quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Não somos pescadores de Geldfish

Eu acho que tem gente aí no Brasil  que acha que no rio Reno corre dinheiro e a gente nada nele.  Só porque moramos na Europa, pensam que eu ando de carro importado ( se bem que aqui carro nacional é Mercedes, Audi, BMW), de salto alto, com roupas de grife, pendurada de jóias, com cabelos e unhas feitas toda semana. Pensam que o meu dia é ir às compras, ir à Academia, sair com as amigas (se bem que aqui isso é normal mesmo em dia de semana), passear com a Lara e a babá a tiracolo, enquanto carrego sacolas e mais sacolas de lojas carésimas e por isso, acham que não tem problema nenhum exigir que "colaboremos" com uma quantia aqui outra ali ou que estamos em situação milhares de vezes melhor do que a deles, pobres coitados, ou que a inveja os cegou tanto que nem mesmo contato tem interesse em manter com a gente.
Ao contrário do que se passa na cabeça dessas pessoas, que deixam a inveja falar mais alto e anuviar a realidade, nossa vida não é a mesma levada pelos VIPs europeus e é, na realidade, muito mais simples do que a que levávamos na terrinha. Viemos para cá, meu marido como empregado ( e não diretor, VP ou dono) de empresa multinacional, e eu como dona-de-casa e mãe 24 por 7. A rotina dele é de casa para o trabalho e vice-versa e de ônibus, diga-se de passagem. Temos um VW, que só eu dirijo porque o marido não teve tempo hábil de tirar a carteira alemã de tanto que tem que trabalhar e viajar (agora nem isso) a serviço.
O meu jeito de ganhar dinheiro é não gastá-lo ou ao menos tentar economizá-lo. Limpo a casa, lavo roupa, passo, faço compras sempre procurando as ofertas. NUNCA tive empregada aqui, porque elas cobram 10 euros a hora e quem faz a hora são elas. Prefiro, por isso, limpar a casa eu mesma e economizar ou gastar o dinheiro em algo mais duradouro - até já me passou pela cabeça ir fazer limpeza na casa dos outros, porque nem como professora no Brasil eu ganhava o equivalente a 10 euros por hora. Nunca tive babá, baby-sitter, au pair, nem mesmo pra ficar com a Lara à noite pra jantarmos fora como um casal.  Levo a Lara pra escola, busco, levo de novo para as atividades extras. O chauffeur aqui sou eu.
Minhas compras de roupas e sapatos se resumem as lojas populares e me nego terminantemente a pagar mais do que 20 euros em uma peça de roupa ou sapato, muito menos para a Lara. NUNCA fiz limpeza de pele por essas bandas, meus batons não custam mais do que 3 euros e não compro produtos de beleza de marca, pelo contrário, uso no rosto o que minha filha usa na bun...no corpo. Em quase cinco anos de Alemanha, fui ao cabeleireiro cortar os cabelos uma vez e me arrependi. Corto meus cabelos com o meu cunhado nas poucas vezes que vou ao Brasil. Em todo esse tempo, fiz massagens 2 vezes sendo uma delas em um hotel numa viagem  à Espanha como uma presente do meu querido marido e a outra não por luxo, mas por necessidade; tive minhas unhas pintadas 2 vezes por uma brasileira (10 euros) e uma outra vez porque ganhei de um Nagelstudio (salão de  manicure/pedicure) do bairro uma manicure sem direito a tirar cutículas (costume alemão, que custa no minimo 15 euros) por eu tê-la indicado a algumas amigas minhas mesmo sem nem ter ido lá antes.
Eu sei que é preciso ter um pouco de vaidade e se voltar um pouco pra si de vez em quando, como diz meu próprio marido, mas eu prefiro não ter luxo e - quando dá -  passear  e viajar. Nossa vida aqui não é definitiva e precisamos também nos preparar para qualquer possibilidade ou eventualidade, pois afinal estamos em uma terra estranha aos nossos costumes e leis e, sem dominar o idioma, sempre temos que contar com alguém para nos das suporte, o que não é barato. Além do mais, tenho uma filha pra cuidar e um na barriga e o único "who brings home the wurst" é o meu marido e se algo der errado, estamos fu..ritos. Eu tenho o luxo de dizer que não sou uma desempregada e sim que optei por não trabalhar. O que não quer dizer que sou vaga. Meu trabalho consiste em gerenciar a casa, a filha e a barriga, no momento. Não nadamos em dinheiro e nem pescamos "Geldfish" no Reno  e nem de longe costumamos esbanjar em festanças, roupas de grife e quinquilharias de beleza. Ao contrário, os únicos momentos que consideramos indulgências são ir a restaurantes - às vezes - e viajar. Sem luxo, sem frescuras. Não dá pra negar que temos a sorte de viver num lugar em que outras pessoas vem passar as férias e onde a qualidade de vida por si só já vale muito. Então, para aqueles que destilam suas energias negativas, ou que voltam seus olhos gordos em nossa direção, repensem o seu alvo, reavaliem a realidade e vai ver se eu tô lá onde o rio faz a curva.

