Acidentes na escola

Eu trabalhei durante vários anos no setor de Acidente de Trabalho e Saúde do Trabalhador da Secretária de Saúde de São Bernardo. Segundo a Lei 8213/91 artigo 21, item IV, primeiro parágrafo: " nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho".
Ao ler a reportagem abaixo, publicada no  jornal "The Local", estranhei  que, num país de primeiro mundo como a Alemanha, um empregado de 50 anos que machucou o cotovelo esquerdo ao escorregar no chão da cantina, que estava sujo de molho,  não conseguiu que o acidente fosse considerado de trabalho nem pela associação responsável por este tipo de acidente e nem pela justiça. 

No compensation for condiment catastrophe

Published: 27 Mar 12 10:52 CET

The 50-year-old worker at a Daimler car factory in Sindelfingen, southern Germany, sued his trade association after they said his canteen condiment catastrophe was no grounds for compensation.


Effectively, the association ruled it was not an accident at work and their insurance coverage ended at the canteen door.


And the Heilbronn court upheld the association's decision on Monday, with the judge agreeing that eating is a private matter, and not work-related.


According to a report in Focus magazine, the man was carrying a tray through the Daimler canteen in May 2010 and failed to notice the large quantity of spilled condiment on the floor. The unfortunate man landed on his left elbow.


The court said that even though the canteen was financed by the employer, the employee was not obliged to eat there as part of his work agreement.


This would be distinct from an accident that occurred during a business lunch, for instance, when executives discuss important deals. Insurers would be happy to pay up should a company manager choke on his prawn canapé.

E o pior é o primeiro comentário à matéria:.

11:28 March 27, 2012 by Jibzy

Is there not a value called Forgiveness ? Nobody threw salad dressing on the floor so he could fall and be injured. Also, why the hell didnt he LOOK where he's walking.
I think its just a case of a grumpy old man.




BG  Unfall - acidente de trabalho


Berufsgenossenschaft é uma associação de empresas de um mesmo setor que tem como objetivo prover seguro contra acidentes e prevenção dos mesmos. Um BG Unfall é portanto um acidente de "trabalho", coberto por estas instituições, que são geridas por um grupo autônomo sob supervisão legal do governo. Quem cobre os gastos advindos de acidentes ou doenças ocupacionais na Alemanha, portanto,  é  este  seguro mandatório que é pago somente pelas empresas, sem coparticipação do empregado. No Brasil, quem dá assistência aos acidentados ou doentes ocupacionais é o INSS, portanto, o empregado também paga para ter o auxílio doença ou acidente. Assim como no Brasil, quando alguém sofre um acidente de trabalho aqui, a empresa deve comunicar ao seguro e este será o responsável pela cobertura de todo e qualquer gasto que o trabalhador vier a ter com cuidados médicos, remédios e dias de afastamento e não o plano de saúde do próprio indivíduo.
No caso acima,  ao contrário da lei brasleira, foi considerado que todo mundo tem que comer e se o cara sofreu o acidente enquanto o fazia, mesmo que ele precise comer pra continuar exercendo suas funções, não foi um BG Unfall.

Acidente na Escola

Duas semanas atrás, durante a pausa da escola, Lara teve um encontrão com um menino maior que ela que a fez cair de costas sobre o cotovelo esquerdo. A professora ligou em casa e tive que buscar a Lara mais cedo. A principio foi somente um ferimento profundo que ela teve no cotovelo ( o suficiente pra nos deixar loucos com o comportamento da Lara). Mas ela ficou 4 dias sem mexer o braço. No quinto dia, resolvi leva-la ao pediatra pra ver se ela não mexia o braço por frescura ou por algum ferimento interno (tá, tá, eu deveria ter feito isso no dia do acidente, mas em se tratando de dona Lara, a coisa é bem mais complicada, devido ao terrível medo de médico que ela tem e porque achamos que ela não mexia o braço pelo ferimento). Depois de arrasta-la até o carro, chegamos ao médico e a recepcionista disse que eu deveria ter me dirigido a um hospital, pois, em se tratando de acidente na escola, eles não poderia tratar a Lara no consultório. De qualquer forma, o médico, que é uma graça, examinou a Lara, viu que não era nada sério (era frescura mesmo) e me disse que mesmo assim eu teria que leva-la até o hospital, visto se tratar de um BG Unfall. Eu nunca tinha ouvido essa palavra até então. E ele foi paciente o suficiente para me explicar que um acidente na escola não é coberto pelo meu plano de saúde, mas pelo plano de saúde da escola e que, portanto, eu tenho que me dirigir a locais que tem autorização para fazer o atendimento, como um hospital , pois qualquer problema posterior só poderia ser tratado pelo local que fez o registro do acidente.  Ele até  deu um analgésico para a Lara já que eu ia direto para o hospital, pois lá, certamente, eles não teriam o cuidado que ele teve ao manipular o braço dela (olha que querido).
Depois vim a saber que este é o caso para acidentes que envolvam partes ósseas e cabeça. Em situações relacionadas com ouvido, nariz, garganta qualquer médico próximo pode atender e olhos, oftalmo e dentes, dentista. Mas isso ainda não está muito claro pra mim não, pois, dias depois, a professora da Lara me ligou dizendo que ela recebeu o formulário do seguro e que eu deveria leva-lo ao médico que atendeu a Lara pra que ele recebesse o reembolso do seguro. Aí, fiquei mais perdida ainda.
Portanto, acidentes na escola (qualquer que seja ela, desde kindergarten até faculdade) também são cobertos pelo mesmo tipo de seguro. O ideal é não deixar de registrar qualquer acidente mesmo que pareça algo corriqueiro, pois nunca sabemos que problemas podem surgir posteriormente, já que um plano de saúde simples pode se negar a pagar por uma sequela proveniente de um BG Unfall.  E para quem tem criança em escola ou kindergarten, o melhor é saber qual médico próximo a escola pode dar atendimento emergencial ao seu filho em caso de acidente, pra não perder tempo desnecessário indo ao lugar errado.

