Comecei as festas de final de ano com o pe esquerdo. Isso seria completamente natural pelo fato de eu ser canhota, mas levando em consideracao a forca do ditado, eu posso considerar que isso nao foi nada bom. Depois de ter pego uma infeccao de ouvido e estar tomando antibioticos, fomos passear no centro da cidade para ver as feiras de natal e almocamos por la mesmo. Decidimos ir a um restaurante que nunca tinhamos ido, chamado “Roses” com o R ao contrario. Pedimos uma sopa de abobora para a Lara, uma salada cesar para mim e o Amanzor pediu uma costela de cordeiro. A sopa chegou e a Lara se negou terminantemente a toma-la. Na verdade, naquele domingo, ela nem sequer almocou visto que se negou a comer qualquer coisa no restaurante. A sopa estava uma delicia. Tinha creme de leite e um unico camarao gigante nadando nela. Eu e Amanzor dividimos a sopa, comemos nossos pratos e fomos para casa preocupados com o fato da Lara nao ter almocado.
Por volta das oito da noite, apos colocarmos a Lara pra dormir, o Amanzor comecou a reclamar que nao estava se sentindo bem e foi assim indo e voltando do banheiro com diarreia e vomito que ele passou a noite inteira. Por volta das cinco da manha e depois de tomar soro caseiro e remedio antivomito, receitado pela Dra. Arlete, ele comecou a se sentir melhor . E eu comecei a me sentir mal. Ou melhor, pior. Foi entao a minha vez de frequentar o banheiro. So que como sou mais fraca, a pressao comecou a baixar muito e comecei a ter febre. De madrugada, passei mal no banheiro. Chamamos a ambulancia, tive exame de sangue e eletrocardiograma feito na minha cama e devido a pressao muito baixa, ganhei um passeio para o hospital. O paramedico que me instalou na maca, sem querer, cobriu minha cabeca com o cobertor e eu fui logo dizendo : "Not Yet". Ai ele caiu na risada e disse que pelo menos eu ainda estava de bom humor. Ja o segundo paramedico se desculpou pelo fato da ambulancia estar pulando muito, afinal eles tiveram que deixar a de ultima geracao para consertar e estavam com a velha ambulancia de guerra. E eu ja estava achando essa o maximo. Chegando na emergencia, nao tinha absolutamente ninguem para atender ou ser atendido. Esperamos uns 3 minutos ate alguem vir abrir a porta. Ainda na maca, fui levada ate uma sala que mais parecia um quartel de tortura de tanta corrente e aparelhos ortopedicos pendurados na parede. Nessa hora, o coracao comecou a disparar e o medao se instalou, pois estava sozinha, mal das pernas e da cabeca, sem conseguir raciocinar direito, muito menos falar alemao. E se o medico nao falasse ingles? Mas ele falava. Bendito ingles. O medico fez a instalacao necessaria para o soro, meio litro, e disse que em um ou dois dias eu estaria melhor, mas nao achei que passaria este tempo no hospital. Fui levada para um quarto com duas senhoras ja instaladas e um cheiro horrivel de ...morte. Eram 4h30 da manha e as 6 uma das senhoras comecou a gritar pela enfermeira, pedindo ajuda e seus oculos. Pelo menos, um pouco de alemao eu aprendi. Foi a minha primeira experiencia hospitalar na Alemanha e posso dizer que o atendimento foi bom, a comida horrivel e as instalacoes muito estranhas. Nao tinha banheiro no quarto, somente no corredor e as senhorinhas nao tomaram banho nos dois dias que fiquei la, nem eu. No horario de visitas, eu abri a janela e os visitantes de uma das senhoras a fecharam. Eu deixei a porta aberta, eles foram la e fecharam, entao eu sai e fiquei no corredor, de pijama e carregando meu soro. Perguntei para a enfermeira se o cheiro nao era da agua podre que estava no vaso de flores. Ela me disse que era o cheiro das senhoras e que iria jogar um spray perfumado no ar. Pensei comigo: -agora ‘e que a coisa vai feder. Ai eu me desesperei, afinal iria passar mais uma noite la. Mas o sono e o tedio eram maiores e, apesar da preocupacao de deixar a Lara com o Amanzor e ele nao poder ir trabalhar, dormi a noite inteira. As 7 da manha, o relogio da Frau Schilling disparou. Pra que?, perguntei eu. E o pior e que ela nao sabia o que fazer, nem mesmo achava o relogio. Toca eu levantar pra desligar o dito.E nao consegui dormir mais. Depois de dois litros e meio de soro, ja me sentia bem, apesar da terrivel dor de cabeca, mas eu queria era sair correndo dali, por isso nao falei para o medico que veio me examinar. E entao tive alta.
Voltando a comida do hospital, esta faz jus a fama de “comida de hospital”. O cafe da manha ‘e o de praxe, pao de forma, manteiga, mel, geleia e wurst ( salsichon), o que nao ‘e nada bom pra quem teve intoxicacao alimentar. No almoco, veio uma bolota fedida de carne, escondida dentro de uma folha cozida de repolho com pure de batatas cheio de graozinhos de erva doce ( onde o CUzinheiro estava com a cabeca?). Me pergunte se eu comi. E o jantar? Foi repeteco do cafe da manha. Agora eu tenho a certeza do que a minha amiga baiana sempre fala, que alemao so tem uma refeicao quente por dia. Mas no hospital tambem? Nem uma sopinha pra esquentar o stongo?
Por falar em sopinha, aquela que me fez passar por todo esse transtorno estava uma delicia. Talvez porque estava pululando de bacterias. E mais uma vez tenho certeza que a Lara, alem de enxergar bem, tem um nariz apuradissimo e um anjo da guarda batuta. E como disse o Amanzor, agora ele entende o porque do restaurante ter aquele nome, afinal te deixa plantado no vaso e seu ...u vira uma flor.
Nossa, como eu ri com este post, apesar da inspiracao para ele nao ter dado prazer nenhum pra vc... Sabia que também sou canhota? ADOREI o livrinho da sua filha, vou fazer propaganda dele no meu blog. Um prazer de te ler e te conhecer! Um beijo, Sandra
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