quarta-feira, 17 de março de 2010

Vizinho alemão intolerante é pleonasmo?

Nós moramos, há quatro anos, no primeiro andar de um prédio de  3 andares, sendo que embaixo do nosso apartamento só tem as garagens e o nosso depósito. Somos a única família no prédio inteiro com criança, uma criança.
No dia 6 de dezembro passado - dia em que as crianças ganham presentes de Sankt Nikolaus - o nosso vizinho do terceiro andar, que é casado, sem filhos e tem mais de 80 anos, bateu à nossa porta para entregar um pacote que o correio deixou com ele, pois nós não estávamos em casa ( coisa inaceitável no Brasil). Ele aproveitou a deixa para pedir que a Lara fizesse menos barulho ao andar, pois estava vibrando as paredes do apartamento deles. Demorou pra  cair a ficha e entender sobre o que ele estava falando, porque foi difícil conceber que uma garota de 4 anos fosse capaz de fazer tanto barulho ao andar ao ponto de atrapalhar um vizinho dois pisos acima. Pensei que ele pudesse ter se enganado com a fonte do barulho mas, mesmo assim, começamos a pedir que a Lara andasse com passos de flamingo em vez de passos de elefantinho. Por conta desse pedido, toda vez que ela quer nos irritar, ela anda batendo os pés o máximo que consegue. E consegue, assim, nos irritar.
Foi que hoje, a dona Lara resolveu dar um show bem na hora que eu abri a porta pra sair, porque não queria ir para a escola com a roupa que tinha escolhido e comprado ontem e separado para por hoje. Gritou, esperneou, se jogou no chão, bateu porta e fez que fez que passou a hora de entrar na escola e acabou ficando em casa e eu, que tenho pavio curto, não me contive e briguei com ela. Foi um grita pra cá, grita pra lá, ela batendo porta e pisando duro. O castigo pelo comportamento dela foi não assistir TV até a hora do pai chegar. Então, foi stress o dia inteiro.
No fim da tarde, ao buscar as cartas na caixa do correio, encontrei uma folha de sulfite com a parte do "Hausordnung" - o regulamento interno do prédio, que fala sobre barulho, e junto com ele um pedaço de uma folha de um livro onde se lia "Gebrauch des Sondereigentums" - Uso da propriedade individual ( na minha parca tradução) e destacado estava o item "Trampeln von kindern (wiederholtes Springen und Hüpfen): nicht zulässig" - crianças batendo pé (pulando e saltando repetidamente): não é permitido.   O stress do dia foi multiplicado por dois.
Alemão tem o costume de por o dedo na cara da gente quando acha que está certo, o que necessariamente não quer dizer que esteja. Ele ressaltou no "teco" do regulamento a questão do barulho durante o "Ruhezeit" - horário de descanso, que vai das 13h às 15h (acreditem se quiser, o povo aqui exige silêncio neste horário e isso é garantido por lei e pode constar no regulamento) e das 22h às 6h todos os dias e o dia inteiro nos domingos e feriados. O outro "teco" de papel, cuja fonte não foi informada,  ele só anexou ao primeiro pra reforçar  o que lhe convinha, mas não é parte do Hausordnung.
Logo depois da primeira reclamação que ele fez pessoalmente, por coincidência, encontrei um artigo sobre o tópico em uma revista dedicada à família, que dizia que os pais deveriam ( não são obrigados a) respeitar o horário de descanso o tanto quanto possível, mas que nos outros horários ningúem pode reclamar e que os vizinhos têm que tolerar o barulho não excessivo e não contínuo feito por crianças, principalmente as menores de 7 anos de idade. Também consegui outras fontes online sobre o tópico e sei que a reclamação dele não procede. Mas quem me conhece sabe que o stress já está instalado.
Eu não entendo como uma pessoa nessa idade, que nem mesmo escuta direito, pode se sentir incomodado com o barulho feito  dois pisos abaixo do seu, por uma criança. Eu também não entendo como uma pessoa que viveu tanto e já viu tanta coisa horrível relacionada à intolerância pode ter um comportamento desses. Eu também não consigo entender  por que só agora, já que ele sempre foi muito simpático com a gente. Eu entendo menos ainda por que tem gente que tolera cachorro mas não tolera criança, ainda mais em um país com tantos idosos cuja aposentadoria depende da força de trabalho futura das crianças e não dos cachorros. O pior é que ele não é o único. Eu sei que existem outras razões para as mulheres alemãs não quererem ter tantos filhos ou filho algum, mas com gente assim não é à toa que a Alemanha tem o indice mais baixo de natalidade da Europa.

