segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por que engravidar novamente?

 Em um casal maduro, a decisão de engravidar pela primeira ou próxima vez é sempre conjunta. It takes two to tango, quando um não quer dois não brigam e por ai vai. E se eu não quisesse, não ia ter santo (nem Amanzor) que me faria mudar de idéia. O Amanzor sempre quis ter mais um, mas eu tinha receio de não ser forte o suficiente pra conseguir depois dos 40. No entanto, três situações me fizeram decidir engravidar novamente. 
 A primeira foi logo que a Lara nasceu. Após a primeira consulta pós-parto, meu médico já foi logo perguntando quando seria o próximo. E eu disse que não havíamos pensado em ter outro filho. Ele disse (não exatamente com as palavras a seguir) que a gente não pode ter filhos só pra satisfazer uma necessidade momentânea de...ter filhos. Temos que pensar que, depois de termos o prazer de cuidar dos filhos e vê-los crescerem, eles também serão responsáveis por nós quando ficarmos velhos e que deixar essa responsabilidade nas costas de um único filho é injusto. É preciso dar a eles a opção de dividir as alegrias, as tristezas e as responsabilidades da família. Achei essa posição estranha, mas a segunda situação, que ocorreu antes da Lara nascer, reforçou o que ele estava dizendo e a terceira, que aconteceu bem depois, funcionou pra mim como uma confirmação de que ele estava de alguma forma certo.
A segunda situação foi quando o irmão mais velho do Amanzor, que havia perdido a sua filha de 21 anos numa cirurgia mal sucedida, também perguntou quando viria o segundo. Demos a ele a mesma resposta que demos ao meu médico. E ele, que teve dois filhos, disse: "Quem tem dois tem um, quem tem um não tem nenhum". Aquela frase doeu em mim e mostrou a dor que ele sentia por ter o destino tomado um rumo contrário ao natural que é os pais partirem antes dos filhos.
A terceira foi a doença e morte de meu pai entre julho e outubro de 2008. Eu tenho cinco irmãos e a doença do meu pai dividiu a família. Vimos que a família só era unida na alegria. Na tristeza, cada um tomava o rumo que bem lhe conviesse, transferindo ao outro a sua parcela de responsabilidade pelos cuidados com o pai. Criou-se uma situação de rancor e de desentendimentos não resolvidos até hoje. Para ver meu pai antes de sua morte, por dez dias, deixei a Lara, na época com três anos de idade, aos cuidados do Amanzor, que deixou de ir trabalhar nesse período. Privei minha filha dos meus cuidados para ajudar a cuidar do meu pai, ao menos um pouco. Quando retornei para a Alemanha, ainda dentro do avião, pensei o quanto deve ter sido difícil para o meu pai ver seus filhos brigando por causa da doença dele (ou melhor, pra ver quem ia cuidar dele). Mas ao mesmo tempo pensei como seria difícil para um único filho dar conta da situação. Eu espero nunca estar na situação do meu pai daqui a alguns anos. Mas o que eu preciso fazer agora para que a minha filha tenha vontade de estar ao meu lado e não me ignorar numa hora dessas? É justo deixar que ela não tenha com quem dividir a responsabilidade pelos cuidados dos pais, bem como compartilhar as alegrias e as tristezas da convivência em família nos anos que estão por vir? Também pensei se não seria egoísmo da minha parte pensar dessa forma. Mas havia um motivo a mais para termos mais um filho: o sininho da maternidade bateu de novo. E não dá pra fingir que não o ouvimos, porque ele é ensurdecedor e, ou você toma o tempo em suas mãos e tirar proveito dele, ou fica surda. 
Cheguei em casa, ensaiei para falar para o Amanzor sobre o que estava pensando, mas assim que abri a boca o acordo estava fechado. Isso foi agosto de 2008, a partir de então, para se atingir os objetivos era necessário trabalhar duro...literalmente.
Continua...

3 comentários:

  1. Também sempre pensei assim como seu medico. Mesmo que eu e minha irmA nao somos "melhores amigas" e hoje em dia sou eu que estou mais presente a vida dos meu pais do que ela. Sempre achei importante ter alguem para aprender a dividir. E sempre pensei em ter mais de um filho... Fic feliz com sua decisão e desejo muitas felicidades pra familia toda!

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  2. Familia grande é importante, mesmo que não se biquem.
    Bjs

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  3. Não sei se vc vai chegar a ler este comentário, já que o post é antigo. Só queria te dizer que esse post mexeu bem comigo e me fez mudar alguns conceitos que tinha.

    Bjos

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