quinta-feira, 8 de abril de 2010

Berlin até que enfim!

Depois de quatro anos morando aqui, resolvemos visitar a capital no feriado prolongado de Páscoa. Ao comentar com o vizinho que íamos conhecer Berlim, ele disse: -"Ah, vocês vão ficar lá um mês no mínimo, não é? Ele tinha razão. Quatro dias foi só para dar o gostinho da cidade. Quem leu meus posts sobre Paris pôde sentir como fiquei decepcionada com a capital francesa e por isso protelamos conhecer Berlim . Mas foi completamente diferente.
A primavera ainda não chegou por aqueles lados, talvez porque o inverno lá seja mais rigoroso do que em Bonn. As árvores ainda não ganharam o "neue grün" - verde novo - e nem o colorido das flores está saltando aos olhos, mas a história que emana de suas ruas pintam a cidade de cores vibrantes, apesar da cidade inteira parecer um canteiro de obras.
Havia dezenas de monumentos e prédios sendo restaurados e reformados, dezenas de construções e até escavações. O choque harmônico entre o velho e antigo e o novo e moderno é intrigante. Tudo é grandioso: ruas largas, prédios enormes, esculturas, monumentos, história, história, história. Não vou entrar em detalhes sobre a cidade, mas falar sobre a minha experiência nos quatro dias que passamos por lá e que me deixaram com vontade de voltar.
Resolvemos ir de avião para ganhar tempo, não cansar tanto e não gastar tanto - o que parece uma contradição se levarmos em conta o preço da passagem, mas tempo é dinheiro. A viagem de avião leva ao todo, porta à porta, quatro horas, mais gastos com transfers; de carro, com criança, mais de seis horas, gasto com gasolina e estacionamentos ( mais caros do que o transfer), desgaste do carro e da motorista que vos escreve; e de trem, no feriado, a passagem estava mais cara do que de avião, além de ser mais demorada e desconfortável. Saímos de casa às 12h30 com airport transfer, o avião decolou às 14h20 e, depois de uma hora de vôo, chegamos em um dos dois aeroportos da cidade: Schönenfeld. Lá compramos o Berlin Welcome Card (BWC) enquanto esperávamos o transfer até o hotel (quem disse que alemão é sempre pontual?). Com este cartão, pode-se circular em todos os meios de transporte e ele ainda dá descontos de no mínimo 25% em atrações e restaurantes em Berlim e  Potsdam. Além disso, não se perde tempo comprando passagens nem procurando o caminho mais adequado para se gastar menos - lembrando que, por ser feriado, a cidade estava abarrotada de gente. Poderíamos usar o cartão para ir do aeroporto até o hotel com transporte público, mas demoraria muito. Por isso, e por que taxí é bem mais caro, reservamos o transfer.
Tivemos a sorte de pegar um motorista que funcionou como guia turístico. Ele ía contando a história dos pontos pelos quais passávamos e já deu pra ter uma idéia de onde ir logo que chegamos ao hotel. Fizemos reserva no NH Berlin Mitte, pois fica bem no centro perto do Checkpoint Charlie e com isso ganhamos tempo. É um hotel quatro estrelas e tivemos sorte de pegar uma diária inferior a de hóteis desconhecidos de três estrelas, com café da manhã incluído, um set inteiro do minibar de graça, late checkout e restaurante no local. Quatro preocupações a menos: onde tomar café, se segurar pra não consumir os produtos caros do minibar, onde ficar até ter que ir para o aeroporto no meio da tarde e onde jantar depois de andar pra caramba e estar verde de fome. Aliás, comemos super bem. Prima!!!
Deixamos as malas no hotel e fomos passear nas redondezas. Andamos até a Potsdamer Platz, de lá pegamos o ônibus 200 e fomos até a estação do Zoo e de lá pegamos o ônibus 100. Estas duas linhas de ônibus normal funcionam como sightseeing tour. Elas passam pelos principais pontos turísticos da cidade e os ônibus são double decker. Descemos próximo ao Brandenburg Tor e andamos pela Unter den Linden até o hotel. Prático. Por onde andávamos tinha o urso (Bär, em alemão, pronuncia-se Bér, de Berlim) símbolo da cidade, com designs variados. A Lara adorou e eu também.
No sábado, resolvemos comprar os tickets com desconto do sightseeing tour hop on/hop off da BBS no próprio hotel. Desnecessário. Andamos até o Checkpoint Charlie, dali até a exposição a céu aberto "Topografia do Terror", na área onde foi o quartel general da Gestapo e da SS durante a Segunda Guerra e onde ainda tem um pedaço do muro de Berlim mas em péssimo estado devido à ação dos caçados de souvenirs, os chamados "pica-muros"(wall-peckers). Andamos até a Potsdamer Platz para pegar o ônibus do sightseeing e de lá só descemos na Ilha dos Museus, pois eu queria ir ao museu da DDR. Ele estava lotado e achamos melhor não entrar. Fomos até o Sealife pra fazer um passeio pra Lara. Nada especial, visto que tem um do outro lado do rio aqui em frente de casa. Mas queriamos ir ao Aquadom, um elevador dentro de um tubo gigantesco que é um aquário. Pra mim, foi o maior engodo e acho que não só pra mim, porque as pessoas que saiam do elevador não tinham cara de quem se divertiu. Saímos de lá e pegamos de novo o sightseeing tour. Passamos por vários pontos turísticos sem descer, daí as fotos embaçadas, tiradas de dentro do ônibus. Raramente vimos casas, pois Berlim foi completamente arrasada pela guerra e na sua reconstrução tinham que tirar proveito de espaço, material e dinheiro. Acho que por isso, tem muito predião e conjuntos habitacionais, principalmente em Berlim Oriental, onde o povo tinha que, supostamente, viver igualitariamente.
