ido à Noruega.

Nao sucumbo à ditadura
da fita métrica, suástica
da aparência nada pura
Da dieta superdrástica .

Odeio fazer ginástica
Isso pra mim é tortura
Nem pensar em fazer plástica
Virar múmia em atadura.

Melhor é ir à Veneza,
Ou então para Paris,
Do que cuidar da beleza
E ter uma cicatriz.

Pode não ser caso de exclusão
Mas nao nasci em berço de ouro
Tenho o meu pé no chão
Mato por dia um touro.
(Ao menos nao é na esquina
De Bangkok ou Milão).

Se ver a vida por outro prisma
Pode evitar um AVC,
Proteger o coração
Ou curar um aneurisma,
Eu conto com você
E pode contar comigo
Para acharmos um abrigo
Quando na Índia, no verão,
em seus campos de trigo,
Descobrir o que é Monção.

Agora,
Se me convidar para um Spa
Vou recusar na hora
Vou ter que dizer não.
Pra mim, Spa nao é hotel
É campo de concentração.

Não comer pra ficar esbelta
Menos sal pra pressão alta
Menos açúcar pra diabete
Credo!
Vou descansar em Malta
Ou até meditar no Tibete.

Se falam da minha barriga
Isso, pra mim, é o limite
Nao sou de comprar briga
Nao gosto de dar palpite.

Sou calma, muito tranquila
Mas meu ouvido nao é penico
Encho a cara com tequila
Ou cuba libre em Puerto Rico.

E, se a mesma mão que afaga,
As minhas costas, apunhala
Vou fazer turismo em Praga,
Ou na minha terra querida.
Pros confins da Guatemala
Vou voando curar a ferida.

Quando perco a paciência,
Corro arrumar a mochila
Posso ir para Valência
Ou ver alguém em Manila.

Talvez ir até Londres
Visitar um montão de museus
Conhecimento ou experiência
Nao doi nem nunca doeu.

O que os olhos veem
Ninguém nunca nos toma
Pensando bem, eu tenho boca
E quem tem boca vai à Roma.

Nao me preocupo com alopécia
Com rugas cravadas na testa
ou mesmo cabelo branco
Vou sim conhecer a Grécia
Mijas e seu Pueblo Blanco
(Talvez até vá pra Holanda
Aprender a andar de tamanco)

Bom é andar bem cedo
Na orla quente da Bahia
E não ter receio ou medo
De estar entrando numa fria.

E nas dunas de Floripa,
Escorregar só de chinelo
E, de tanga, soltar pipa
Pintada de verde e amarelo.

Fazer topless na Espanha
Me sentir Brigite Bardot,
Nas areias da Bretanha
Comer muito escargot.

Com minha flacidez e rugas
Das quais tenho muito orgulho
E não morro de vergonha
Nadar com as tartarugas
Dar barrigada em mergulho
Em Fernando de Noronha.

Se estou com pena de mim
Nao conto quantas calorias
Nem penso no efeito sanfona.
Logo penso no Eisbein de Berlim,
No pãozinho da Normandia,
Nos churros de Barcelona.

Se ter estrias no peito
Para algumas, é um mito
Para outras, um grande defeito
Pra mim é lembrar do dia
Quando, pros lados do Egito,
Não sei bem se em Alexandria,
Com medo, andei de camelo.
Como nao depilei as pernas
Foi assim, pelo no pelo.

Cansada de não fazer nada
Logo penso em Alhambra
Viajar para Granada
Andar até dar câimbra.

Passear em lombo de burro
Ou só mesmo bater pernas
São coisas pra se fazer
Nas vielas de Marbella.

Andar pelas tavernas
Nas vilas da Andaluzia
Comer um prato de tapas
Beber uma boa sangria

Depois de tanto andar
Correr as mãos nas celulites
que povoam os montes de trás
Ao ver que ainda estão lá,
Lembrar dos estalagtites
Das cavernas do Paraná.

Quando for à Portugal,
Nas ruas íngremes de Lisboa
Comer um bom bacalhau
Descansar, ficar à toa

E nas praias do Algarve
Ir à Ponta da Piedade
E não achar que é grave
Se vier a sentir a idade.

Pela estrada do litoral
Chegar em Sagres e Milfontes
E cansada da capital
Me esconder em Trás dos Montes.

E falando na ex-metrópole
Penso logo no Brasil
Afinal é minha terra
Assim, meio bagunçada
Diferente da Inglaterra
Onde nao tenho ninguém
E também nao tenho nada.

Mas tudo é ponto de vista
de turista ou morador
Afinal, Brasil tem de tudo
E cada um tem seu valor.

Pode ser santo ou vigarista
Careca ou muito barbudo
Metalúrgico- presidente
Bandido-vereador
Inclusive ser artista
Nas ruas de Salvador.

Mas não tem tanque nas ruas
Muito menos terrorista
Talvez um ou outro neo-nazista
No sudeste ou Porto Alegre
No Rio de Janeiro, traficante
Em São Bernardo, petista e greve.

A gente podia ter pior sorte
E estar no meio de um fuá
Mas ele está bem mais pro norte
Lá pras terras dos EUA.

Quem gosta de viajar
Nao é mero inconsequente
Por jogar tudo pro alto
Ou deixar tudo pra trás,
Ele só faz por pé e mente
Onde o coração sente
Que casa é onde se está.

Se depois de ler tudo isso,
Você me mandar às favas
Vou com o maior prazer
Se for perto de Caçapava,
Só vou se for de carona
De trem acho que nao dá.
Será que é perto de Verona?
Tenho um tio que mora por lá!

copiraiti 2009

7 comentários:

  1. muito bom seu poema,Arlete, bem autobiográfico de onde vc já passou. Entre no meu blog e relembre os 80's com o post que fiz da banda alemã Propaganda, lembra da música "Duel"? e se quiser,aproveite e baixe o cd deles, é uma obra-prima de synthpop.Um grande abraço do primo Marcello

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  2. Marcooo,
    Tô indo!!! Vamu junto?
    Bjs

    Marcello, primo querido,
    Não passei por um quarto desses lugares, foi só liberdade
    po(br)ética!
    Bjs

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  3. Veja o que achei!
    http://queridoleitor.zip.net/

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  4. Olá Marco,
    Que coincidência, não?
    Falei com ela.
    Bjs

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  5. Oi Arlete. Adorei o blog. Tudo de Bonn pra voce tambem. Beijos.

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  6. Ola, Marcos,
    Obrigada pela visita. Gostaria de saber mais de vocêe mas não consigo visualizar o seu blog.
    Me mande o link.
    Obrigada

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