Inspirada pelo post sobre amizade do blog Wer ist Dona Flor?, resolvi escrever como me sinto morando aqui na Alemanha há quatro anos, longe da família e dos amigos e colegas com quem convivi a maior parte da minha vida.
Sabe-se que, assim como o tempo cura feridas, ele também nos faz esquecer ou pouco lembrar daqueles com quem convivíamos diariamente. Cabe a nós mantermos essa lembrança, esses vinculos vivos. Mas nós quem? Aquele que partiu ou todas as partes envolvidas? Algumas pessoas passam por nossas vidas e vão embora, outras ficam, pois mesmo a distância não permite que se afastem. Tenho amigos de infância que já não via há tempos quando saí do Brasil, mas que ainda hoje pela internet me perguntam como vai a vida e, quando nos falamos, parece que vivemos no mesmo bairro e nos vemos todo dia. Tenho amigos mais recentes que estão sempre presentes, apesar dos milhares de quilômetros de distância geográfica. Fiz novos amigos por aqui, mas a sensação de me manter unida às amizades antigas, me dá a impressão de preenchimento emocional, memória, curriculum vitae, laços importantes que me seguram de pé.
Infelizmente, pior do que ser esquecida pelos amigos é ser esquecida pela família. Tenho a impressão de que os amigos parecem mais interessados em saber como estou do que meus entes queridos. Tenho familiares diretos que nunca me ligaram, nunca mandaram um e-mail pra perguntar se ainda estamos, como ficamos, se ficamos, quando voltamos. Ficam esperando - ou não ficam - que a gente ligue e conte as novidades, ou não estão nem aí. E muitas vezes, parece que estamos atrapalhando.
Quando pergunto como estão e, como boa Arlete, não me limito a ouvir as reclamações e começo a dar palpites, sugestões, opinião ou conselho - como faria se estivesse cara a cara- ouço que "você não está aqui e não sabe o que estã acontecendo" ou, simplesmente, "ah, eu não pedi sua opinião" ou então, desligam na minha cara, o que acho o cúmulo da falta de educação e respeito. E aí eu choro e minha filha me vê chorando e, então, meu amado e honorável marido, como bom engenheiro racional que é, me faz refletir, perguntando: "Será que ao se preocupar com o outro e ao tentar ajudar não é para o outro uma mera intromissão?; essa atitude faz bem a você e ao outro?; ao gastar horas tentando "ajudar" alguém da familia na resolução de seus problemas pessoais, você não está sacrificando sua relação comigo e nossa filha e não percebe os efeitos negativos na nossa família? Você acha que ao ligar pra um familiar e querer ajudar dizendo o que ele NÃO quer ouvir, ele vai achar que você se preocupa mais com ele do que aquele que não está nem aí pra saber como ele está? E pensando nas respostas, decido me afastar mais ainda. E assim, o afastamento geográfico passa a ser também emocional, social, pessoal, humano.
Quando pergunto como estão e, como boa Arlete, não me limito a ouvir as reclamações e começo a dar palpites, sugestões, opinião ou conselho - como faria se estivesse cara a cara- ouço que "você não está aqui e não sabe o que estã acontecendo" ou, simplesmente, "ah, eu não pedi sua opinião" ou então, desligam na minha cara, o que acho o cúmulo da falta de educação e respeito. E aí eu choro e minha filha me vê chorando e, então, meu amado e honorável marido, como bom engenheiro racional que é, me faz refletir, perguntando: "Será que ao se preocupar com o outro e ao tentar ajudar não é para o outro uma mera intromissão?; essa atitude faz bem a você e ao outro?; ao gastar horas tentando "ajudar" alguém da familia na resolução de seus problemas pessoais, você não está sacrificando sua relação comigo e nossa filha e não percebe os efeitos negativos na nossa família? Você acha que ao ligar pra um familiar e querer ajudar dizendo o que ele NÃO quer ouvir, ele vai achar que você se preocupa mais com ele do que aquele que não está nem aí pra saber como ele está? E pensando nas respostas, decido me afastar mais ainda. E assim, o afastamento geográfico passa a ser também emocional, social, pessoal, humano.
