segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Betreuungsgeld/Kindergeld. Quem paga por isso?

O governo alemão paga mensalmente para cada "criança" o Kindergeld  e, a partir de agosto de 2013, passará a pagar também o Betreuungsgeld. 

O que é Betreuungsgeld?


É uma ajuda de custo de, no máximo, 150 euros mensais pagos à família que optar por manter a criança de até 3 anos em casa. A ideia é tentar igualar a oferta e demanda de vagas em bercários e pré-escolas. Ou seja, um dos pais fica em casa pra cuidar da criança e a familia passa a receber este valor para não concorrer a uma vaga no sistema. 

A Alemanha é um Estado social e democrático e, portanto, os investimentos na área social são pesados. A partir de 2013, por exemplo, toda criança até três anos (os chamados U3 - Unterdrei) terão direito à  uma vaga no sistema educacional. Até este ano, esse direito da criança  e obrigação do Estado é a partir dos três anos de idade. Como não há  possiblilidade imediata de se criar 180 mil vagas (segundo os dados do próprio governo) para absorver a demanda, criou-se a alternativa de adoçar a boca dos pais que não precisam ou não querem colocar seus filhos no sistema, deixando as vagas disponiveis para quem precisa ou quer.continuar trabalhando. 
A engrenagem politico-econômico-social alemã é bem lubrificada, mas, muitas vezes, existem falhas e criam-se saídas que nem sempre são, à primeira análise, satisfatórias e eficientes. O Betreuungsgeld, bem como todas as medidas voltadas para a manutenção da família na Alemanha,  é um desses temas polêmicos, divisor de opiniões. Existem os que são a favor (caso contrário, não teria sido aprovado) e os que são contra. E os argumentos devem ser analisados. 

Mas de qualquer forma, uma vez instituido, quem paga por isso?

Assim como para todo e qualquer beneficio/benfeitoria/gasto/investimento do governo, o recurso tem que sair de algum lugar e este lugar é o imposto. A geração de impostos não provem única e exclusivamente do montante pago em IRRF de pessoa física e sim de todos os tipos de  impostos recolhidos em níveis federal, estadual e municipal. 
Portanto, me dói no ouvido, me queima os neurônios e me opila o fígado ouvir de Zezinho que  não tem filhos alguns bordões conservadores que não se baseiam em fatos e números, mas em mero mito pessoal . 

O que seria um mito pessoal?

É aquela pseudo verdade conveniente baseada em ideias pessoais que são arrotadas como fatos, mas que não passam de jargões vomitados a gerações por aqueles que detém o poder e a riqueza e não querem de forma alguma largar o osso. O pior é que alguns brasileiros provenientes de classe média e que vieram pra cá a trabalho se consideram  elite por ter emprego de nível superior e continuam a ruminar aqui o que sempre ouviram da classe dominante brasileira sem se coçarem pra apurar os fatos. Se limitam às frases prontas e que convenientemente reforçam o  seu mito pessoal (pra reforçar esta posição, vale a pena ler esta pesquisa aqui)

Vejamos alguns desses mitos pessoais:

  • Pobre tem que pensar antes de por filho no mundo.  Já que não pensa, deveria haver um controle de natalidade "ferrado" pra que essa "aberração" não acontecesse.                       

Num país onde a taxa de natalidade é a mais baixa da Europa, isso vai contra a política do governo de criar mão de obra e consumidores para  mover o país- mais população, maior consumo, maior produção, mais emprego, mais dinheiro no bolso, mais consumo.... Existem estudos que dizem que quanto mais estudado e rico, menos filhos se tem . Talvez por isso é que a Alemanha tem que contar com estrangeiros e pobres pra gerarem filhos e aumentar a força de trabalho, consumir mais e girar a manivela do sistema. Se houvesse a necessidade de comprovação de renda ou formação acadêmica pra ter filhos, só os ricos teriam a possibilidade, e aí cria-se um paradoxo. E já vi, aqui mesmo na  Alemanha, essa história de controle de natalidade pra evitar que pobres (e também ciganos, negros, judeus) tivessem filhos. Na China, por conta de controle de natalidade ferrado, tem criança sendo morta ou deixada pra morrer, principalmente meninas. A palavra chave não é controle de natalidade (num país que não precisa controle demográfico), mas planejamento familiar, que orienta-se por ações preventivas e educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade (lei braslieira9263). E isso é normaleweise, função de órgãos do governo, o que supostamente também onera o bolsinho dos reclamões.




