Domingo agora vou assistir ao "Dance Masters - Best of Irish Dance" aqui mesmo em Bad Godesberg. E estou planejando ir assistir ao Igudesman & Joo" em dezembro, em Bonn. Não tenho muita paciência para música clássica, mas adoro tudo que tenha um toque de humor. Quem quer ir junto? Ou quem se habilita a ficar com a Lara pro marido ir junto? hihihi
Relatos, crônicas e divagações sobre a vida na cidade de Bonn, Alemanha e, desde julho de 2013, também sobre a vida em Curitiba.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Bastardos Inglórios
Eu adoro filmes relacionados à Segunda Guerra - ontem mesmo assisti "O menino de pijama listrado" - e meu querido primo Marcello, do Parábolica do Blum, escreveu uma crítica que me deixou com água na boca para assistir o novo fime de Quentin Tarantino, "Inglourious Basterds". Faz a gente rir, sentir-se culpado por achar tanta violência apropriada à situação e se sentir vingado ao mesmo tempo. Se em algum momento fosse verdade, a história da Alemanha seria outra, talvez... Leia aqui.
sábado, 24 de outubro de 2009
Schweinegrippe - H1N1
Eu não entendo porque alemão é tão chegado num Frische Luft (ar fresco) mas, quando está dentro de um recinto fechado, o mantém hermeticamente lacrado, com todas as janelas, portas e buraquinhos meticulosamente vedados. Tudo bem que isso pode ter a ver com economia no aquecimento, mas também pode ser a explicação para o excesso de viroses, resfriados e gripes que se espalham por todos os cantos nesta época fria do ano. Os ambientes fechados ficam com ar viciado e o choque térmico quando se sai para o ar livre é inevitável. Para quem sofre com mudanças bruscas de temperatura, isso é pior do que , num calor de 35C (cadê a bolinha de numeral ordinal), em pleno verão brasileiro, o indivíduo entrar em uma loja de rua com ar condicionado a todo vapor. Em nenhum país tropical, ninguém em sã consciência, por mais calor que esteja, mantém o ar condicionado ligado entre -5C e 3C, temperaturas normais na rua durante o inverno daqui. Portanto, o choque térmico ao sair às ruas no inverno daqui é muito maior do que o de entrar em locais com ar condicionado no verão daí. Mas de qualquer forma as duas coisas me fazem mal igual.
As minhas aulas de alemão começaram em 29 de agosto e desde 12 de outubro - ou seja, depois de um mês e meio de aula - estamos em férias de outono (depois dizem que brasileiro é que é folgado). No último dia de aula antes das férias, cheguei na sala e a turma anterior tinha acabado de sair. A sala estava com aquele ar pesado de respiração engarrafada. A porta estava aberta para os alunos do meu grupo entrarem. Quando a maioria chegou, a professora resolveu fechar a porta e eu pedi que ela abrisse, então, as janelas no "kipp" - aqui as janelas tem a possibilidade de serem mantidas abertas em uma certa inclinação para ventilação parcial. Justifiquei o meu pedido dizendo que o ar estava pesado e que tinhamos que arejar a sala para nos proteger contra a Gripe Suína - Schweinegrippe.
Qual não foi a minha surpresa quando ela disse que não há casos de H1N1 na Alemanha! Eu retruquei dizendo que tinha lido naquela semana mesmo uma reportagem do General Anzeiger, jornal regional de grande circulação, informando que até aquele momento já tinham sido constatados 299 casos somente em Nordrhein Westfalen, nosso estado. Disse também que o Kindergarten da minha filha tinha divulgado medidas de contenção da doença através de um comunicado oficial da Secretaria de Saúde e que os consultórios médicos que frequento também. A minha surpresa maior foi a colega mexicana dizer que a epidemia não começou no México e que a coisa não "foi" tão feia quanto dizem. Na verdade, foi o jeito encontrado para desviar a atenção da população mexicana da crise econômica que estava por atingir o país.
