quarta-feira, 31 de março de 2010

Drachenfels - A Saga dos Nibelungos

Uma terra e um povo com milhares de anos tem incontáveis estórias e histórias pra serem contadas. Uma delas é a  epopéia Nibelungenlied  - A Saga dos Nibelungos. Como boa estória antiga, não poderia deixar de ter dragão. E como o tópico está novamente em voga com o novo filme da Dreamworks "Como treinar seu dragão", então senta que lá vem estória.
"A Saga dos Nibelungos" é um longo poema épico tipo "Os Lusíadas" escrito por volta do século 13 por autor desconhecido.  Ele conta a estória de Siegfried, um cavaleiro  que matou um dragão e que depois do feito ouviu de um passarinho que se tomasse banho no sangue do bichão ficaria invencível. Assim fez Sieg. Mas uma folhinha danada caiu sobre  sua nuca, impedindo que o sangue ali chegasse, tornando-o vulnerável naquele ponto. Portanto, nesta saga, o calcanhar de Aquiles é a nuca do Siegfried. A saga dos Nibelungos é  nada mais nada menos do que uma saga, ou seja, super longa, cheia de aventuras, traições, tragédias, folclore, mitologia alemã, metáforas e simbolismos, heróis e vilões, mortes e vingança. 
Nós moramos exatamente em frente ao castelo onde supostamente Siegfried matou o dragão . Não por acaso, todas as ruas do nosso bairro têm nomes dos seus personagens: Rüdiger, Kriemhild, Brünhild, Gunther, Gernot, Giselher, Ute e por aí vai. Hoje, só existem as ruínas do castelo de nome Drachenfels  - pedra do dragão. Próximo a ele, foi erigido em 1913 um monumento em homenagem aos 100 anos de  Richard Wagner que fez a ópera "O Anel dos Nibelungos" (uma análise interessante da Ópera de Wagner no estilo standup comedy pode ser vista aqui). Neste monumento - Nibelungenhalle - existem dezenas de quadros retratando passagens da saga, bem como um zoo de répteis. O mais interessante do local é o Drachenhöhle - buraco do dragão - onde tem uma grande estátua bem parecida com o dragão do filme de Fritz Lang, Siegfried, produzido em 1924 (filme mudo bem ilustrativo). Para assistir ao filme clique aqui ( mas depois de ler o post até o final).
O Drachenfels é o pontinho no alto à direita. De longe parece que não é nada. Mas de perto...


 Pra chegar lá, a gente pega um funicular e depois caminha igual uma mula. Na verdade, dá pra subir de burro também.
Pra chegar ao buraco do Dragão temos que passar por uma caverna. A gente se mete em cada buraco.

domingo, 28 de março de 2010

Kommern Freilicht Museum - Museu a céu aberto

O Kommern Freilicht Museum  é um museu a céu aberto que mostra como eram as construções e a vida na região durante os séculos 16 a início do 20 e também exposições permanentes e/ou temporárias sobre artesanatos e produções neste periodo.  Eu sempre tive curiosidade de saber como é por dentro uma Fachwerkhaus - essas casinhas com vigas de madeira aparentes, bem típicas,chamadas em português de casas "enxaimel". No verão do ano passado, matei a curiosidade. 
O museu tem como objetivo documentar a vida rural como costumava ser. Cerca de 60 construções de toda a Renânia - casas, fazendas, moinhos, oficinas, uma escola e padaria, assim como um salão de danças e uma capela, foram reerguidos no museu. A maioria das construções foi reconstruída em sua condição original depois de terem sido transladadas. O prédio mais velho data do século 16. Já objetos e móveis mostram as condições de vida dos século 19 e início do século 20. É um passeio super interessante e a partir do próximo dia 03 de abril começa a Quermesse anual, com carrosséis e brinquedos típicos do passado. Diversão garantida para adultos e crianças.
Mais informações no site do museu.