  • Vagabundo põe filho no mundo pra ganhar beneficio do governo e não precisar trabalhar. 
Mesmo com todas as políticas de benefícios sociais que a Alemanha criou nos últimos tempos, a taxa de natalidade continua diminuindo. De 2010 para 2011, houve uma redução de 15.000 nascimentos no país. Se Zezinho realmente pensasse em por filho no mundo porque o governo paga por cabeça de criança 184 euros (que na caixola de quem não tem filho é suficiente pra educar, vestir, alimentar uma família inteira) , haveria um crescimento demográfico em progressão geométrica, já que  estilo de vida e pensamento de boa vida de pobre é uma doença transmissivel geneticamente. Por isso, os filhos de pobres passariam a ter filhos mais cedo e em grande quantidade pra não ter que trabalhar e poder viver do Kindergeld/ Elterngeld/ Betreuungsgeld. Parece até que o mercado de trabalho está explodindo em oferta e não existe demanda porque ninguem tá a fim de trabalhar porque não precisa, basta viver do social. Obs: existe sim quem vive do social e só trabalha quando quer e quando arranja um bico, mas do jeito que falam parece que  é a maioria dos que tem filhos.   

E a cereja no topo do bolo de asneiras:
  • Não é justo que eu, que sou solteiro e não tenho filhos, pague mais imposto pra "neguinho" ficar pondo filho no mundo. 
. Todo mundo que tem algum tipo de rendimento tem que pagar imposto de renda. E o imposto de renda na Alemanha respeita uma tabela progressiva, a saber: 

Para casados, o valor de isenção se duplica.

Além dessa tabela progressiva, o imposto de renda possui 6 classes diferentes  de contribuintes. É com base nessas classes que se flutua na faixa da alíquota correspondente a cada renda, obtendo descontos maiores ou menores, dependendo se é casado, tem filhos, companheiro trabalha ou não.
Portanto:
  •  você paga mais imposto porque ganha mais
  •  você não paga mais imposto pra sustentar quem tem filhos. Você paga  o que está na sua alíquota porque não tem filhos pra sustentar.
  •  Não é quem não tem filhos que paga mais impostos, mas quem tem filhos é que paga menos
  • E quem tem filhos só paga menos Solidaritätzuschlag e  Kirchensteuer.
Agora, se mesmo assim, os "sem filhos" continuam achando que pagam impostos altos pra vagabundo por filho no mundo, vamos ver quanto do imposto de renda pago realmente vai para Kindergeld (já que o Betreuungsgeld ainda não está em vigor e, não tenho dados pra usar), por exemplo:

População total da Alemanha                           82.000.000
Trabalhadores                                                 42.000.000 (+50% da pop.)
Família com crianças abaixo de 20 anos             8.100.000 
Total de crianças (0 a 20 anos)                        15.000.000 (19% da pop.)    


Einkommensteuer (IRRF) 2007                              193.000.000.000
Valor total destinado ao social                                       800.000.000
Valor destinado ao Kindergeld                                        42.000.000 
Todos os dados foram retirados do site oficial de estatistica do governo da Alemanha

Considerando que o valor destinado ao Kindergeld é de 42 milhões/ano,

  • que isso representa somente 5% do valor destinado a todos os beneficios sociais pagos pelo governo.
  • que isso representa somente 0,022% do valor pago como Einkommensteuer.
  • que o dinheiro que se destina ao Kindergeld não provem (somente- se é que provem) do IRRF.
  • que existem na Alemanha 42 milhões de trabalhadores.
  • que muitos são isentos de impostos.
  • Mas que muitos pagam 45%

 Em média, cada trabalhador paga 1 euro por ano para "bancar o Kindergeld". Ou seja,  8 centavos por mês. NA MÉDIA!!!!

Portanto, Zezinho e Zezinha solteiros de classe média que saem por aí usando como argumento um mito pessoal de que paga mais imposto pra vagabundo por filho no mundo pra viver do governo, você não contribui sequer (se é que contribui) com 8 centavos por mês do seu salário pra isso.

Se você não quer por filho no mundo por opção - odeia criança, acha muita responsa, não achou alguém com quem fazer um filho, não gosta da ideia de ter um compromisso pra vida inteira etc - você está no seu direito. Mas o governo tem a opção de te pedir algo por isso. Quem tem filhos consome mais e estes filhos também serão consumidores e parte da engrenagem do país. Se voce não quer colaborar dando "filho" para isso, tem que colaborar de outra forma. E tá na promoção: SÓ 8 CENTAVOS!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Velha, não. Antiga.