16 comentários:

  1. Esse devia matar criancinhas Judias nos anos 40. Heil Hitler!

    Aposto que ele nunca teve filhos. Ou se teve, devem tê-lo abandonado, por isso tanta raiva de criança. =D

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  2. Oi amiga on line!!!!

    Arlete está ficando bem legal este seu blog, muito legal o seu relato, não te conheço na real, mas tenho grande admiração por suas acões e aventuras!!!!

    Bjus e conte comigo no Bobs, já votei, e a cada dia voto mais uma vez.

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  3. Arlete querida,

    Apesar de seu estado emocional um tanto afetado, e diria, estressado ao extremo, devo confessar que ri muito ao ler esta página. Já passei pela fase birra, sapateado clássico e chororô com o João Pedro (dos três aos quase cinco anos) na hora de levá-lo à escola, em qualquer shopping de São Paulo, na casa de um amiguinho (Não quero ir embora! É cedo!, protestava) ou na hora de levá-lo à cama para dormir o sono merecido dos anjos (refiro-me aos pais cansados, exaustos, com um sono de dar dó!). Não se assuste pois a fase birra logo passa. Lembre-se que depois vem a adolescência e a tolerância deve ser triplicada (ou será quadruplicada?). Quanto ao seu vizinho intolerante, não se preocupe. Aqui no meu prédio há pouquíssimas crianças também. É habitado por velhinhos que adoram assistir novelas, andar pela Paulista e conversar no hall. A intolerância não é tão agressiva, mas acontece de vez em quando. No elevador é onde notamos a "dita cuja". Portanto, não se preocupe, deixe o estresse de lado, e curta as birras da Lara com um tantinho de humor, afinal de contas, elas já dão um bom capítulo para seu livro, não é verdade?

    Beijo e até.

    Patricia : 0 )

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  4. Arlete, um dorf aqui perto de nós fechou o kindergarten por falta de alunos!

    Agora seu vizinho é uó, mas é pleonasmo sim falar que vizinho alemão é implicante. Aqui já aconteceu de eu pegar bilhetinho na minha caixa do correio, dizendo pra eu limpar minha calçada. Eu estava doente, marido estava ocupado, mas isso ninguém quer saber, né? ÓDIO!

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  5. Não é a toa que dizem que ter filhos é padecer no Pará.
    Pat Nero, tolerancia aqui com criança muitas vezes é zero. Mas não dá pra generalizar. Tem velhinhos bem simpáticos, mas quando são intolerantes fica a dúvida sobre qual apito tocaram e ainda tocam só que agora na versão crianças e "estrangeiros".
    Bjs a todos.

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  6. tem lugar aqui que aceita cachorro e não aceita criança.
    com essa baixa natalidade, serão os turcos, os libaneses, os árabes que têm uma porrada de filhos pelas bandas de cá que ditarão as regras futuramente. Aí sim, quero ver como esses "vizinhos" se vão comportar.

    velho mau amado esse aí. rsrsrs

    bjs

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  7. Arlete,
    seu post me fez lembrar de uma coisa que uma amiga me disse quando estava grávida do Miguel. "Como voces vao arrumar um apartamento com uma crianca? Aqui ninguem quer alugar nada para quem tem filho, preferem que se tenha cachorro." Por enquanto nao tive reclamacoes do Miguel, mas uma coisa tenho aprendido: tbm temos direitos e se nao exigirmos seremos sempre tratados de uma forma diferente por aqui.
    Beijos

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  8. Talvez ele esteja querendo ter a sua atenção e tem vergonha de pedir... sei lá... gente chata costuma ser carente de alguma coisa, principalmente quando envelhece.

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  9. Oi Arlete.