sábado, 27 de março de 2010

Oscar da Dublagem - A importância de ser Ernesto

No dia 23, aconteceu em Potsdam, cidade próxima à Berlim, a premiação anual de melhores performances na indústria de dublagem da Alemanha.  Filmes na TV e no cinema são todos dublados e não legendados. Normalmente, os cinemas oferecem uma única sessão semanal na língua original, mas sem legendas. Eu prefiro assistir ao filme na língua original, pois tem certas expressões que só fazem sentido na língua de origem. Além do mais, tem certos dubladores cujas vozes não combinam com a do ator original.  E pra fazer todo esse processo de dublagem leva um tempo desgraçado, fazendo com que os filmes cheguem ao público muito mais tarde aqui na Alemanha do que em outros países.
No Brasil, onde a maioria da população não fala outra língua, a versão e a legendagem são essenciais mas deixam muitas vezes a desejar - costuma-se cometer erros grassos, deixando o telespectador em dúvida e até dificultando o entendimento do enredo. Talvez porque a profissão ou a tal indústria não seja levada tão a sério, ou porque, como diz minha mãe, "pra quem é, bacalhau basta". Na Alemanha, pra se ter o chamado "Oscar da Dublagem" é porque o negocio é sério. Eu não posso dizer, pois eu não entendo alemão o suficiente, mas só sei que muitas vezes, além da voz não combinar com a cara, a sincronia labial é irritante.
Ultimamente, tenho assistido à série "Lie to Me" com legendas em português. Por saber inglês, eu fico checando o que foi escrito na legenda com a fala. E algumas situações acabo dando gargalhadas em  momentos dramáticos. De pronto, lembro de duas situações. A primeira, o protagonista entra em um local e pede desculpas por tomar o tempo do interlocutor. Este responde: - "No problem. It´s a light day today." Não tem problema. Hoje o dia está iluminado.  A segunda: "She showed anger towards mother". Ela mostrou raiva da mãe do Towards. Agora, quem não sabe inglês vai pensar o quê? O primeiro caso não foi essencial para a compreensão da trama, já no segundo: "Será que eu perdi alguma cena? Quem é Tovardis?"
A minha vizinha brasileira casada com alemão e que vai ao cinema todos os domingos na sessão do meio-dia, disse que aqui é assim porque alemão tem preguiça de ler legenda. A explicação dela não fica muito longe do que um dos membros do júri da premiação disse: "You can't look someone in the face while you are reading subtitles," he says. "So you miss a lot. The spoken word is more informative that way and it is also much more about the feeling of the film." Traduzindo com legendas: -"Você não pode olhar alguém no rosto enquanto está lendo a legenda. Fazendo isso, você perde muito. A palavra falada é mais informativa e também tem mais a ver com a sensação do filme."
Pra mim, ler a legenda nunca me tirou a atenção do que vejo na tela. Não sei se é questão de treino, se é intuitivo. Aliás, visão periférica se usa intuitivamente ou não. Eu sempre disse que alemão não sabe ser flexível. Eles não sabem assobiar e chupar cana. Saiu do script , ficam completamente perdidos. Como você prefere assistir a filmes?