Quando eu ainda namorava o meu marido, ele estudava em São Bernardo do Campo e morava em uma república chamada "Lixão". Era um prédio bem central, próximo à FEI - Faculdade de Engenharia Industrial. Em seus anos dourados, devia ser prédio de luxo, pois tinha suite com sacada, quarto de empregada, dois quartos, sala, cozinha, banheiro, área de serviço com sacada e tudo era espaçoso, enooorme. Maaaas, depois que virou prédio de república, as janelas eram tampadas com papelão e pedaços de madeira e o chão de taco era todo desdentado porque tiveram a brilhante ideia de fazer churrasco e não tinha carvão. Tiraram os tacos pra fazer brasa. Meu marido dormia sozinho em um dos quartos sem porta e herdou do antigo ocupante do quarto uma escrivaninha bem charmosa, mas bem velhinha (quem disse que velha não pode ser charmosa?). Ela era tão charmosa que até veio parar na Alemanha com a gente. Depois de 6 anos aqui, resolvemos restaurá-la. Tirei algumas fotos para um restaurador aqui do bairro dar uma olhada. Ele bateu os olhos e disse que era um móvel da década de 50/60 que valia não mais do que uns 500 euros mas que custaria 1500 pra restaurá-lo, portanto, não valeria a pena. Mas ela não veio tão longe pra ir parar no lixo. Então...  






Como alemão adora Do it Yourself  e você encontra tudo pra fazer o que quiser você mesmo, pedi carta branca ao dono sentimental do móvel pra eu tentar euzinha mesma renovar o bicho. A minha intenção era pintá-la de turquesa. Ela seria a cobaia, mas como surgiu o móvel do Sperrmüll do post anterior, ela foi poupada do sacrifício. Decidi mantè-la o mais próximo do original.  Pedi orientação ao irmão do meu cunhado, o Jorge, que é marceneiro, e casei as informações que ele me deu com as orientações do atendente da loja de tintas.Comprei lixas de várias granulações, pasta de madeira, cera para móveis antigos e verniz.

Primeira etapa, tirar as folhas de madeira. Depois, lixar, lixar e lixar.





E o resultado quase final está abaixo. Ainda falta lixar mais uma vez ( mas ficará pra depois do inverno, porque tenho que fazer isso ao ar livre) e dar mais uma demão de verniz e instalar os puxadores e molduras das fechaduras, que ainda não comprei.





Depois da cirurgia plástica, a velhinha vai dar mais uns anos pro gasto.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Esse lixo é um luxo 3


 Como eu já postei aqui, lixo na Alemanha é coisa seríssima. Em agosto, eu fui convencida pela minha vizinha brasileira, que já está aqui há dúzias de anos, a ir dar uma olhada no Sperrmüll da rua paralela à nossa, porque ela tinha visto uma cadeira que valia a pena pegar. Eu fui lá com ela, não gostei da cadeira, mas acabei me engraçando por um armariozinho de parede com portas de vidro. Eu nem sabia o que poderia fazer com ele, mas dias antes tinha visto uma cômoda azul turquesa no Facebook e fiquei babando pra ter um móvel daquela cor. Não me meteria de cara a pintar um móvel grande de azul-cheguei e achei que esse móvel seria a chance de brincar um pouco e treinar. Pena que eu não tirei foto dele montado quando o resgatei do lixo. Mas o resultado tá abaixo.
 Na mesma noite (que ainda era dia), catei uma mesa elástica de madeira estilo anos 50/60 com os pés palito, um armário de duas portas pra colocar TV muito bem conservado e uma mesa para revista também com pés palito e tampo de fórmica, que, segundo minha amiga, é coisa legítima dos anos 50. Vieram todos direto do túuunel do tempo para a minha garagem abarrotada de quinquilharia. Quando reformar essas três peças, posto o resultado aqui. Isso se meu marido não me fizer dar fim em tudo antes pra gente poder colocar o carro na garagem, no inverno. Meu coração de Messie já começou a doer.

Portas e laterais do armário
Base do armário

   Na parte interna, eu fiz uma decupagem com guardanapos de arranjos florais...

...e pintei as laterais de dourado.


                                          Abaixo, o resultado final da minha brincadeira:




Ele está na parede do meu quarto, mas ainda não achei nada pra colocar dentro. Daqui a pouco vai voltar de roupa nova pro Sperrmüll.

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