domingo, 17 de junho de 2012

Malandro, folgado e cara de pau tem em todo lugar.....

...inclusive aqui na Alemanha. Alemão? Também. Mas no caso que vou contar abaixo os caras tinham cara de turcos/árabes e não poderia ser diferente, que me desculpem a sinceridade.
Comprei um sutiã no mercado que não caiu bem. No dia seguinte, fui devolvê-lo. Sim, isso é possível aqui na Alemanha. É uma das coisas que eu mais gosto ao fazer compras: não serviu, não gostou, não combina com nada que você tem, não é o que você esperava, devolva sem ter que dar nenhuma explicação. 
Eu também tinha que comprar algumas coisinhas. Por isso, peguei um carrinho não com uma moeda mas com um chip, uma ficha. Fui até o balcão de informações do supermercado que fica bem na entrada, sendo que ele é uma ilha de onde o funcionário pode te atender tanto antes quanto depois de passar pelo caixa. Pra entrar no mercado, existe uma cancela e se você tenta sair por ela, uma sirene toca. 
Bem, eu cheguei no balcão de informações, "estacionei" o meu carrinho de compras do lado dele e bem próximo à cancela e fiquei de costas pra ele olhando na direção dos caixas, de onde possivelmente viria uma boa alma pra me atender. Eu cheguei ao mercado por volta das 20h15, fiquei uns 10 minutos esperando e nada. Quando olhei pra trás, cadê o meu carrinho? Vi um cara entrando e entrei correndo no mercado atrás do homem, gritando perguntando se ele tinha pego meu carrinho. Parei ao lado de dois caras que já tinham umas mercadorias no carro deles e, na negativa do senhor, voltei irritadíssima para fora ouvindo as risadas dos dois caras. Ao passar pela cancela, a sirene tocou e todo mundo que estava nos caixas olhou pra mim, não preciso dizer que horrorizados, como bons alemães que se chocam com o burlar das regras. Voltei pra dentro e peguei um funcionário a laço e expliquei que alguém tinha levado meu carrinho de compras e que eu estava dentro com uma mercadoria já paga na mão que eu queria trocar e não algo que eu tinha pego. Ele falou que ia chamar o gerente. Lá vem um moçoilo bem jovem e bonito com olhos azuisíssimos. Comecei a contar o que houve em alemão, mas, no nervosismo, o esforço pra mim era descomunal. Então, comecei a falar em inglês mesmo. Ele perguntou se o carrinho estava com compras. Eu disse que não, que só tinha um chip laranja. Como bom alemão, ele disse que não valeria o trabalho de olhar a gravação do video pra saber quem tinha levado meu carro e que ele me daria um chip em troca do meu. Eu disse que não era pelo chip ou pelo dinheiro, se fosse, mas por ser injusto alguém se apoderar de algo que não lhe cabe, e que quem faz isso pode fazer coisa pior. Mesmo assim, ele disse que não valeria a pena. Me deu quatro chips e ficou por isso mesmo. Eu pensei em pedir que ele anunciasse no alto falante pra quem tivesse levado o dito, o devolvesse, só pra pessoa passar um carão também, já que eu, que era a vítima, passei um carão com o alarme. Mas ele não estava muito a fim, apesar de ser paciente e nem acredito que o malandro iria se entregar. E eu dentro do mercado, resolvi não ter o trabalho de sair de novo pra pegar outro carrinho. Quando fui ao caixa, carregando menos do que pretendia comprar e só o que conseguia carregar nos braços, na minha frente, estavam os dois caras que riram da minha cara. Resolvi dar uma bisoiada no carrinho deles e lá estava o meu chip. Eu fiz uma cara de merda pra eles, mas fiquei com medo, pois não tinha quase ninguém no mercado, praticamente só nós e a atendente de caixa. Eu fiquei me coçando de raiva  deles e de mim por não ter coragem de reagir. E eles estavam rindo e colocando as mercadorias, que não eram poucas, de volta no carrinho.
 A caixa perguntou aos  danados se eles colecionavam "Treuepunkt" ( neste mercado, a cada 10 euros em compras, você ganha um selinho de fidelidade, junta, enche uma cartela e compra mais barato algum produto que eles estejam oferecendo na campanha.). Eles disseram que não, mas mudaram de ideia e pediram os selinhos. Acabaram de colocar suas mercadorias no carrinho e saíram. Um deles, de repente, voltou e jogou os selinhos em cima das minhas compras . Os filhos da puta, com cara de turco, daqueles que não  consideram que mulher é igual ao homem, as desafiam e debocham delas na cara dura, riram da minha cara ainda. Fui atrás, pra tentar tirar uma foto deles e da placa do carro, mas eles já tinham se escafedido.