Matéria completa do Der Spiegel sobre o Oscar da Dublagem aqui

segunda-feira, 22 de março de 2010

Herr Croll

Já que alguns posts atrás falei do vizinho  intolerante, vou falar agora do vizinho fofo do segundo andar, o Herr Croll. Um pouco depois que mudamos para este apartamento, ele bateu à porta trazendo um pão e uma caixinha de sal. Eu nem sabia quem ele era ainda e nem ofereci para entrar. Que vergonha! Também estranhei o presente, mas depois ficamos sabendo que o pão e o sal são dados como boas vindas (dãã): o pão é  alimento e o sal é dinheiro (daí a palavra salário).
Ele era casado com uma senhora que só andava de cadeira de rodas e era bem mais velha que ele. Ela morreu há dois anos. Alguns meses depois, fomos convidados para tomar um chá da tarde em sua casa com a família de um sobrinho que é casado com uma brasileira. Ele fez questão de nos mostrar a sua casa inteira - quartos, banheiros -  fez a gente se sentar na cadeira do escritório pra ver como é macia e e até abriu os guarda-roupas, o que pra mim foi bem informal. Mas foi neste café da tarde que descobrimos quão importante é a formalidade para o alemão. Ele e o sobrinho dele, que também é seu afilhado, estavam de terno e gravata e o meu marido, de calça jeans e camisa pólo. Descobrimos também que não se deve arregaçar as mangas à mesa nem se levantar pra ir embora enquanto o anfitrião ainda está com o seu copo cheio. Posso te dizer que foi difícil sair dali, porque, apesar dos  oitenta e poucos anos, Herr Croll não deixava a peteca cair - mandou pra dentro uma cerveja atrás da outra, depois a saideira, -pinga de uva - depois mais outra. Não adiantou o Amanzor falar que já estava mais pra lá do que pra cá, ele não parava de encher o copo. Amanzor já estava vermelho e suando e Herr Croll, tranquilissimo como se estivesse bebendo água. Ele não consegue ouvir muito bem, fala bastante enrolado e em alemão, o que vem a piorar as coisas. Então, precisamos da interpretação mais do que bem vinda da sobrinha brasileira pra entender as piadas, pois ele solta uma atrás da outra. Depois de umas três horas, finalmente, conseguimos nos despedir e o Amanzor veio rolando escada abaixo de tão alto que estava.
Tão logo nos mudamos pra cá, vimos o nosso objeto de desejo parado na rua em frente a nosso janela: uma Mercedes- Benz  sedan verde-metálica com banco de couro creme e painel de madeira. E o dono? Herr Croll. Foi depois que vimos que ele deixava essa preciosidade parada na rua que deixamos de ter o trabalho de guardar o nosso VW na  garagem. Há alguns meses, Herr Croll teve um AVC enquanto dirigia. Ao entrar no túnel que passa por baixo da cidade, passou mal, perdeu a direção e não chegou a ver a luz no fim do túnel, a sorte é que não bateu em nínguém.  Vendeu o Mercedão verde, porque não estava mais nos trinques e comprou uma outra Mercedes zerinho e moderníssima.Liiiiiindaaaaa!!! Esse senhor é tão forte que  voltou a dirigir quando ainda nem andava direito, o que pra mim é uma imprudência. E, algumas semanas depois do ocorrido, o Amanzor  cruzou com ele no hall com uma dúzia de cerveja. Ele foi logo chamando o Amanzor  pra tomar umas com ele, coisa que, disse, iria fazer mesmo sozinho. Como o Amanzor falou pra deixar pra outro dia, ele nos convidou para jantar  no sábado seguinte em um restaurante super tradicional de Bad Godesberg, que era o segundo quartel general de Konrad Adenauer aqui em Bonn: o "Maternus". Como já disse em outro post, este restaurante é uma mãe: do lado de fora parece que é um lugar pequenininho, mas, quando você entra,  é super espaçoso, aconchegante e parece uma viagem ao passado. O lugar é uma relíquia, cheio de quadros e fotos da dona, Ria Maternus,  com pessoas famosas: George Bush, Reagan, Papa João Paulo II, políticos alemães. Saímos de casa às 17h30 ( isso mesmo!). Eu fui dirigindo porque não bebo e sei que tanto o meu marido quanto o homi enxugam uma. Fomos daqui até lá com ele elogiando a minha direção na neve. O ego inchou ainda mais tendo o elogio vindo de um alemão. Chegamos lá, não tinha ninguém. Nossa mesa estava reservada, sentamos, eu fui dar uma olhada geral no local com a Lara. Fantástico. Foi uma noite bem diferente, pois ele é muito engraçado, mas metade do que ele dizia a gente não entendia. A comida foi muito boa. Ele pediu e sugeriu para o Amanzor uma sopa de caldo de carne com Sherry ( álcool até na sopa) que foi "vertido" na sopa quando esta já estava servida, portanto, o arcu não teve tempo de evaporá. Depois, veio uma Mettwurst - o famoso salsichon -  só cozido na água, acompanhado de Kassler - presunto tipo tender passado na frigideira - Grünkohl, uma espécie de alguma verdura verde refogada com bacon e bem cremosa  e Bratkartoffeln, batatas em fatias não tão finas e passadas na frigideira com bacon até ficarem bem douradas. Tudo isso regado com muita cerveja. Ele não parava de servir o prato do Amanzor. Era muito engraçado, porque a gente não entendia muito bem o que ele dizia e mesmo assim dávamos risada quando percebíamos que era piada. Ô situação. Eu pedi Spätzle - um tipo de massa de gnocchi em formato rústico de macarrão com Strogonoff, só que bem diferente do que brasileiro está acostumado, e salada. O Amanzor já estava estourando, quando o tiozinho pediu mais salsicha pra fechar. Depois de tudo isso, ele me sugeriu uma sobremesa: queijo Camembert empanado com geléia de Cranberry e salsinha frita. Aqui é muito comum comer queijo de sobremesa. Claro que eu não consegui comer nem metade e ele, sem cerimônia, deu um guento no resto. Na conversa, ficamos sabendo que ele foi presidente da Cooperativa Agrícola alemã e que era advogado. Voltamos para casa, e o convidamos para entrar e tomar um vinho do porto. Fiquei olhando para aquele senhor em seus 83 anos bem vividos e pensando em como ele devia ser bonito quando jovem - já que ainda o era -  e também em toda experiência de vida que ele teve. O Amanzor, que é louco pra aprender a esquiar, então, perguntou: - O senhor esquiava bastante? E ele respondeu: Nunca.