Eu não sei se isso é falta de informação ou excesso de burrice. Talvez a soma das duas coisas. Como acredito que a informação continua sendo a melhor arma contra a ignorância, aqui vão duas fontes de informação, uma é em inglês e a outra, em alemão:
A Microsoft lançou o site "H1N1 Swine Flu Response Center" para ajudar quem estiver com sintomas de gripe a fazer uma autoavaliação, não se desesperar e/ou ganhar tempo no consultório médico durante a anamnese. Quem quiser saber o que tem sido feito, como se proteger, previsão de vacinação e em que pé (de porco) está a gripe no estado de NRW, clique aqui. Este site informa que, com a morte ontem de um senhor de 65 anos em Baden-Württemberg, subiu para 3 o número de casos fatais na Alemanha até o momento.
As minhas aulas de alemão começaram em 29 de agosto e desde 12 de outubro - ou seja, depois de um mês e meio de aula - estamos em férias de outono (depois dizem que brasileiro é que é folgado). No último dia de aula antes das férias, cheguei na sala e a turma anterior tinha acabado de sair. A sala estava com aquele ar pesado de respiração engarrafada. A porta estava aberta para os alunos do meu grupo entrarem. Quando a maioria chegou, a professora resolveu fechar a porta e eu pedi que ela abrisse, então, as janelas no "kipp" - aqui as janelas tem a possibilidade de serem mantidas abertas em uma certa inclinação para ventilação parcial. Justifiquei o meu pedido dizendo que o ar estava pesado e que tinhamos que arejar a sala para nos proteger contra a Gripe Suína - Schweinegrippe.
Qual não foi a minha surpresa quando ela disse que não há casos de H1N1 na Alemanha! Eu retruquei dizendo que tinha lido naquela semana mesmo uma reportagem do General Anzeiger, jornal regional de grande circulação, informando que até aquele momento já tinham sido constatados 299 casos somente em Nordrhein Westfalen, nosso estado. Disse também que o Kindergarten da minha filha tinha divulgado medidas de contenção da doença através de um comunicado oficial da Secretaria de Saúde e que os consultórios médicos que frequento também. A minha surpresa maior foi a colega mexicana dizer que a epidemia não começou no México e que a coisa não "foi" tão feia quanto dizem. Na verdade, foi o jeito encontrado para desviar a atenção da população mexicana da crise econômica que estava por atingir o país.
Eu não sei se isso é falta de informação ou excesso de burrice. Talvez a soma das duas coisas. Como acredito que a informação continua sendo a melhor arma contra a ignorância, aqui vão duas fontes de informação, uma é em inglês e a outra, em alemão:
A Microsoft lançou o site "H1N1 Swine Flu Response Center" para ajudar quem estiver com sintomas de gripe a fazer uma autoavaliação, não se desesperar e/ou ganhar tempo no consultório médico durante a anamnese. Quem quiser saber o que tem sido feito, como se proteger, previsão de vacinação e em que pé (de porco) está a gripe no estado de NRW, clique aqui. Este site informa que, com a morte ontem de um senhor de 65 anos em Baden-Württemberg, subiu para 3 o número de casos fatais na Alemanha até o momento.
sábado, 17 de outubro de 2009
Festa Viking no Burg Satzvey
Ao longo do Reno, Mosel e Eifel, principais rios onde os melhores vinhos alemães são produzidos, existem dezenas de castelos, palácios e ruínas medievais, a maioria aberta à visitação, sendo que vários deles oferecem mais do que simplesmente um tour interno. Um destes é o Burg Satzvey, que fica a uma hora de Bonn. Ele tem uma grade de programação extensa, recheada principalmente de eventos relacionados à Idade Média: torneio de cavaleiros medievais, luta de vikings, mercado das bruxas, noite dos fantasmas etc.
Em setembro fomos ao Wikingspiele. Muita comida boa, muitas barracas com roupas medievais e demonstrações de produção têxtil, de jóias e ferragens, apresentações musicais e performances. Participar de um evento destes é experimentar uma época remota só vista em filmes e livros, mas que é mantida viva por muitos grupos que se reúnem, se vestem e vivem hoje como se vivia naquela época. Outros simplesmente se fantasiam para participar do evento e entrar no clima.