    Li o artigo que fala sobre as causas para não se querer ter filhos. O artigo em si é interessante, mas muitas respostas me deram frios na espinha! Vi várias em que disseram que "isso só ocorre como retribuição aos pecados cometidos pelos países do eixo na 2ª guerra mundial", ou ainda que "como a Alemanha é um país de pecadores, Deus os condena por isso". Vade retro!

    Por outro lado, quando estive na Suíça no ano passado (Aarau, na maior parte do tempo), vi com espanto que lá havia muitas crianças, de todas as idades. E de maneira geral, se não presenciei "cuticutis" em relação ao meu filho, ele não foi tão pouco maltratado e nem ninguém chamou sua atenção.

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  10. Minha linda, quando morava num apartamento também eramos a única família com filhos. As vizinhas passavam a vida a implicar com meninas que até eram calmas. Um dia recebemos um amigo que trouxe o seu pastor alemao. O cachorro ladrou , ganiu, pintou o oito. No seguinte o comentário das vizinhas. "Que cao tao bonito que esteve em sua casa". Nem uma palavra sobre barulho, nada.


    Foi por isso que comprei casa própria. Vizinho alemao é fogo!

    Um beijo e nao te stresses porque essas Hausordnungen nao tem validade legal no caso de criancas. Se quiseres posso dar-te várias sentencas para pores no correio do chato.

    Beijo grande

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  11. Olá Arlete!

    Sou gaúcha morando na Suécia (Gothenburg) há 10 anos. Cheguei ao seu blogg através de uma amiga em comum do facebook e acabei lendo seus textos sobre o vizinho alemão e só para adultos. São muito interessantes e me identifiquei em algumas situações que descreves. Abaixo seguem minhas reflexões.

    Segundo a lei sueca é proibido bater em criança, seja na própria ou não, e durante os meus anos por aqui nunca vi na rua um cidadão comum reprimir um ato não desejado (mal-educado?) vindo que um menor de idade (tão pouco de maiores de idade).

    A primeira vista isso nos faz pensar que o povo é muito pacifico, educado e civilizado. E em geral é, e eu pessoalmente acho que o nível de tolerancia às crianças é alto pois elas estão por todo o lado. Também é sabido que familia com criança gera negócios, lucro e emprego.

    Porém, toda a moeda tem dois lados. Em dezembro do ano passado um aposentado de 70 anos tomou uma atitude mais drástica contra os atos mal-educados e abusos verbais de um menino de 12 anos dando-lhe uma palmada no rosto. O adolescente já havia anteriormente importunado e insultado o idoso, e este então o havia reprimido verbalmente.

    Depois da agressão fisica o caso foi parar no tribunal, e o ofendido cidadão idoso condenado a pagar multa e indenização ao adolescente vítima de abuso físico.

    A lei que proteje menores de idade contra abusos físicos é muito boa, mas com o passar dos tempos muitos jovens fazem o que querem sem se responsabilizarem o mínimo por seus atos.

    O relato acima está resumido a partir de artigos jornalisticos e é claro que pode ser questionado de várias maneiras. Contudo, a questão é: onde estão os limites dos meus atos e dos demais cidadãos? Por aqui se diz que todo mundo conhece muito bem os seus direitos, mas muito pouco sobre os seus deveres.

    Nos tempos mais antigos os limites sociais eram mais claros, mas também muito mais rígidos.

    Também tenho criança pequena (menino, 5 anos, teimoso e obstinado), moro em apartamento e sei que o convivio diário com vizinhos, familia e demais pessoas é cheio de conflitos, independentemente de etnicidade, idade, estado civil, seja o que for.

    Tudo de bom!