 

domingo, 21 de março de 2010

Foi um rio que passou em minha vida.

O Reno é um rio altamente navegável que nasce nos Alpes e desagua no Atlântico na costa holandesa. Viver às suas margens tem sido uma das melhores experiências da minha vida. Eu, que tenho medo de água, me senti fascinada por ele tão logo o vi. Quando o apartamento em que vivemos hoje nos foi apresentado como uma das opções para morarmos, não tivemos dúvida que seria ele, por causa da vista que temos do rio.
Der Rhein - como é chamado em alemão -  traz o mundo para dentro de nossa casa. Nossa janela é como uma tela onde as cenas vão mudando em câmera lenta. Suas águas mudam de cor com a vontade do sol e refletem a luz da lua cheia, que nasce por trás das ruínas do Drachenfels e se projeta na parede da sala como numa brincadeira de criança.
 Por onde passa, o Reno reina absoluto. Ele permitiu por milhares de anos - e ainda permite - que a vida brote em abundância em suas margens. Aliás, ele parece  ter vida própria: sobe e desce como se pulsasse, arrepia suas águas com o vento e lambe as margens ao passar dos barcos, e assim, leitoso e tranquilo, deleita-se.  Um navio de carga, um caiaque, alguns navios de turismo, carros e trens do outro lado do rio,  pessoas correndo, passeando com bebês ou brincando com seus cachorros dão um certo movimento tranquilo e organizado à paisagem; em suas águas,  patos, cisnes, gaivotas; em suas margens e nos jardins das casas, pássaros, toupeiras, coelhos. Nas plantas, no tempo, nas roupas, no dia e na noite, as estações nítidas, quase que cronometradas, se apresentam e dão um toque extra ao que por si só já basta. 
No outono, as folhas brincam de camaleão: verde escuro, vermelho sangue, amarelo ouro, marrom dourado. E enquanto as cores brincam, as folhas caem e aveludam o chão. No inverno, a pausa. O cinza  e o marrom predominam na paisagem que a neve, às vezes, polvilha de branco; o vento frio queima os lábios, e enrijece os extremos, e enfraquece ainda mais a alma dos que já se deram por vencidos. Em muitas manhãs, uma neblina silenciosa desce ao rio e, só pra se mostrar, esconde tudo a olhos vistos. Na primavera, a vida pulsa: dias mais longos, flores, cores, cheiros, pólen, alergias. E o sol, depois da chuva ao fim da tarde, traz um arco-íris, às vezes, dois. No verão, muito verde novo, mais sol, mais calor, mais luz, mais cor, menos mofo, muita energia,  pouca roupa, muita preguiça,  muita vida que renasce nas praias às margens do Reno.  Dizem que Deus é brasileiro, mas eu tenho certeza que ele vem passar as férias por estes lados de vez em quando.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Só adultos, por favor.