Este é um grupo que está em todas as festas medievais que eu já fui. Parece algo meio punk misturado com tribal, escocês e gay. As misturas dão os resultados mais interessantes.
Em setembro fomos ao Wikingspiele. Muita comida boa, muitas barracas com roupas medievais e demonstrações de produção têxtil, de jóias e ferragens, apresentações musicais e performances. Participar de um evento destes é experimentar uma época remota só vista em filmes e livros, mas que é mantida viva por muitos grupos que se reúnem, se vestem e vivem hoje como se vivia naquela época. Outros simplesmente se fantasiam para participar do evento e entrar no clima.
Este é um grupo que está em todas as festas medievais que eu já fui. Parece algo meio punk misturado com tribal, escocês e gay. As misturas dão os resultados mais interessantes.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Amélia nasceu na Índia
Fomos convidados por um colega de trabalho do Amanzor para um jantar em sua casa, juntamente com um casal inglês, um romeno e um americano. O que embananou o meio de campo foi o fato do anfitrião e sua família serem indianos. Por que será?
Quando mudamos para a Alemanha, apesar de ser um país do Ocidente, houve uns choquinhos culturais, sociais, alimentares, línguísticos etc. Mas não tivemos receios em relação à religião, economia, dress code, leis absurdas ou extremamente diferentes das brasileiras. Imagino que num país do Oriente eu viria a ter problemas sérios. E este convite foi pra mim um test drive.
Presente
Quando somos convidados pela primeira vez à casa de alguém, é costume alemão levar algum presente em agradecimento pelo convite. A dificuldade começou daí. Levar vinho? Levar flores? Levar alguma coisa pra casa? Como eles têm duas crianças, uma de 6 anos e um de 1 ano e meio, pensei em levar presente para eles, mas fiquei com receio de levar algo inadequado. Não sabia se havia alguma restrição quanto a brinquedos ou chocolate, por exemplo. Então, resolvi comprar um livro com dicas de lugares para passear com as crianças aqui na Alemanha. E pra não cometer nenhuma gafe ou me sentir tentada, nem máquina fotográfica levei.
Deuses indianos X deuses tecnológicos
Nunca tive vontade de ir à India, mas, nesta visita, tive a sensação de um pouquinho da Índia ter vindo até mim. Quando chegamos, Parkash, o anfitrião, que é super simpático mas que se negou a me cumprimentar no rosto, começou a nos apresentar o templo cheio de deuses que fica na sala de estar. Foi engraçado porque ele falou sobre eles com um certo humor. Sobre um deles ele disse: "Este é o deus que me protege quando eu viajo mas só se eu deixar 1 euro pra ele. Como ele não exige muito, é melhor não arriscar". Como os deuses eram muitos, inclusive alguns ainda vivem na Índia, ele disse que aquela aula tinha acabado e o resto ficava pra próxima. Enquanto isso, as crianças brincavam de Wii com uma televisão de tela plana enorme numa estante repleta de DVDs. A dona da casa, Krathi, estava na cozinha, veio nos cumprimentar e retornou.
Etiqueta ou nós à mesa...
Como receber convidados e como se comportar à mesa definitivamente varia de cultura para cultura e o que conhecemos por etiqueta é o que foi criado nesta banda do planeta. É à mesa que mais sentimos o choque cultural, tanto pelo que é servido, quanto pela forma de comê-lo.
Não havia mesa posta, nem pratos, nem talheres dispostos, somente pratos de papelão para os restos. Krathi trouxe a entrada: carré de ovelha e coxas de frango, com os ossos devidamente embrulhados em aluminio para se comer com as mãos. Como indiano gosta de comida apimentada e eles tem consciência disso (mas não muita), alguns dias antes, fomos perguntados se gostávamos de comida "temperada" e o Amanzor pediu para ser mais suave, se possível. O difícil é saber o que eles consideram mais suave. Na dúvida, eu tentei dar janta pra Lara em casa mas ela não quis por ser muito cedo. Então, resolvemos arriscar e ver se ela comeria alguma coisa. Krathi então nos mostrou o prato com a carne supostamente sem pimenta. Experimentei e quase perdi o fôlego. Tive a sensação de ter soltado fogo pelas ventas. Definitivamente, a Lara não comeria e nem eu deixaria que ela comesse. Em contrapartida, a menina de 6 anos se serviu dos mais apimentados e saiu lambendo os beiços e os dedos. Depois, ela retornou à mesa com uma prato cheio de arroz branco ( que eu achei ser a minha salvação) e um creme branco por cima, que o pai disse ser iogurte natural sem tempero. E aí ela começou a comer aquela meleca com as mãos. E eu tive que parar de olhar (podem me chamar de nojenta).
