quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fidelidade

O marido de uma amiga alemã é representante comercial da Kraft foods e ela estava comentando que não aguenta mais o porão dela todo lilás dos produtos da Milka. Além do mais, o marido não admite que ela compre qualquer outro produto de marcas concorrentes. Quando veio aqui em casa, ela comeu um patê de queijo com especiarias e disse que era melhor do que o Philadelphia da Kraft. Ela comprou e escondeu no fundo da geladeira para o marido não achar, pois uma outra vez ele fez um escândalo porque ela comprou um chocolate, que ela adora, de uma marca concorrente. 
Um dia desses, fui levar o Amanzor até o trabalho e caí na gargalhada quando vi um caminhão da UPS parando em frente ao prédio da DHL para fazer uma entrega (pena que estava sem a càmera). Ele disse que não foi a primeira vez e que isso já deu pano pra manga. O Presidente disse que é inadmissível que funcionários façam uso dos serviços da concorrente. Mas muitas vezes a escolha de quem faz a entrega não é do comprador e sim do fornecedor. De qualquer forma, o funcionário-comprador, na dúvida de quem presta o serviço, não deveria pedir para que a mercadoria fosse despachada para seu endereço comercial. Eu acho que o presidente está certo. Seria muito chato a UPS fazer uma campanha com uma foto de um de seus carros fazendo entrega em um prédio da DHL. Entre quatro paredes é outra coisa, pois encontrar  produtos da Ferreiro Roche dentro da geladeira da família de um representante da Kraft é um evento mais íntimo e natural. 
Ser infiel pode minar um relacionamento pessoal ou profissional e é sinal  de que alguma coisa está errada , deixando a desejar ou é pura sacanagem. Mas ser um consumidor infiel nem tanto. Afinal, como consumidores, temos o dever e o direito de experimentar e  decidir pelo que melhor nos satisfaz, fazendo até com que o fornecedor reveja seus produtos/conceitos/atitudes e busque melhorar o produto/serviço pra satisfazer e trazer de volta seus clientes - o que não é má idéia de se fazer no pessoal também.
Nos casos acima,  assim como num caso de infidelidade,  o problema maior está sempre na descoberta. Trazer a prova do crime pra porta ou pra dentro de casa/empresa é querer chamar o parceiro/empregador pra briga. Isso pode dar uma  cara feia, uma discussão mais feia ainda, uma advertência desnecessária, uma  simples dor de cabeça e, na maioria das vezes, um belo pé no traseiro. E aí a merda tá feita.

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