Conclusão, eu fiquei  possessa:
Primeiro, porque pegar o carrinho de alguém aqui é imoral, antiético e engorda.
Segundo, porque, se eles iam fazer uma compra tão grande como fizeram, por que não tinham pego um carrinho lá fora?
Terceiro, porque eles riram da minha cara enquanto eu indagava outro cara sobre o meu carrinho.
Quarto, porque o gerente, como alemão que é, achou que seria muito trabalho por nada saber quem foi que pegou meu carrinho. 
Quinto, porque eu não pus a boca no trombone, porque não exigi meus direitos. Eu já aprendi que com alemão é assim que funciona. Eles semeiam, se você colhe tudo bem, se você bate o pé, eles voltam atrás. Eu deveria ter exigido saber quem foi que surrupiou o meu carro. Poderia até ter ameaçado chamar a polícia, que eu já vi ser chamada por muito menos. Mas eu me curvei.
Sexto, por eles terem debochado da minha cara jogando o "Treuepunkt" como se dissessem: "Toma, ser inferior, fique satisfeita com o pouco que lhe cabe e cale a boca".
Sétimo, porque, mesmo não concordando com determinadas crenças e comportamento,  eu sempre defendo a integração cultural, não tolero intolerância e preconceito, mas parece que as coisas acontecem comigo pra me dar um chacoalhão e dizer, aceite mas fique com o pé atrás.

Meu marido, e duas amigas me perguntaram por que eu não esperneei? Por que eu não dei uma de louca na hora do caixa? Foi porque eu fiquei com medo de ir para o estacionamento sozinha e tivesse que encarar os turcos/árabes caso eles me abordassem; foi porque já eram 21h e eu tenho pimpolhos em casa. Paradoxalmente, fiquei com raiva de mim mesma. Mas, em compensação, ganhei quatro chips. É, a bocó aqui se contenta com pouco!
  

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Vendo mas não entrego

Vendo espaço residencial loft para temporada, próximo ao Rheinaue Park e Rio Reno. Extremamente arejado, iluminação indireta, ampla área para armazenagem de objetos coletados e instalação de recursos de entretenimento. Obras de arte pintadas diretamente nas paredes do imóvel, valorizando ainda mais o ambiente. Região de fácil acesso a transportes públicos, pontos para carona e venda de produtos no semáforo. Local para ver e ser visto. Recursos reduzidos para instalação de aquecimento e fornecimento de luz, água e esgoto, mas com facilidade pra puxar um gato. IPTU zero. Pagamento facilitado. O sonho de qualquer morador de rua de São Paulo.
Tratar com
Imobiliária Só Vendo
Telefone 0171- 607070
 E-mail: sonaovendoa mae@t-ontoonline.de






A brincadeira é séria. Realidade cruel da vida dos moradores de rua das cidades do Brasil, ter que recorrer a instalações subumanas (como se escreve essa palavra?).  Não quero dizer que aqui não há moradores de rua. Mas se estes fizessem uso de viadutos e pontes para moradia, não sobreviveriam o primeiro outono, quanto mais o inverno. A ajuda social tem um papel importante para que isso não aconteça.

sábado, 2 de junho de 2012

Ente querido

Primavera é tempo de renovação, de cores e de espíritos elevados. É tempo em que o verde e as flores renascem e as pessoas ficam cheias de planos e mais animadas depois de sacudirem o mofo do inverno. É tempo também de muintcho séécho no reino animal!!!

Moramos em um apartamento que, apesar de velho, escolhemos para alugar por causa da paisagem linda que temos. Pela janela, vemos o Reno, um castelo, a ruina de outro e um hotel 10 estrelas. O jardim do prédio é maior do que a área que o próprio prédio ocupa. Ainda bem, porque quando o Reno sobe, ainda existe uma folga pra sair correndo, antes da água chegar ao prédio (tô exagerando). E é nesse ambiente urbano mas silvestre, que vemos coelhinhos, esquilinhos, passarinhos de todos os tipos e tamanhos, cisnes e patos - ente em alemão - daqueles de calendário, com as penas brilhantes, cabeça verde e colar branco.  Quando a primavera chega, eles ficam taradaços. Quem paga o pato é a pata: uma para, muitas vezes, seis patarados. E  a suruba da natureza aflora. Se não tem tu, vai tu mesmo. É pato em cima de pato, quando não conseguem chegar na pata. (E vai explicar pra sua filha o que tá acontecendo, ainda mais quando se está passeando na área rural da cidade e tem boi/vaca em cima de vaca/boi e cavalo/égua em cima de égua/cavalo. Ao menos não temos que sair correndo com balde de água pra separar cachorro na rua.) Um bom observador da natureza nunca poderia portar sentimentos homofóbicos, alegando que o homossexualismo é algo não natural.
Depois de passada a fase de soltar a franga, vem a calmaria. A rivalidade pra traçar a moça passa e os patos machos passam a desfrutar da companhia um do outro, parecendo um bando de solteirões aloprados saindo pra beber  comer. Algumas patas se assemelham a mães solteiras, sozinhas, com o ventre carregado. Ao contrário dos machos, as fêmeas não se juntam. Daqui a alguns dias, teremos dezenas de patas mães com seus filhinhos nadando na beira do rio. Algumas acompanhadas pelo seu companheiro. Eu sinceramente não sei se depois da orgia, se assenta a tranquilidade da monogamia no reino dos patos, mas há 4 anos, nesta mesma época, temos a visita de um casal de patos que nos vem pedir comida. Nem sei se é o mesmo casal, mas é muita coincidência se não for.  E assim segue a natureza o seu fluxo. Se o comportamento humano não é natural, ao menos não é anormal. Com certeza, não são os patos um reflexo do nosso comportamento e sim algo intrínseco da natureza animal. E é isso que somos.
Os machos no quintal de casa pedindo comida

Ente querido


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