Mais informações:
http://www.sozialhilfe24.de/arbeitsrecht/arbeitsplatz/arbeitsunfall.html

http://www.dguv.de/content/organization_structure/institutions/index.jsp

http://www.unfallkasse-nrw.de/index.php?id=8

Neste hotel eu não fico

Voltando do passeio ao Ehrenburg, paramos para comprar água e ficamos no carro enquanto o Amanzor foi até o estabelecimento. Eu olhei para o painel do local e fiquei  meio preocupada.

Eu explico porque neste hotel eu não fico:

Gasthaus é um  hotelzinho que tem um restaurante - ou é um restaurante que tem um hotelzinho.
Metzgerei é açougue. Neste, especificamente, eles defumam presunto, salsichas e bacon.

Me lembrei do filme Sweeney Todd, em que o barbeiro matava os clientes e sua mulher fazia tortas com eles.
E me lembrei daquela brincadeirinha: O que voce quer ser quando crescer? Salsicha, ué?

Agora, além da água, o Amanzor apareceu com um pedaço de carne defumada, achando que a balconista tinha ido com a cara dele, porque custava 6 euros ela cobrou 3. Inspecionando melhor a embalagem, ele descobriu o motivo: estava vencido há dois meses. Por que ainda estava à venda? Porque certamente apareceria alguém que não checaria a data de validade e acharia que a balconista tinha ido com a cara dele por ter cobrado mais barato.

Passeio de Domingo e de Aniversário - Ehrenburg

Domingo foi meu aniversário e pra comemorar diferente fomos tomar um brunch nas ruínas do castelo Ehrenburg próximo a Brodenbach, uma cidadezinha sem graça no Mosel, um dos rios tributários do Reno. Assim como a região do Reno, o Mosel é uma região produtora de vinho. Seus vinhedos a perder de vista ficam nas montanhas à margem do rio e nesta época do ano, com o tempo nublado, a paisagem ainda é cinza. Mesmo assim, a viagem é super agradável. 

Mapa tirado daqui

No entanto, a subida do morro até o castelo é de virar estômago vazio, já que é tão ingrime e tão tortuosa que a cada curva você muda uns 160 graus de direção.

O castelo só vai abrir oficialmente para festejos e eventos medievais a partir da Páscoa, mas eles oferecem jantares com peças teatrais e shows musicais o ano inteiro, bem como o brunch de domingo. Eles também tem um hotel com 5 quartos na parte de baixo do salão dos cavaleiros (Rittersaal), onde é servido o café. O proprietário, ou melhor, o diretor do complexo, é quem recebe o povo, que tem que fazer reserva antecipada. Depois do café, que tinha uma manteiga defumada deliciosa, fomos dar uma volta nas ruínas. Só dava eu e a Lara naquele lugar. É tudo muito bonito, mas confesso que tive frio na espinha de me meter nos salões e escadas escondidinhas, parecia um labirinto. Tratei logo de picar a mula, pois eu tenho medo de assombração. Talvez voltemos lá em outra época do ano para participar das festividades medievais oferecidas pela associação que mantem o complexo. Ai, vou lembrar de pedir pro marido tirar uma foto minha.

Vinhedos no caminho

Portal na estrada

As montanhas às margens do Mosel

Amanzor e Ricardo laaaaaaá embaixo

Lara adora este tipo de passeio

Mais fotos aqui

Com puta dor

Ao ter meu computador quebrado por quase dois meses, percebi o quanto não tê-lo mudou minha vida.

Cansei! 

Cansei de ficar horas à frente do computador esperando que a minha vida fosse pra frente. 