Continuando o tópico sobre intolerância contra crianças, aí vai um artigo do Der Spiegel sobre uma comerciante de Berlim que resolveu abrir uma área em seu estabelecimento onde só se permite a entrada de adultos. Acredito que o problema não é a dona do café, pois as crianças são bem vindas na maior área do local. Ela não está proibindo a entrada dos pequenos em todo o seu estabelecimento, mas em uma área reservada aos  verdadeiros intolerantes. Ela pretende com isso ampliar o leque de clientes e faturar e está fazendo isso abertamente e criando uma discussão tremenda.
Eu me lembro que logo que chegamos aqui podia-se fumar em qualquer lugar. Ir a restaurantes era pedir para sair de lá com algum problema ocular ou respiratório. Então, paramos de ir.  Era uma proibição velada contra crianças cujos pais não são fumantes e que não acham que expor seus filhos a um ambiente altamente poluido seja natural. Era também uma inversão de valores: o seu direito individual de exibir seu vicio em público contra o meu direito natural de respirar ar puro. E muitas vezes eram estas mesmas pessoas incomodantes que se sentiam incomodadas pelas crianças andando pelo restaurante,  rindo, falando alto ou chorando. 
Nós só voltamos a frequentar restaurantes quando em julho de 2008 foi proibido fumar em lugares fechados, o que também levantou uma discussão tremenda sobre tolerância e direito individual ( diga-se de passagem:  na questão cigarro, o Brasil está anos-luz à frente da Alemanha). Mas ainda assim tem pessoas que reclamam quando as crianças se comportam como crianças e isso em qualquer lugar.
Os museus não proibem a entrada de crianças, mas muitos visitantes que querem silêncio para interpretar as obras em exposição, não pensam duas vezes antes de mandar a criança ficar quieta e isso na frente dos pais, principalmente quando percebem que estes são estrangeiros. Agora, mandar criança ficar quieta em  supermercado é demais. E eu já passei por isso mas não tive reação merecida de mandar a pessoa às favas. Uma vez estava na farmácia com a minha amiga baiana e sua filha, a melhor amiguinha da Lara. As duas meninas estavam brincando uma com a outra, rindo e falando alto enquanto a balconista estava falando com a gente. Não deu outra, a balconista levou o dedo na boca, fechou o semblante e mandou um SSSSHHHHHH bem alto pras duas meninas. A minha amiga rodou a baiana e falou alto e em bom alemão com a mulher que as crianças não eram cachorro e que ela não tinha direito de fazer assim com elas na frente das mães. Se ela tinha algum problema com o barulho das crianças que ela falasse com a gente. A mulher pediu desculpas mas não gostou nem um pouquinho. E eu aprendi mais uma lição: não tolerar intolerância.
Semana passada, no supermercado, uma criança estava andando de Laufrad ( uma bicicleta sem pedal pra crianças pequenas aprenderem a ter equilíbrio). Ela quase me atropelou. Depois, eu ouvi um barraco rolando mas não dei muita atenção.
Andando pelos corredores, encontrei uma amiga portuguesa e ela me perguntou: 
- Você viu o que aconteceu?
- Eu só ouvi, disse.
- Pois então, tinha uma criança andando de bicicleta e ela bateu numa mulher.
- Ah, ela quase bateu em mim também.
- A mulher meteu a mão na cabeça da criança e a mãe, que é muçulmana, não reagiu porque provalvemente não fala alemão. Aí, eu parti pra briga. Disse pra mulher que ela não podia fazer isso. Ela retrucou dizendo que tinha que se defender. Se defender de uma criança de menos de 2 anos? O que é isso? A senhora fez isso porque está na cara que a mãe e a criança não são alemães. Isso é caso de chamar a polícia - eu falei pra ela.
- E o que a mulher fez?
- Largou o carrinho de compras e foi embora. 
- Bem feito.
Existem outros casos que sofri na pele mas fica pra depois. Tenho que levar a Dona Lara pra aula de pintura.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Vizinho alemão intolerante é pleonasmo?