...e a esposa na cozinha
Me senti mal de estarmos todos na sala e a esposa sozinha na cozinha preparando as coisas. Fui até lá conversar e tentar ajudá-la mas, assim que cheguei, ela parou o que estava fazendo. Comecei a conversar mas vi que, se continuasse ali, iria atrapalhá-la, pois ela parou pra me dar atenção. Daqui a pouco, o marido, da sala, manda ela servir o jantar. Ela deve ter passado o dia inteiro cozinhando. Trouxe os panelões de comida: um creme de camarão seco, cubos de carneiro fritos, um arroz com frango parecido com risoto só que mais seco, uma sopa de vegetais com curry (só pra variar), o salvador arroz branco e potes e potes de iogurte natural. A aparência da comida estava ótima, mas infelizmente tudo tinha o mesmo gosto: pimenta, pimenta, pimenta, curry, curry, curry. Exceto o arroz, que não tinha gosto nenhum porque foi feito sem tempero algum. E pra que o iogurte? Pra aliviar a queimação da pimenta. Ã? Será que eu entendi direito? Eles enchem a comida de pimenta e depois comem iogurte natural pra aliviar? Pra mim isso é sofrer duas vezes. O Romeno teve que pedir socorro, pois a água não estava aliviando, e mandou pra dentro dois potes de iogurte, que disse ter sido o melhor iogurte que já comeu na vida, pois veio na hora certa.
Só olhando
Eu me servi de camarão e arroz branco. O camarão era seco e com casca. Comi super pouco e fui surpreendida com um "você só comeu isso? Tem que comer mais". Acho que pelo costume deles eu fui mal educada, pois me neguei a comer mais dizendo já estar satisfeita. Foi aí que percebemos que eles não estavam comendo. Perguntamos se fazia parte da tradição indiana não comer junto com os convidados. Eles disseram que antigamente era assim mas que agora eles simplesmente não estavam com fome. Depois de uns 40 minutos se serviram. Hora da sobremesa: uma bacia de frutas cortadas em cubos para serem comidas coletivamente com as mãos ( ou garfo se você não se sentisse à vontade).
Casamento
Se por um lado não invejei a situação de Krathi como mulher, por outro, a admirei como mãe - e posso dizer que ela me pôs no chinelo e me enrolou no Sari. Ela disse ter alfabetizado sua filha em inglês quando esta tinha 3 anos e que nas últimas férias, resolveu ensinar Tamil, a sua lingua mãe, para a menina. Ela teve a disciplina de durante todos os dias das férias, por uma a duas horas diárias (redundar para enfatizar), ensinar o alfabeto de 247 caracteres e que mais parece um bordado do que letra. E a menina, já sabe ler e escrever isso, além de já sabe tocar piano muito bem. Meus deuses!!!
Despedida
A Lara costuma ir dormir por volta das oito e meia, nove horas da noite. Sempre foi assim ou mais cedo. Já eram 23h30 e perguntei a que horas o bebê costumava ir para a cama e disseram que nunca antes da meia-noite. Nossa! Que ânimo o dessa mulher! Mas eu já tinha perdido o fôlego fazia tempo e então resolvemos nos despedir. Qual não foi a nossa surpresa quando Parkash nos trouxe uma embalagem enoooooorme de chocolate para a Lara. E eu que estava achando que chocolate para as crianças deles não seria um bom presente!
