segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Nem tudo que é BIO é bom


Os famosos salsichões são a comida preferida dos alemães, na rua e em casa, no pão, no churrasco, na sopa, com pommes frites, curry ou sozinha. Tem de tudo quanto é tipo: de ave, de porco, de carne de vaca, misturada, recheada, Bratwurst, Blutwurst, Leberwurst, Weisswurst, Frankfurter Würstchen, Wiener Würstchen  e outras que não me lembro o nome, muito menos como se escreve. Tem também a versão orgânica. Não me perguntem como é feito o controle de uma versão orgânica para salsicha, por que não tenho idéia, mas não deve ser uma coisa fácil já que se deveria garantir que a matéria-prima também fosse tratada de forma orgânica ( imagine um porco comendo lavagem orgânica).
E produto orgânico é outra coisa que alemão adora. Aqui são chamados  de BIO ou ÖKO. Abre parênteses: quando a Lara era pequenininha, participava com ela de um grupo, chamado Krabbelgruppe/Spielgruppe,  onde cantávamos, brincávamos e estimulávamos o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças. Havia uma mãe que oferecia única e exclusivamente produtos orgânicos para seus filhos e  não deixava que eles aceitassem qualquer outra comida que lhes fosse oferecida, apesar de compartilhar fazer parte da interação. Ela chegou a arrancar uma banana da mão da criança como se fosse um veneno. Não sei o que seria pior, comer uma banana não bio ou o trauma que essa atitude poderia causar, fecha parênteses.É possível encontrar produtos bio nos supermercados normais, mas há várias lojas especializadas, como a "Reformhaus" e a "Bioladen", que oferecem produtos para necessidades alimentares especiais também.
 Para se ter um controle supostamente imparcial de tudo que é produzido agricultural ou industrialmente para consumo alimentar, pessoal, residencial etc., existe uma fundação chamada Stiftung Warentest, parecida com o Inmetro. Para divulgação de seus achados, ela tem um site e uma revista. Em agosto, no consultório do meu médico, deparei com uma destas revistas cujo tema era a tão adorada salsicha. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que a que eu consumo, e que é uma das mais baratas, foi a vencedora do teste. É a Dulano do Lidl, mercado de descontos que eu adoro. E a minha supresa foi ainda maior quando vi que a salsicha da marca Alnatura, uma das marcas Bio mais comercializadas em supermercados e por isso uma das mais caras, é uma das piores, contendo inclusive enterobactérias - que eu entendo como  sendo as famosas Escherichia coli, mais popularmente, bactérias do cocô. Ui. Prova de que nem tudo que é bio e mais caro é bom.
Eu já havia lido uma reportagem na Time sobre produto local X produto orgânico e o que me chamou a atenção foi a pergunta feita pelo autor: "How much Middle Eastern oil did it take to get that California apple to me? Which farmer should I support--the one who rejected pesticides in California or the one who was, in some romantic sense, a neighbor? Most important, didn't the apple's taste suffer after the fruit was crated and refrigerated and jostled for thousands of miles?" (traduzindo: Quanto óleo do Oriente Médio foi necessário para que esta maçã da Califórnia chegasse até mim? Qual fazendeiro eu deveria apoiar - o que rejeita pesticidas na Califórnia ou o que, num sentido romântico, é o meu vizinho? Mais importante ainda, o gosto desta maçã não sofreu depois da fruta ter sido manipulada e refrigerada por milhares de milhas?) E isso me deu food for thought. Penso duas vezes antes de comprar algo fresco que veio de longe, principalmente porque a definição de "fresco", neste caso, é "saído da geladeira". Também penso nas mãos limpinhas dos carregadores e dos ratos, nos porões dos navios, circulando por entre as frutas e legumes. Argh.
E por falar em argh, com a nova edição da revista daStiftung Warentest, descobri que o suco de maçã que tenho consumido desde que chegamos aqui é um dos piores.Hora de mudança.

Em tempo: o Amanzor é de Curitiba e a primeira vez que fui à casa dele ele me ofereceu Vina. Eu não tinha a mínima idéia do que era. Ele me mostrou um pacote de salsichas da Sadia. Só quando viemos para cá que descobrimos o porquê de no sul do Brasil eles chamarem salsicha de Vina. A palavra "Wiener", de Wiener  Würstchen, salsicha vienense, se pronuncia "Vina". Deve ser a influência alemãaustríaca, assim como aquele bolo com geléia e uma farofa em cima que a gente chama de Cuca, Acho que vem de "Kuchen", que quer dizer "Bolo" em alemão. Alguém tem alguma outra explicação?

6 comentários:

  1. Ei Arlete,

    Sou leitor assíduo do guia dos curiosos, lembrei então dos links do site sobre invenções alemãs, ô povo cheio de idéias, incluído é claro a salsicha:
    http://guiadoscuriosos.ig.com.br/categorias/4089/1/salsicha.html

    Bem legal você decifrando as influências austríacas e alemãs da região sul do Brasil.

    Beijos e tudo de bonn na semana 41, aliás, peguei mania de reparar em numero da semana após estágios em empresas alemãs aqui no sudeste ( Thysen em BH e Liebherr em SJC). Constatei como os “deutscher” são dedicados e fanfarrões também... :o)

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  2. É Gui, mas eles não costumam ficar depois do horário trabalhando, não, como fazem os brasileiros.

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  3. Arlette, segundo o Horst Lichter, porco bio é o que anda de Birkenstock pela fazenda... ;-)

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  4. Seu texto deveria ter o título: Nem tudo o que é BIO é Bonn... hehehehe
    :-) Um beijo, Sandra

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  5. Que coincidencia!!!
    Trabalhei com o Amanzor na DHL em Sao Paulo na Importacao.
    Soube que ele tinha mudado para a Alemanha mas nao pensei encontra-lo atraves do seu blog. (Que conheci pelo blog DoladodeLa).
    Mande um grande abraco ao Amanzor.

    Emerson Venancio

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  6. Nossa, Emerson!
    O mundo é pequeno mesmo! E eu e o Marco do Doladodela estudamos juntos. Que jóia. Me mande um e-mail com o seu e-mail para eu passar para o Amanzor, ele vai ficar feliz e surpreso.
    Abraço

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