quarta-feira, 19 de maio de 2010

Episódio 2 - Coisa de grávida que trabalha

Eu  posso dizer que a minha gravidez foi tranquila, mas não posso dizer que o período da minha gravidez foi tranquila, pois ter que acordar cedo, preparar aula e trabalhar de segunda a sábado, às vezes mais de 8 horas por dia, com intervalos raros de 20 minutos entre uma aula e outra, mal tendo tempo para comer não é tranquilidade. Tá, tá, tá, gravidez não é doença, mas ter que ir contra os hormônios e contra a vontade de ficar em casa, de só sair pra ver roupinhas e trecos para receber o bebê, querer dormir e ficar o dia inteiro alisando a barriga não é fácil. Eu não tive os sintomas de alteração de  pressão ( a minha é  super baixa), enjôos e ânsias que muitas pré-mães reclamam. Mas tive dores horríveis no lombo, devido a um problema prévio na coluna, e um sono incapacitante. Com o avanço da gravidez, começaram os problemas de refluxo, mas nada insuportável.  Apesar disso, faltei  três dias somente em 8 meses de gravidez, além de 7 dias corridos devido à licença Gala, pois, depois de 12 anos juntos,  casamos no civil no dia 28 de maio de 2005 e a Lara nasceu no dia 23 de junho.
O que doía mais do que as costas era ter que sair pra trabalhar. A dificuldade para encarar o batente era mais um problema de relacionamento hierárquico, que se concretizou em 3 situações graves para uma  Arlete grávida que desde que nasceu fora incapaz de se impor e que sempre colocava o papel de funcionária acima do papel de mulher, grávida e esposa.
A primeira situação foi receber uma carga horária de 32 horas-aula contra as 24 horas  de disponibilidade que eu havia apresentado. Ao pedir que ela fosse reduzida, ouvi da gerência, aos gritos, que, se eu não aceitasse, algumas "questõezinhas" em relação a minha pessoa seriam revistas (ãh?). Era hora de eu me levantar e dizer "então, reveja as questõezinhas e depois fale comigo, pois não vou aceitar da forma como está". Afinal, mandar embora ela não podia mesmo. Mas a babaca aqui, enfiou o rabo no meio das pernas e engoliu a carga horária com farinha. Dentro dessa carga horária de 32 horas (sem contar o tempo para preparação das aulas, atendimento de alunos e pais de alunos, correção de provas, lançamento de notas, aulas de reforço, testes de entrada, atendimento na recepção e  treinamentos), havia sequências de aulas com, por exemplo, uma aula que terminava às 20h em um prédio e outra que começava âs 20h em outro prédio. Eu fui a primeira grávida capaz de se teletransportar  e ainda mais carregando malas. Foi preciso a intervenção de uma professora mais antiga e amiga da chefona para resolver a questão.
A segunda situação foi a seguinte: por volta do sexto mês, tive uma dor intensa na barriga durante a primeira de 4 aulas de um dado dia. Fui até a gerência para pedir para ir para o hospital e o que ela me disse foi: "Ah, você vai ter que dar a próxima aula, porque eu não tenho ninguém para te substituir." E a babaca aqui, mais uma vez, enfiou o rabinho entre as pernas e foi chorando para a sala dos professores. Fui salva pela minha querida amiga, Pat Nero, que disse que estaria livre depois das 5 da tarde ( eram 4 horas) e que assumiria meus grupos até o fim do dia. Voltei para a sala e dei aula até 5 horas e depois sai ( não correndo, porque não conseguia) para o hospital. A dor não era relacionada com a gravidez, mas sim muscular. Mas e se fosse sério?
Terceira situação. A gota d"agua foi meu xixi. Eu sempre fui muito mijona sem nem mesmo estar grávida. No oitavo mês, com uma barriga enoooorme, tinha muita vontade de ir tirar água do joelho. Maaaaas, fui proibida pela gerência de sair para fazer xixi durante a aula. Segundo ela, houve reclamações de um grupo de alunos adolescentes (me poupe, o que adolescente mais gosta é de professor fora da sala de aula). Ela disse que eu tinha os intervalos para ir ao banheiro e que um professor nunca deveria sair da sala de aula.
Durante toda a minha gravidez, eu tive acompanhamento de uma psiquiatra, que quando eu contava esses causos para ela, ela insistia em me afastar e eu dizia que não, que ao me afastar, quando retornasse teria mais trabalho. Nessa última situação, ela disse que se eu não aceitasse um afastamento de 15 dias - que venceria exatamente no dia do início da minha licença Gala de 7 dias -  eu não precisaria mais retornar ao consultório dela, pois ela não mais me atenderia. Ao menos uma vez não fui babaca e aceitei a oferta. No mesmo dia conversei com o Dr. Marcelo que disse que me afastaria após o fim da licença Gala até o parto devido a questões diretamente relacionadas com a minha gravidez. Ou seja, eu não retornaria a ver a cara da dona de engenho e de sua capataz ( a assistente da gerência) nos próximos 6 meses!
Ao chegar em casa, aguardei o Amanzor chegar do trabalho para poder ligar para a gerente e dar a notícia. Quem teve o parto foi ela. Ela teve um ataque do outro lado da linha, dizendo que eu não tinha o direito de fazer isso com ela. Eu sugeri que uma amiga, que estava prestes a retornar da licença maternidade, assumisse as aulas e ela gritava dizendo que não era eu quem decidia. Eu disse: ´'É verdade. A gerente é você. Você tem que dar a solução para o problema.Muito obrigada, tenho que desligar." Mulher com bebê na barriga arranja forças das entranhas. E mulher com poder  pensa que tem o rei na barriga!
Continua...

3 comentários:

  1. Se fosse eu, eu chegava na voadora nessa gerente cuzona.

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  2. Que delicia você desabafar aqui no blog depois de todos esses anos...
    O mundo deu várias voltas, mas você não vai voltar nunca a estar numa situação como esta!
    Beijinhos

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