domingo, 21 de março de 2010

Foi um rio que passou em minha vida.

O Reno é um rio altamente navegável que nasce nos Alpes e desagua no Atlântico na costa holandesa. Viver às suas margens tem sido uma das melhores experiências da minha vida. Eu, que tenho medo de água, me senti fascinada por ele tão logo o vi. Quando o apartamento em que vivemos hoje nos foi apresentado como uma das opções para morarmos, não tivemos dúvida que seria ele, por causa da vista que temos do rio.
Der Rhein - como é chamado em alemão -  traz o mundo para dentro de nossa casa. Nossa janela é como uma tela onde as cenas vão mudando em câmera lenta. Suas águas mudam de cor com a vontade do sol e refletem a luz da lua cheia, que nasce por trás das ruínas do Drachenfels e se projeta na parede da sala como numa brincadeira de criança.
 Por onde passa, o Reno reina absoluto. Ele permitiu por milhares de anos - e ainda permite - que a vida brote em abundância em suas margens. Aliás, ele parece  ter vida própria: sobe e desce como se pulsasse, arrepia suas águas com o vento e lambe as margens ao passar dos barcos, e assim, leitoso e tranquilo, deleita-se.  Um navio de carga, um caiaque, alguns navios de turismo, carros e trens do outro lado do rio,  pessoas correndo, passeando com bebês ou brincando com seus cachorros dão um certo movimento tranquilo e organizado à paisagem; em suas águas,  patos, cisnes, gaivotas; em suas margens e nos jardins das casas, pássaros, toupeiras, coelhos. Nas plantas, no tempo, nas roupas, no dia e na noite, as estações nítidas, quase que cronometradas, se apresentam e dão um toque extra ao que por si só já basta. 
No outono, as folhas brincam de camaleão: verde escuro, vermelho sangue, amarelo ouro, marrom dourado. E enquanto as cores brincam, as folhas caem e aveludam o chão. No inverno, a pausa. O cinza  e o marrom predominam na paisagem que a neve, às vezes, polvilha de branco; o vento frio queima os lábios, e enrijece os extremos, e enfraquece ainda mais a alma dos que já se deram por vencidos. Em muitas manhãs, uma neblina silenciosa desce ao rio e, só pra se mostrar, esconde tudo a olhos vistos. Na primavera, a vida pulsa: dias mais longos, flores, cores, cheiros, pólen, alergias. E o sol, depois da chuva ao fim da tarde, traz um arco-íris, às vezes, dois. No verão, muito verde novo, mais sol, mais calor, mais luz, mais cor, menos mofo, muita energia,  pouca roupa, muita preguiça,  muita vida que renasce nas praias às margens do Reno.  Dizem que Deus é brasileiro, mas eu tenho certeza que ele vem passar as férias por estes lados de vez em quando.

Um comentário:

  1. reno show de bola...
    Isso a'i, um post animador de vez em quando faz bem, hehehe.

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