Nestes quatro anos de Alemanha, penso que a distância me tirou o direito de participar, de querer saber como está a vida da familia. A distância permitiu que me excluissem. Eu posso contar nos dedos quantas vezes me ligaram pra saber como estamos, pra saber como minha filha está. Eu sei que a ligação telefônica é cara, mas existem hoje em dia outras tantas formas de se corresponder e sei que a telepatia ainda não é uma delas, ao menos, ainda não descobri como funciona.
Eu achava que meu pai era quem causava as brigas em casa. Mas a sua morte fez perceber que ele era o agregador, o que mantinha a familia unida. De fato, a sua morte foi o que causou a desunião da familia, irmãos não falam com irmãos e a discórdia reina. Talvez o pavio curto e o sangue espanhol do meu pai que corre nas veias de todos seus filhos, não nos permitem ouvir o outro sem que alteremos o tom de voz, sem que ofendamos, sem que imponhamos nossas opiniões como mais importantes e mais corretas. E isso acaba gerando os desentendimentos. O fato de eu estar distante físicamente dificulta o cara a cara, a discussão e o perdão imediato, ou só um abraço de desculpas. E todo ser humano sabe que basta evitar o contato e, não só a situação abranda, como o vinculo se desgasta e o laço se desfaz. E assim, a mágoa fica, e corroi e a ferida não se fecha.
E não havendo mais laços, não havendo mais interesse no outro, não havendo mais a sensação de que nossa existência ainda tem importância na vida do outro, que a saudade é só uma palavra que se diz mas não se sente, me faz pensar que ficar por aqui não é tão ruim assim. E concluo que, como diz minha irmã, somos uma mera famILHA, cada um com seu coqueiro, cada um correndo atrás do seu próprio coquinho.
E não havendo mais laços, não havendo mais interesse no outro, não havendo mais a sensação de que nossa existência ainda tem importância na vida do outro, que a saudade é só uma palavra que se diz mas não se sente, me faz pensar que ficar por aqui não é tão ruim assim. E concluo que, como diz minha irmã, somos uma mera famILHA, cada um com seu coqueiro, cada um correndo atrás do seu próprio coquinho.
Oi,
ResponderExcluirDoes this mean you going to stay around???? Hope soo...
Adorei o post, às vezes voçe põe no papel aquilo que vai no meu pensamento, mas não se preocupe todas as familias são assim mesmo e é por isso que são familias, porque se fossem amigos, depois da briga e do distanciamento, voçe esqueçia e nunca mais lembrava que elas existiam....
Bjs
Ei Arlete!
ResponderExcluirBelas palavras, são bem retrato dos nossos tempo. O desafio é saber ouvir, e é isso o que mais me motiva a aprender matematica, rs... parece estranho, mas cada dia vejo que a única coisa certa é o 2+2=4, aprender cada dia mais a raciocinar com modelos ideais, faz vermos a nós mesmos, e introspectivamente ver que algums dão mais bola para o exato, enqunto outros estão se lixando, pois como diz Djvan: "Por ser exato o amor não cabe em si , por ser encantado o amor revela-se...". Estou lendo um livro "Teorema de Fermant" escrito por um jornalista, este que "mastigou" a matemática, recomendatissimo!!!
P.S.: Deixei de ir em SP, para ficar lendo, não gosto de ficar renovando livro na biblioteca hehehe, ai fiz a lista de encomendas pros meus pais, eles trouxeram meus eletronicos da Santa efigenia e granolas da Santa Rosa.
Bjus
Arlete, pra mim com a família foi o oposto. Comentei no blog sobre os "caça-gringos" e parentes super distantes, que jamais tiveram contato comigo, de repente querem firmar amizade comigo e com o meu marido. Estranhíssimo. Não consigo sentir sinceridade nos e-mails ou telefonemas desse povo.
ResponderExcluirQuanto aos amigos e até à vida profissional, eu sinto que estou atingindo um "turning point", um momento em que não terá mais volta. Aquele momento em que não adianta mais sonhar em voltar pra casa e retomar a antiga vida, simplesmente porque ela não estará mais lá. Os amigos não estarão, os contatos não estarão... simples assim.
Beijos.
Joana,
ResponderExcluirVocê disse tudo. Se fosse alguem que não é da família que fizesse isso, já estaria riscado do nosso caderninho, não é?