    Vivian

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  12. Oi Arlete, sei bem o que você está passando, pois, morei na Grécia e passei por isto também. Minha filha tinha então, 7 anos...
    Foi bom te encontrar. Estava pesquisando sobre a nova lei de menores que pune os pais que batem em crianças, e achei seu blog. Tenho quatro blogs e espero uma visita sua.
    Um abraço

    Também me formo em Letras este ano.
    Quando voltei ao Brasil, resolvi estudar...
    bjuss

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  13. Olá,
    Meu nome é Sónia e resido na Alemanha há mais de 5 anos... Sou casada e temos uma menina de 13 anos... Quando cheguei a Alemanha a minha alma não queria entender como é possível haver tanta restrição em alugar casa a pessoas com crianças... Logo eu que amo crianças, pensei que só poderia ser brincadeira...
    Há cerca de 6 meses compramos uma casa e nela um apartamento que arrendamos a uma família jovem com 2 crianças, 3 e 6 Anos, que segundo eles estavam acredito muita dificuldade em arrendar um apartamento, devido às crianças... Devo dizer que a família em questão é Alemã...
    Não pensamos 2 vezes, movidos pelo coração arrendamos o apartamento...
    Devo-vos dizer que foi a maior asneira que cometi em toda a minha vida, para terem uma noção, estamos em litígio para os tirarmos da NOSSA casa!!
    São pessoas que vivem do estado, não fazem nada da vida, ficam o dia todo o dia em casa com as crianças a fazer a maior algazarra possível e imaginaria...
    E claro, para despejar uma família com crianças, ainda que não cumpram com a renda, não tenhamos sossego nenhum, arranjaram um cão contra o contrato, não levam o cão a rua, o cão faz as necessidades em casa, na varanda aonde vêem parar cá a baixo....
    Também sou mãe, e fui mãe solteira por 8 anos e NUNCA tive uma chamada de atenção de Ninguém, muito menos de um vizinho meu, pois a minha filha, tem educação!
    Nunca bati na minha filha, ao contrário, sempre conversei com ela p entender as suas tristezas e p lhe explicar como lidar com elas e os limites que existem!
    Sinceramente n consigo aceitar crianças mal educadas, pois uma criança é sem dúvidas o espelho dos pais... E mal educada? Porque será?! E culpa da criança ou dos pais que n sabem colocar limites?!
    Desculpe eu li o seu relato e n entendo como uma criança faz birra, bate ok a porta e decide n ir ao colégio?!
    Estes são os futuros adultos sem limites e sem respeito pelo próximo, pois na idade que alguém deveria ter ensinado esses limites, deixaram com que se formassem os adultos que se vê no mundo de hoje, mas que se esquecem que esses adultos foram aquelas crianças que cresceram sem limites.

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    Respostas
    1. Sonia, você morava no Brasil antes de mudar para a Alemanha? Sua filha tinha quantos anos quando você se mudou? Pelas minhas contas, sua filha já tinha mais de 3 anos, idade da minha filha quando fez birra pra não ir pro Kindergarten.No Brasil, as pessoas não costumam chamar a atenção do filho dos outros, muito menos chamar a atrnção dos outros por causa de filhos. Eu duvido que sua filha nunca tenha feito uma birra sequer e dúvido que, por nunca ter feito birra e você nunca ter precisado brigar com ela (o que mão acredito que seja verdade), ela seja um espelho seu. Espero que não, pois, ao julgar minha filha como mal educada por um único episódio de birra que narrei neste post (sem ter mencionado qualquer outro contexto pra reação da minha filha) e ao dizer que o filho é o espelho dos pais, vc está me chamando de mal educada, o que nao é educado nem tão pouco coerente da sua parte. Quanto a ter alugado um apartamento que é parte da sua casa para uma familia que vive do social, acho que vc foi inocente e mal orientada. Nao se aluga apartamento, principalmente morando no mesmo local, para pessoas que nao tem como provar renda, por dó por eles terem filhos e vc ter passado prla mesma situação. Seeles vivem do social, toda negociação deveria passar pelo orgao oficial , já que seu apartamento deveria estar registrado junto ao orgao como disponível para locação para essas famílias. Seu marido, se alemão, deveria saber disso. Acho que você teve fificuldade em alugar uma casa quando chegou na Alemanha, por ser estrAngeiraa e não por ter uma filha de 8 anos. Não sei se ao chegar à Alemanha você já estava casada com seu atual marido, se ele é o pai da sua filha e não sei em que condições vc foi para Alemanha nem como conheceu seu atual marido, nem vou fazer suposições e te julgar baseada nelas, pois sou educada. E que bom que sua filha de 13 anos é um brinco de adolescente. A minha filha de 10 também, apesar das birras normais e saudáveis que ela tinha e ainda tem de vez em quando.

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