Nós moramos, há quatro anos, no primeiro andar de um prédio de  3 andares, sendo que embaixo do nosso apartamento só tem as garagens e o nosso depósito. Somos a única família no prédio inteiro com criança, uma criança.
No dia 6 de dezembro passado - dia em que as crianças ganham presentes de Sankt Nikolaus - o nosso vizinho do terceiro andar, que é casado, sem filhos e tem mais de 80 anos, bateu à nossa porta para entregar um pacote que o correio deixou com ele, pois nós não estávamos em casa ( coisa inaceitável no Brasil). Ele aproveitou a deixa para pedir que a Lara fizesse menos barulho ao andar, pois estava vibrando as paredes do apartamento deles. Demorou pra  cair a ficha e entender sobre o que ele estava falando, porque foi difícil conceber que uma garota de 4 anos fosse capaz de fazer tanto barulho ao andar ao ponto de atrapalhar um vizinho dois pisos acima. Pensei que ele pudesse ter se enganado com a fonte do barulho mas, mesmo assim, começamos a pedir que a Lara andasse com passos de flamingo em vez de passos de elefantinho. Por conta desse pedido, toda vez que ela quer nos irritar, ela anda batendo os pés o máximo que consegue. E consegue, assim, nos irritar.
Foi que hoje, a dona Lara resolveu dar um show bem na hora que eu abri a porta pra sair, porque não queria ir para a escola com a roupa que tinha escolhido e comprado ontem e separado para por hoje. Gritou, esperneou, se jogou no chão, bateu porta e fez que fez que passou a hora de entrar na escola e acabou ficando em casa e eu, que tenho pavio curto, não me contive e briguei com ela. Foi um grita pra cá, grita pra lá, ela batendo porta e pisando duro. O castigo pelo comportamento dela foi não assistir TV até a hora do pai chegar. Então, foi stress o dia inteiro.
No fim da tarde, ao buscar as cartas na caixa do correio, encontrei uma folha de sulfite com a parte do "Hausordnung" - o regulamento interno do prédio, que fala sobre barulho, e junto com ele um pedaço de uma folha de um livro onde se lia "Gebrauch des Sondereigentums" - Uso da propriedade individual ( na minha parca tradução) e destacado estava o item "Trampeln von kindern (wiederholtes Springen und Hüpfen): nicht zulässig" - crianças batendo pé (pulando e saltando repetidamente): não é permitido.   O stress do dia foi multiplicado por dois.
Alemão tem o costume de por o dedo na cara da gente quando acha que está certo, o que necessariamente não quer dizer que esteja. Ele ressaltou no "teco" do regulamento a questão do barulho durante o "Ruhezeit" - horário de descanso, que vai das 13h às 15h (acreditem se quiser, o povo aqui exige silêncio neste horário e isso é garantido por lei e pode constar no regulamento) e das 22h às 6h todos os dias e o dia inteiro nos domingos e feriados. O outro "teco" de papel, cuja fonte não foi informada,  ele só anexou ao primeiro pra reforçar  o que lhe convinha, mas não é parte do Hausordnung.
Logo depois da primeira reclamação que ele fez pessoalmente, por coincidência, encontrei um artigo sobre o tópico em uma revista dedicada à família, que dizia que os pais deveriam ( não são obrigados a) respeitar o horário de descanso o tanto quanto possível, mas que nos outros horários ningúem pode reclamar e que os vizinhos têm que tolerar o barulho não excessivo e não contínuo feito por crianças, principalmente as menores de 7 anos de idade. Também consegui outras fontes online sobre o tópico e sei que a reclamação dele não procede. Mas quem me conhece sabe que o stress já está instalado.
Eu não entendo como uma pessoa nessa idade, que nem mesmo escuta direito, pode se sentir incomodado com o barulho feito  dois pisos abaixo do seu, por uma criança. Eu também não entendo como uma pessoa que viveu tanto e já viu tanta coisa horrível relacionada à intolerância pode ter um comportamento desses. Eu também não consigo entender  por que só agora, já que ele sempre foi muito simpático com a gente. Eu entendo menos ainda por que tem gente que tolera cachorro mas não tolera criança, ainda mais em um país com tantos idosos cuja aposentadoria depende da força de trabalho futura das crianças e não dos cachorros. O pior é que ele não é o único. Eu sei que existem outras razões para as mulheres alemãs não quererem ter tantos filhos ou filho algum, mas com gente assim não é à toa que a Alemanha tem o indice mais baixo de natalidade da Europa.

The Bobs - The Best of Blogs

THE BOBs
Acompanhe aqui a votação para o melhor Weblog em Português. Hoje, o "Tudo de Bonn" está entre os 5 mais votados dos 11 finalistas. Muito obrigada. Em tempo: o engraçado é o prêmio chamar "The Bobs" e eu ser dona-de-casa. Tudo bem que eu não uso mais bob nos cabelos, mas costumo fazer uns rolinhos de vez em quando, só pra variar o visual.

segunda-feira, 15 de março de 2010

The Bobs - The Best of Blogs - Fui indicadaaaaa!!!!!!!