10 comentários:

  1. Querida Arlete, com a gente acontece sempre. Quando viemos para cá, todo mundo dizia que éramos loucos. Depois, queriam ver fotos da onde morávamos, da casa e de tudo que conseguimos comprar aqui com muito sacrifício.Bem, nao demorou muito e nunca mais os "amigos" entraram em contato com a gente. Nao ficamos tristes nem um pouco, eles tem pobreza de espírito!! Nao somos ricos, longe disso, só queremos uma vida melhor para os nossos filhos,e estamos conseguindo com muito "sangue, suor e lágrimas".Aos parentes e amigos só tenho a disser:schade...
    Beijinhos para vcs!!!

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  2. bem isso . Engraçado que qdo eu morava no Brasil , morava num apato de 2 quartos dormitórios, sacada , cozinha , sala e lavacao e na Alemanha: HAHAHAHAHAHAHAHA Posso chamar de Flat? Fica pelo menos mais chic do que "quartinho" HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.... Carro? automovel? So meu VW que eu tinha no Brasil. Na Alemanha ando com coisa bem maior: de trem e de bonde HAHAHA , so que como passageira . HAHAHAHAHA ;) .... Santa ignorancia. Só quem ja viveu fora pra saber que os frangos assados nao voam pelos ares na Europa. (Essa frase minha mãe ja dizia em 1979 qdo foi ao BRASIL pela primeia vez (ela é alemã) e as pessoas achavam que ela era rica HAHAHAHA :P

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  3. Ai vc ve quem sao os "amigos" de verdade. Nenhum de meus amigos verdadeiros no Brasil pensa uma coisa dessas, e quem dira joga olho gordo. Nos estamos conquistando nossas vitorias aqui, e eles la no brasil tb e nos alegramos por isso. Cada um na sua realidade, do seu jeitinho e com muito esforco. Quem pensa o contrario ou joga olho gordo, bem....eles sao o RESTO. Nunca liguei pra isso e nunca vou me estressar com esse tipo de pessoas. Relaxe tb que é o melhor pra essa barriguinha! ;) bjs!

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  4. Clap! Clap! Clap! (isso foi som de palmas. rsrsrs)
    Eu poderia ter escrito esse texto, sem a parte dos filhos, claro. Mas, poderia.
    Pq as pessoas são assim, né? Acho que se parassem para viver a sua vida e não se preocupar com a dos outros, teriam vidas melhores.
    E para nós, que vivemos na Europa, somos ricas, temos carro importado e motorista, muita sorte, sal grosso e fita vermelha para espantar essa energia negativa que recebemos.
    Beijos! E continue firme com os seus propósitos. Isso é o mais importante.

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  5. Arlete, adorei o texto e me identifiquei com TUDO! Nossa, a gente tem mesmo muito em comum até na energia negativa que o povo destila achando que eu to nadando no dinheiro por aqui. hehehehe
    Beijos

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  6. só falta comer menos carboidratos para economizar mais... hahaha
    bjos, luciana (sobrinha-sem inveja)

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  7. só falta comer menos carboidratos para economizar mais... hahaha
    bjos, luciana (sobrinha-sem inveja)

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  8. Caracoles! Alguém deve ter pisado firme nos seus cascos, não é comum ver você num registro como esse.

    De resto, desde que minha esposa viveu em Paris eu sabia - primeiro por cartas, depois por vivência - que o povão é tão f*d*do lá quanto cá. De maneiras diferentes, por motivos diferentes, mas quase que igualmente f*d*do. Em alguns casos, até, é igualzim aqui: para mais detalhes, ver o filme "O Ódio" (La Haine).

    Interessante como o seu relato mostra como a vida dela lá e a sua aí são convergentes. E isso é algo que vocês duas levarão para o resto de suas vidas. E isso não tem penduricalho, massagem, corte de cabelo ou luxo que pague.

    Tem outras considerações que gostaria de fazer sobre emigrar (tenho algumas experiências de pessoas próximas), mas tenho um certo medo de ferir sensibilidades. Se você quiser, mando depois por i-1/2.

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  9. Ola Arlete! Meu marido e eu, mudamos em junho/2010 para Königswinter pois recebemos uma proposta de trabalho na mesma empresa. E em tao pouco tempo ja sinto muito do que vc comentou no seu texto. Falam muito que ganhamos na loteria... e no fundo foi isso mesmo, estamos curtindo e super felizes pela oportunidade que nos foi dada... agora o que temos a fazer eh aproveitar essa oportunidade!!!!... e deixar os outros pra la...
    Um abraco, Ana.

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  10. Olá Ana Paula,
    Voce mora do outro lado do rio aqui pertinho de casa!!! É capaz até da gente poder se ver dando tchauzinho.
    Me escreva contando mais sobre a sua vinda para cá.
    Abraço

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