Descemos no Checkpoint Charlie, Amanzor e Lara foram para o hotel e eu fui para o Museu do Muro que conta a história do muro (dãã) e das tentativas e sucessos de fuga antes e depois da sua construção, uma mais louca do que a outra: de balão, por mergulho no rio Spree, por túnel, de roldanas, pulando de janela de prédio, atravessando os checkpoints dentro de porta-malas, malas e esconderijos em carros e as mais às vistas, simplesmente pernas pra que te quero, pulando as várias cercas de arame farpado e correndo o risco de ser alvejado e se ralando todo. Muito interessante, chocante e intrigante. Eu tenho uma curiosidade mórbida pra saber como era a vida na Alemanha Oriental e no tempo da guerra. Se eu acreditasse em vidas passadas, diria que vivi em Berlim naquela época, mas certamente não era ninguém com coragem suficiente para enfrentar os caras, nem era um dos caras, tenho certeza.
No domingo de Páscoa, depois de ajudar a Lara a encontrar os ovinhos que o coelhinho espalhou no quarto do hotel, fomos ao Zoo de Berlim ver o Knut. Ele está acabado, coitado. Pra mim, zoo é tudo igual e já comecei a ficar irritada porque eu queria ir até Potsdam ver o palácio Sanssouci. Pegamos o Strassenbahn - trem de superfície - com o bilhete do BWC e chegamos na cidade em 40 minutos.  Além dos palácios, Potsdam é famosa por sediar produções de filmes internacionais, tipo uma Hollywood européia. Fizemos um  sightseeing tour com hop off mas sem hop on, porque era o último, teríamos que voltar de ônibus, mas também sem  precisar pagar. Então, descemos no Palácio Sanssouci, mas pela hora os ingressos já estavam esgotados. Por sorte, ao retornarmos ao ponto de ônibus, conseguimos entrar numa ala do palácio que abriu ao público recentemente. Lindo, mas não pode tirar foto (claro, senão eles não vendem os postais,souvenirs e afins). A riqueza dos vários palácios da cidade, pertencentes ao rei da Prússia, Frederico, o Grande (pra mim, uma necessidade de compensar algo pequeno), é de matar de inveja. Conversando com a vigia, ela disse que o homem tinha mais de 30 palácios só no estado de Brandenburg. É mole? A época melhor pra se visitar os palácios e seus jardins é mais para fim de abril pois antes disso dá a impressão de que estão mal cuidados por só ter árvores peladas , pouco verde, nada de flores e nem todas as fontes estão ativas.  Potsdam é uma cidade pra se visitar com calma, talvez dois dias sejam suficientes, mas numa única tarde,...só podemos dizer que pusemos o pé lá. Ah, lá ficava um dos quartéis da KGB durante a guerra fria onde, dizem, John Le Carré, espião britânico e escritor (The spy who came in from the cold) ficou preso. Tem um bairro inteiro com casas russas  típicas da Sibéria. Tem também muitos holandeses e até uma área com arquitetura holandesa, pois Potsdam fica em uma ilha com um terreno bem parecido com o dos Países Baixos e muitos engenheiros holandeses daquele país  foram levados para desenvolver a cidade.
Retornando de Potsdam, o Amanzor e a Lara (de novo) foram para o hotel e eu fui bater perna. Fui até o Dom - a Catedral - mas estava tendo missa e não podia entrar. Ã? Eu, sinceramente, não entendi. O padre estava rezando pra quem? Peguei o sacratíssimo ônibus 100 e desci no Reichstag - sede do governo. Eram 19h10. Entrei na fila e só depois de duas horas em pé é que consegui entrar. Mas aí já estava de noite e um frio de rachar e não consegui ver muita coisa, além de ter medo de altura, o que veio a piorar as coisas. Tem certos passeios em Berlim que não dá pra se fazer em feriados. Este é um deles. Saí de lá e perdi o ônibus 100 (ele de novo). Resolvi andar a pé até o hotel, mais ou menos dois quilômetros, às dez da noite. Faria isso em SP? Nem pensar!
Na segunda-feira, nosso transfer nos pegaria às 15h30. Então, fomos até o Museu "The story of Berlin". Super. Adorei. Só me senti lograda (mea culpa, não me informei direito) pela visita ao Bunker. Achei que era da Segunda Guerra, mas na verdade é um abrigo contra ataque nuclear, inativo e ineficiente construído em 1974, durante a Guerra Fria. Nada funcionaria se tivesse que ser usado de verdade (ainda bem que nunca foi preciso, pois não acomodaria nem 1% da população). Como só existem quatro espalhados pela cidade, com capacidade para 3600 pessoas cada, com somente 4 banheiros e uma cozinha (ui), não sei o que seria pior: morrer imediatamente pela radiação ou lentamente em duas semanas sufocado pelo calor e fedor. Outro ponto interessante é o Trabant, o Volkswagen da Alemanha comunista. Este carro tem a carroceria de fibra plástica e para se ter um tinha que esperar uns 12 anos além de pagar por ele o equivalente a 20 salários mensais de um trabalhador qualificado. Lembro que quando trabalhava na Cultura Inglesa, tinha um professor que era alemão e que disse que quando o muro caiu, os alemães orientais vieram para as autobahns com os "Trabis" e causaram muitos acidentes, pois eles não tinham noção do que é velocidade, já que a velocidade máxima do carrinho era 120 km/h. Hoje é peça de museu e relíquia, além de se poder fazer um tour com ele por Berlim, que se chama "Trabi-safari".O resto da exposição é  muito bem montada, com sons, imagens,  e interatividade.