Ainda não posso te dizer se ficaremos. Segredoooo!!! Espere até semana que vem.
Gui,
Ser racional, às vezes, faz com que vejamos as coisas de forma mais exata, como realmente são e não ficamos procurando cabelo em ovo. Infelizmente não sou assim, mas meu marido é. E você deve ser também, não é? Feliz da sua companheira, pois meu marido é o meu equilíbrio.
Dona Flor,
Meus problemas nem são com os parentes distantes, mas com os irmãos, cunhado(a)s e mãe, por incrível que pareça. Por isso, dói tanto.
Bjs a todos.
pode acreditar que isso não acontece só com vc... a palavra "família" é muito teoria e pouca prática, cuidemos cada um de nosso pequeno núcleo aproveitando a oportunidade de fazer diferente daqueles toscos exemplos de famílias formadas "no tapa". Beijos e tudo de bom!
ResponderExcluirOi Arlete,
ResponderExcluirJá vim aqui várias vezes, mas esse seu texto pede um comentário meu.
estou na Alemanha há menos de um mês e já sinto o que vc descreveu. Aliás, muito antes de vir, já sabia que isso iria acontecer.
Enquanto no Brasil, ninguém nunca me perguntou se estava feliz com a minha escolha, ou sobre meus planos e meus anseios. estavam todos preocupados em saber "quando eu começaria a trabalhar" (interprete por aí todos os interesses por trás dessa informação...)
Mandei email para tios e primos e nenhum me respondeu. Ok, cada um com sua vida e sua rotina. Mas, já espero que a distancia só aumente o silêncio.
tem um post agendado sobre isso tb e vou um pouquinho mais além.
Sua irmã está certíssima.
bjs
Tenho a mesma sensação com parentes aqui. Gente que não se interessa se estamos bem ou não, que nunca liga para saber se meu filho vai bem, que aparentemente não dá a mínima para a gente. E no entanto, todas as vezes que a gente se encontra, é uma festa, é uma celebração. Talvez seja melhor assim: aproveitar os poucos momentos bons que temos a chance de desfrutar juntos.
ResponderExcluirMas ainda assim, entendo sua dor. Afinal de contas, qual é o custo de pegar o telefone e ligar, ainda mais quando moramos na mesma cidade, ou no mesmo estado ou no mesmo país?
De qualquer maneira, ainda posso dizer que tenho duas primas maravilhosas. Interessante que não se bicam entre si, mas ambas estão sempre interessadas em nós, ligam, perguntam, querem se encontrar.
Alessandra,
ResponderExcluirVoce está certa! Com as perguntas que meu marido me fez, parei e pensei no quanto estou fazendo mal a minha familia, se preocupando demais com outros que não reconhecem que a minha dita "intromissão" é minha forma de demonstrar interesse.
Eve,
Ninguém da minha família (irmãos e agregados) parecem ler o meu blog ou responder meus e-mails também, ao menos, ninguém deles faz comentários ou muda de atitude.
Zarastro,
Isso acontece comigo também, mas tem que partir de mim estar presente. Da ultima vez que fui ao Brasil, tive irmãos que nem sequer ligaram pra ir me ver. Eu tinha viajado um dia inteiro com uma filha de 4 anos e achei desaforo eu ainda ter que me deslocar para ve-los. Ao dizer que ia ver um deles, mesmo assim, ouvi que ia sair pra fazer compras. Então, tá.
Beijos a todos
Arlete,
ResponderExcluirfamilia é sempre muito complicado mesmo. Minha irma uma vez me disse que eu tinha vindo embora e que nao tinha o direito de participar ou cobrar qualquer coisa em relacao a vida dela. Naquele momento me doeu muito, por que pra mim distancia nao tem nada a ver com amor, afinidade, cumplicidade. Infelizmente nem todo mundo pensa como a gente e cada um sente a separacao de uma forma e traz essa dor da saudade (por mais que neguem que ela existe)da maneira como consegue trazer. Felizmente há pessoas especiais espalhadas por toda parte e temos a felicidade de encontrar amigos que valem tanto quanto irmaos. Tenho certeza que voce será feliz em qualquer lugar onde estiver pois tem uma filha linda e um marido que te ama, sua nova familia e é para essa que voce precisa viver agora, assim como eu aqui.
Beijo grande!