Cansei de ver a vida dos outros fluir como os barcos e navios que navegam o rio em frente de casa e achar que a minha era um toco agarrado à margem. 

Cansei de  deixar meus filhos brincando sozinhos ou implorando colo, enquanto eu ficava escrevendo no blog para me sentir produtiva. 

Cansei de ficar acordada até altas horas da madrugada, não ter um sono reparador e não ter vida conjugal para ficar vendo a vida dos outros e achar que a minha é uma merda. 

Cansei de sentir  esse cansaço mental e psicológico arrebatador, daqueles que te fazem se achar um forte candidato a sofrer de demência. 

Também cansei  de sentir esse cansaço físico, em que respirar se tornou um esforço ao ponto de não conseguir me movimentar como uma mulher de 43 anos e sim como uma velha reumática. De tanto ficar sedentária e imóvel, fui atrofiando e engordando. Nunca perdi os quilos que ganhei durante a gravidez e as dores que sentia por todo o corpo se tornaram insuportáveis. 

Passei boa parte dos últimos meses de 2011 procurando um médico que me dissesse o que eu tinha, do que eu estava sofrendo, porque só podia ser coisa ruim. Me diziam que era psicológico, pois nos exames de sangue não aparecia nada. Passei a fazer tratamento com psiquiatra e nada de melhora. Concluiram que era Fibromialgia, que eu teria que dormir mais e melhor (dormir mais cedo, não levantar pra atender as crianças e ignorar o ronco do marido. Ah, tá), descansar bem durante o dia (com duas crianças?) e fazer exercicios físicos (tá bom) e teria que consultar um reumatologista. Procurei todos os de Bonn e arredores e nenhum pegava paciente novo, digo novos pacientes, porque reumato não é só médico de velho.

Sem conseguir achar ajuda para as dores constantes pelo corpo inteiro aqui na Alemanha, resolvi aproveitar a viagem para o Brasil pra tentar encontrar algum médico que lá pudesse me ajudar. Nessa época do ano, ninguém disponível. Minha irmã tinha visto uma reportagem sobre cortisol e DHEA, dois hormônios que, descontrolados, podem causar os sintomas que eu tinha. Ela, que não é médica, também sugeriu que eu tomasse uma complexo vitamínico com acido fólico, vitaminas B6 e B12, que fez bem pra ela. Meu irmão sugeriu também o cloreto de magnésio, que fez bem pra ele. Aí, o namorado da minha irmã, que está fazendo bem pra ela e é iogue e estudou medicina indiana, olhou meus olhos, minha boca e minha pulsação e me disse que o meu cortisol estava muito alto e que eu tinha que fazer ioga para que meu corpo passasse a controlar minha mente e eu não precisasse me entupir de remédio. Como boa agnóstica, no dia que tinha que voltar pra Alemanha, paguei um exame de sangue sem pedido médico (coisa que aqui na Alemanha seria impossível de se fazer) para detectar o índice de cortisol e DHEA no meu corpo,  com o resultado pronto em dez dias. Alguns dias depois de voltar pra Alemanha e já tendo tomado as vitaminas e o magnésio por uns dias, as dores diminuiram bem, mas ainda me atrapalhavam. O computador continuava inoperante. Dia de resultado pronto. Pimba: meu nível de cortisol estava o dobro do nível mais alto tolerável.
Levei meu exame para minha ginecologista. Essa mulher é dez (apesar de não ter partido dela a solução do meu problema). Ela analisou o resultado e também achou que eu estava extremamente pálida.  Me explicou como o cortisol, o ácido fólico, as vitaminas do complexo B, o magnésio e o DHEA funcionam e o papel que os hormônios sexuais tem no meu quadro sintomatológico. Descartou problemas hormonais femininos através de um exame microscópico feito na hora, fez na hora um exame de sangue para Ferritina (que constata anemia em um nível mais profundo), mandou eu continuar com as vitaminas e acrescentou o DHEA para combater o cortisol e falou pra eu fazer ioga, coisa que o namorado da minha irmã também disse.Dias depois, saiu o resultado do exame de Ferritina que constatou-se anemia. Ou seja, eu estava podre, mas ao menos estava no caminho certo para sair do buraco.

Além de tomar essa batelada de remédios, emagreci 6 quilos e sai do sedentarismo do computador, mas ainda não criei coragem para começar a fazer ioga. A minha vida não está mais saudável, mas passei a ter uma vida muito mais real do que virtual e assim como tenho que dosar os remédios, estou aprendendo a dosar a internet, porque essa coisa é um vício que se a gente não domina, domina a gente. Curto muito mais os meus filhos e parei de reclamar da vida por compara-la demais com as dos outros. Por isso, o blog está devagar, porque minha vida está mais rápida. Mas eu continuo sempre no Facebook, porque não sou de ferro. Se fosse, não estaria com anemia.