Corremos para o hotel e faltando cinco minutos para as 15h30, o motorista ligou falando que chegaria às 16h00. Chegou às 16h15 achando que o nosso aeroporto fosse o Tegel, que é o mais próximo, mas era o mais longe. Mesmo assim deu tempo. De novo: quem disse que alemão é pontual?
Não visitamos muitos dos lugares que gostaríamos: museus de arte e afins, palácios, shopping centers como o KaDeWe, monumentos, exposições, igrejas. Mas isso é um bom motivo pra voltar lá algum dia - no plural.

Aqui, as fotos de Berlin...da.

7 comentários:

  1. Amei as fotos!! Também quero muito voltar pra Berlin, adorei! =) E falta TANTO pra eu ver... ai ai

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  2. Perai!!!
    Vc esteve em Berlin na páscoa e nem me avisou?????

    Eu poderia te fazer companhia, vc poderia me visitar, eu poderia te mostrar alguns lugares... Tb ando muito em Potsdam porque meu cunhado mora lá!

    Humpf! Fiquei de mal. :)

    Bjs!

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  3. Eve, puxa vida! Eu levei duas malas comigo hahaha e o tempo foi curtíssimo. Mas fica pra próxima, pois se depender de mim, vai ter.
    Não fica de mal não.
    Bjs

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  4. Só para constar: moro a 300m do Memorial do Muro. 300!!!! Humpf de nv!

    Duas malas? Podiam ser quatro! rsrsrs

    Vou cobrar a próxima! ;)

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  5. Nossa! Você mora perto do Checkpoint Charlie? Se for, era pertinho do hotel. Raios.
    As malas a que eu me referi são a malona sem alça e a malinha sem alça: marido e filha. hihihi
    Bjs

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  6. Opa, valeu a dica. Setembro tô lá, chefe mandou; que bom que vai ser cultural também. Bjo.

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  7. Eu sei que as suas malas são essas. Dia 20, recebo Liza (delirantementefeliz), marido e filho aqui em casa... =P
    Joga Jasmunder Str. no google maps que vc descobre o qto perto estou de quase tudo de bom aqui em Berlin. 5 minutos de carro da estação central, AlexanderPlatz, Ilha dos Museus, NikolaiViertel... ai ai.
    Na próxima a gente se encontra!
    Beijos!

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