Genteeeee!!!!
O "Tudo de Bonn" foi nomeado para concorrer ao "Melhor Weblog em Português" no The BOBS - The Best of Blogs,o maior prêmio internacional do mundo para weblogs, podcasts e videologs, produzido pela Deutsche Welle. Foram 370 blogs sugeridos para a categoria e, nesta segunda etapa, 11 foram nomeados pelo júri. Agora é a vez do público. A votação vai de hoje até 14 de abril. Para votar no "Tudo de Bonn", siga os passos a seguir:

 Ninguém disse que seria fácil, mas faça uma Arletinha feliz.
Eu agradeço do fundo do coração. Será uma alegria para uma dona-de-casa - que entre uma atividade e outra escreve um pouco sobre a vida - saber que alguém gosta do que ela escreve. Beijos e Obrigada.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Poppelsdorf e Jardim Botânico

Bonn tem vários prédios importantes que  foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial mas restaurados em sua beleza e forma. O Castelo Poppelsdorf, é um deles. Ele foi construído em meados do século 18 para servir como residência ao príncipe electoral (Elector - não sei como se traduz isso) e hoje abriga o "Museu de Mineralogia e Petrologia (ã?) da Universidade de Bonn". Atrás do castelo, em seus jardins de fundo encontra-se desde 1818 o "Jardim Botânico" da Universidade de Bonn. Funciona como uma área de pesquisas botânicas bem como um parque público. O jardim,  em seus 13 hectares de área, abriga mais de 11 mil espécies de todo o mundo e é  um dos poucos lugares que possuem exemplares da planta Amorphophallus Titanum fora do seu habitat natural, a Sumatra.

Que planta é essa?
Amorphophallus Titanium é a maior "flor" conhecida no mundo, que quando floresce chega a atingir 3 metros de altura e 1,5 m de largura. Ela é o símbolo do Jardim Botânico de Bonn e feeeeeeede que dizem que parece que está em processo de digestão de um animal morto (lembra quando a  Dona Redonda, da novela Saramandaia, explodiu e onde caiu a bun...da dela nasceu uma flor gigante com o cheiro da parte em questão?Pois é, qualquer semelhança é mera coincidência). Ela floresce de 3 em 3 anos aproximadamente e a última vez foi em 2009. Eu desisti de vê-la e cheirá-la quando vi que a fila estava quilomêtrica e me contentei com as fotos. Para ver a fedida, clique aqui. 
As fotos abaixo foram tiradas em 2007 quando fomos ver a exposição de verduras e legumes em flores. Nunca pensei que o repolho, por exemplo, desse arvorezinhas tão bonitas e coloridas.

Aqui, uma foto do castelo destruído durante a Segunda Guerra

quinta-feira, 11 de março de 2010

A minha proposta de nome para o A380 da Lufthansa

Eu dei um nome para o Airbus da Lufthansa: "The Dawn". Se você acha que é um bom nome e gosta de mim, vote nele. Clique no link: A minha proposta de nome para o A380 da Lufthansa: "O maior e mais moderno avião de passageiros do mundo precisa de um nome. Venha ajudar-nos e ganhe 1 milhão de milhas de prémios Miles & More – em lufthansa.com/A380."

