Vou ser sincera, foi difícil passar dos primeiros capítulos do primeiro livro. Como minha mãe me ensinou a comer pra não perder o vintém, li o primeiro livro forçada. Como nada aconteceu, além de sexo meia boca, eu comecei a ler o segundo pra ver se a coisa ia mudar ou continuaria no mesmo marasmo. Doce ilusão. Nem cheguei na metade do segundo livro e ele já está depositado na pilha das revistas semanais ao lado da privada. Ou seja, só o leio quando esqueço algo melhor pra ler no banheiro. Tá,tá, eu sei que não é bom ler sentado na privada pois causa varizes, mas é só eu começar a ler o livro que eu tenho vontade de sair dali rapidinho de tanto tédio.
Uma coisa eu admiro na autora e não no livro: a sua capacidade de conseguir encher tanta linguiça dizendo as mesmas coisas de maneiras iguais, ou levemente diferentes, tantas vezes e assim mesmo ser capaz de fazer dinheiro. Talvez aí entre a capacidade dos marketeiros da editora que a contratou. Mas eu, formada em jornalismo e letras e dona-de-casa, posso afirmar que a linguagem que ela utiliza me faz brochar em vez de atiçar o fogo da minha "deusa interior". Gente, convenhamos, ela chama a diabinha sacana dela de "Inner Goddess", vai ser brega lá onde o Christian perdeu as cuecas! Mas sabendo que o pseudônimo dela quando iniciou a carreira de escritora era " Snowqueens Icedragon", não dá pra esperar outra coisa. Eu imagino que os tradutores responsáveis pelas versões dos livros em outras línguas devem ter tido uma dificuldade tremenda pra versão não ficar tão ridícula quanto o original.
No alto de meus 44 anos, com dois filhos pra cuidar, fico pensando o que tem feito tanta gente/casal ver no livro um novo "Kama Sutra". Abaixo, minhas, repito, MINHAS considerações pra achar o livro um pé no saco (ou , mais na versão do livro, um breguetinho prateado em formato de bolas no fiofó):
- Muito longo pra pouco conteúdo. Sinceramente, três livros com maomeno 500 páginas pra falar a mesma coisa, capítulo após capitulo, que porra...
- A linguagem na maioria das vezes não combina com a situação: " my post coital glow" pra se referir ao sorrisinho nos lábios depois de um orgasmo, "pushing me higher, higher to the castle in the air", pra explicar os momentos pré-orgasmos, causados pelo membro bem torneado e de tamanho considerável, o que não poderia ser diferente pra não estragar a fantasia ilusória das moçoilas virgens ou mulheres mal coitadas.
- A tentativa forçada da autora para criar nomes, como, por exemplo, "Vanilla Sex", pro sexo papai e mamãe, ou "Red Room of Pain", pro covil sado-maso, que possam vir a ser usados por revistas femininas (acho que já estão sendo usados) aumentando as vendas do livro por curiosidade,
- A personagem principal, com 21 anos, no último ano de faculdade de Letras/Editoração, sei lá, com interesse pessoal em literatura inglesa, nunca teve sonhos eróticos, se masturbou, namorou, transou ou tomou umas. A verdadeira falsa pudica, bonita de cair o queixo e levantar pinto, por quem todos os homens a sua volta se interessam, mas que não se sente atraída por nenhum deles, que, diga-se de passagem, são garotos normais, pobres, da idade dela.
- Mas, então, ela entrevista um empresário, que não poderia ter outra estória de vida pra que a trama se desenrolasse: filho adotado ainda pequeno, nos seus vinte e tantos anos já um milionário, sabe pilotar helicóptero e planador, mora em um apartamento que mais parece uma galeria de arte. Tem estilo, dinheiro pra mantê-lo, é lindo, elegante, musculoso, com um chauffeur a tiracolo. Maaaaassss, que por ter sofrido abuso e violência até os seus quatro anos de idade e por ter sido aos 15 seduzido pela amiga de sua mãe adotiva, que o introduziu ao mundo de dominação e submissão típico dos sado-masoquistas, nunca namorou e tem uma dificuldade de gozar se não for causando dor e dominando as mulheres com quem ele faz um contrato pra definir os limites da coisa, porque ele é sádico mas também um gentleman, de fala mansa que nunca perde a compostura, nem a chance de ganhar dinheiro e ser altruísta e ainda investiu no negócio da pedófila que o levou pro mal caminho. Tá bom!
- Aí, ela cai de quatro pelo cara (queria ver se fosse um rico feio ou um bonito pobre) e ele não perde a chance de cair matando em cima. Começam, então, as preliminares intermináveis até se chegar aos finalmentes que tanto as pessoas estão discutindo em fóruns, blogs e revistas. Gente! Pra mim, nada mais é do que narrativa repetitiva de uma maneira
doentiadiferente de se fazer sexo. Se alguém acha que alguma coisa ali pode vir a mudar o rumo de sua vida sexual, ótimo, mas é porque o sexo tá bem capenga mesmo. - Ela nunca tinha tido um orgasmo, mas desde o primeiro encontro, ela é capaz de ter orgasmos múltiplos de todas as formas, em minutos. Nunca fingiu um sequer ou nunca brochou. Parabéns, minha filha!
- Ah, ela é tímida, tadinha! "I blush scarlet", "I blush at the intrusive thought...", "I flush", "I take my blazing face out of the room...", "I can´t look at him.", "I bite my lips","I hide my face", "I look at my hands" e... e ela repete estas mesmas descrições over and over.
- E over and over, ele a presenteia com bens caríssimos aos quais ela diz que não pode aceitar, mas que os aceitará a titulo de empréstimo.
- A dita mantém muita conversa com sua consciência e com a "inner Goddess", numa linguagem meio Jane Austen que não tem nada a ver com a ideia original deturpada de
sacanagemromance erótico . - As descrições do Sr Grey são sempre as mesmas: "He is hot", "...his pants falling from his hips", "the smell", "He cocks his head to one side", "How can he know?", "Oh, no, what´s he doing now?", "What the hell is he doing to me?", "He runs a hand though his hair...", "You completely beguile me. You weave some powerful magic", "How sexy he unwraps, produces a foil packet (camisinha) from his pants pockets". "He makes me so wanton". Sinceramente, essas expressões repetidas on and on, só me fazem perder o tesão de continuar lendo.
- Eu acho gozado que um livro que pretende ser erótico pra donas-de-casa mais parece pornografia para adolescentes virgens chegadas a uns vampiros bem dotados. E eu acho foda não ter pensado nisso antes.
Alguém quer comprar a trilogia por dez paus mais correio?