terça-feira, 9 de março de 2010

Homeschooling - Ensino em casa

Família alemã pede asilo aos Estados Unidos - e o tem - por se sentir parte de um grupo perseguido. Os cinco filhos da família Romeike não frequentam a escola desde 2006 e  são ensinados em casa pelos próprios pais. Por isso, as autoridades locais começaram a multá-los e a polícia passou a bater em sua porta para escortar as crianças até a escola.
Na Alemanha, homeschooling - termo inglês usado para designar a educação provida pelos próprios pais em casa-  é ilegal, como o é em vários outros paises, inclusive o Brasil. É sabido que todo cidadão tem direito à Educação e é dever do Estado provê-la. De fato, nestes paises, Educação, além de direito é um dever e toda criança em idade escolar deve estar matriculada e frequentar uma escola. Na Alemanha, os responsáveis que não cumprem este dever (ou não fazem uso deste direito) podem ser punidos com multa e até perda do pátrio poder.
A discussão levantada pelo homeschooling  está entre a liberdade de escolha dos pais de como seus filhos devem ser ensinados e o direito da criança em aprender a viver em sociedade e com outras crianças da mesma idade. No caso dos Romeike, eles argumentam que o currículo é contrário aos seus valores cristãos e que as escolas alemãs usam livros didáticos que forçam conteúdos inapropriados às crianças e contam estórias com personagens que promovem o desrespeito e o que é profano.Além disso, afirmam que  seus filhos estariam expostos a comportamentos inadequados e agressivos na escola.
Por outro lado, os países que não permitem o homeschooling dizem que a educação é um direito da criança e os pais não as podem privar de qualquer direito que lhes cabe. Os EUA agora estão numa sinuca porque deram asilo a cidadãos de um país ocidental e amigo e, por isso,  estão revendo a decisão judicial tomada por um juiz do Tenessee. O receio é que a jurisprudência venha gerar pedidos de asilo por motivos banais e diferentes dos quais ele é hoje indicado e justificado.Agora, eu não entendi uma pá de coisas nesta reportagem: os pais, que são músicos, disseram que são educadores disciplinados e que a rotina diária de estudos começa às nove da manhã e termina entre três e quatro da tarde e o pai ainda dá aulas de piano para pessoas da comunidade ENQUANTO ensina seus filhos. Como que ele consegue manter uma família de 5 filhos em um país estrangeiro dando aulas de piano em casa? Quem paga pra ter aula de piano com ele se concentra como com tanta gente em volta?  Pelas fotos da reportagem, parece que seus filhos tem uma disciplina monástica. Qual é o recurso disciplinar que ele utiliza pra conseguir este feito? Que tipo de pessoas este tipo de educação cria? 
A reportagem foi publicada na  revista Time desta semana e o texto acima é  interpretação minha. Portanto, se quiser beber direto da fonte: Give Me Your Tired, Your Poor, Your Homeschoolers

segunda-feira, 8 de março de 2010

Para todas as mulheres do mundo

Dia internacional da mulher
Dia da mulher internacional
Mães de todos os homens do mundo
Razão de estarmos aqui
Dia da mulher
Não só naqueles dias
Reconheçamos
Dia da mulher
Todos os dias.
Dias e noites
Meses e anos
Vidas inteiras
E não pela metade
Para todas as mulheres do mundo .


Arlete

domingo, 7 de março de 2010

Burg Eltz - Eltztive lá

O Burg Eltz é um castelo que fica a mais ou menos 1 hora aqui de casa em Münstermaifeld no estado de Rheinland Pfalz. É um dos castelos mais bonitos, bem preservados e ricos, tanto em arquitetura quanto em decoração e história.
O mais curioso a respeito deste castelo é que para chegar até ele precisamos descer e não subir uma montanha e depois cruzamos uma ponte, pois ele fica sobre uma rocha circundada láaaaaa embaixo, pelo rio Eltz. Este rio (que mais parece um riacho) é tributário do rio Mosel, um dos rios mais importantes da região e que fora uma das maiores rotas de comércio medieval.
Outra curiosidade é que ele está na mesma família de nobres - que tem o nome do rio -  há um pouco mais de 850 anos ou  mais de 30 gerações, quando o Brasil nem projeto de descoberta era. A arquitetura atual é a mesma desde 1600 DC. O castelo sobreviveu intacto por séculos devido à diplomacia inteligente e à rede política e social da família Eltz, sendo uns dos poucos que escapararam da destruição. Isso não quer dizer que não tenha sido atacado.Em exposição, estão dezenas de bolas de pedra atiradas por catapulta ao castelo e armas usadas nos ataques.
Durante a Idade Média, três ramos da mesma família, os Rübenach, os Rodendorf e os Kempenich, num total aproximado de 100 membros, moraram simultaneamente em 100 aposentos do castelo. Os nomes originais dos clãs eram Leão de Ouro, Leão de Prata e Chifres de Búfalo.  Atualmente, o castelo é  propriedade exclusiva de um único membro do ramo  Leão de Ouro, ramo que se tornou único dono do complexo a partir de 1815.
Em seu interior, determinados aposentos se encontram em sua forma original e  se mantêm decorados com móveis medievais em perfeito estado. Tem uma área com exposição só de relíquias e tesouros, que são de babar. As visitas só são possíveis com guias e são super interessantes por ter tantas salas abertas ao público, mas não podemos tirar fotos na parte interna. Pra ver alguns dos aposentos e ter mais informações, clique aqui.
Entrar em lugares como este é uma viagem no tempo. A história parece impregnada em todos os vãos do local. É muita informação pra absorver com todos os sentidos. E tem-se a sensação que a alma do lugar tenta entrar pelos poros. Me dá arrepios e também satisfação. Passeio perfeito.

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