Quando mudamos para a Alemanha, apesar de ser um país do Ocidente, houve uns choquinhos culturais, sociais, alimentares, línguísticos etc. Mas não tivemos receios em relação à religião, economia, dress code, leis absurdas ou extremamente diferentes das brasileiras. Imagino que num país do Oriente eu viria a ter problemas sérios. E este convite foi pra mim um test drive.
Presente
Quando somos convidados pela primeira vez à casa de alguém, é costume alemão levar algum presente em agradecimento pelo convite. A dificuldade começou daí. Levar vinho? Levar flores? Levar alguma coisa pra casa? Como eles têm duas crianças, uma de 6 anos e um de 1 ano e meio, pensei em levar presente para eles, mas fiquei com receio de levar algo inadequado. Não sabia se havia alguma restrição quanto a brinquedos ou chocolate, por exemplo. Então, resolvi comprar um livro com dicas de lugares para passear com as crianças aqui na Alemanha. E pra não cometer nenhuma gafe ou me sentir tentada, nem máquina fotográfica levei.
Deuses indianos X deuses tecnológicos
Nunca tive vontade de ir à India, mas, nesta visita, tive a sensação de um pouquinho da Índia ter vindo até mim. Quando chegamos, Parkash, o anfitrião, que é super simpático mas que se negou a me cumprimentar no rosto, começou a nos apresentar o templo cheio de deuses que fica na sala de estar. Foi engraçado porque ele falou sobre eles com um certo humor. Sobre um deles ele disse: "Este é o deus que me protege quando eu viajo mas só se eu deixar 1 euro pra ele. Como ele não exige muito, é melhor não arriscar". Como os deuses eram muitos, inclusive alguns ainda vivem na Índia, ele disse que aquela aula tinha acabado e o resto ficava pra próxima. Enquanto isso, as crianças brincavam de Wii com uma televisão de tela plana enorme numa estante repleta de DVDs. A dona da casa, Krathi, estava na cozinha, veio nos cumprimentar e retornou.
Etiqueta ou nós à mesa...
Como receber convidados e como se comportar à mesa definitivamente varia de cultura para cultura e o que conhecemos por etiqueta é o que foi criado nesta banda do planeta. É à mesa que mais sentimos o choque cultural, tanto pelo que é servido, quanto pela forma de comê-lo.
Não havia mesa posta, nem pratos, nem talheres dispostos, somente pratos de papelão para os restos. Krathi trouxe a entrada: carré de ovelha e coxas de frango, com os ossos devidamente embrulhados em aluminio para se comer com as mãos. Como indiano gosta de comida apimentada e eles tem consciência disso (mas não muita), alguns dias antes, fomos perguntados se gostávamos de comida "temperada" e o Amanzor pediu para ser mais suave, se possível. O difícil é saber o que eles consideram mais suave. Na dúvida, eu tentei dar janta pra Lara em casa mas ela não quis por ser muito cedo. Então, resolvemos arriscar e ver se ela comeria alguma coisa. Krathi então nos mostrou o prato com a carne supostamente sem pimenta. Experimentei e quase perdi o fôlego. Tive a sensação de ter soltado fogo pelas ventas. Definitivamente, a Lara não comeria e nem eu deixaria que ela comesse. Em contrapartida, a menina de 6 anos se serviu dos mais apimentados e saiu lambendo os beiços e os dedos. Depois, ela retornou à mesa com uma prato cheio de arroz branco ( que eu achei ser a minha salvação) e um creme branco por cima, que o pai disse ser iogurte natural sem tempero. E aí ela começou a comer aquela meleca com as mãos. E eu tive que parar de olhar (podem me chamar de nojenta).
...e a esposa na cozinha
Me senti mal de estarmos todos na sala e a esposa sozinha na cozinha preparando as coisas. Fui até lá conversar e tentar ajudá-la mas, assim que cheguei, ela parou o que estava fazendo. Comecei a conversar mas vi que, se continuasse ali, iria atrapalhá-la, pois ela parou pra me dar atenção. Daqui a pouco, o marido, da sala, manda ela servir o jantar. Ela deve ter passado o dia inteiro cozinhando. Trouxe os panelões de comida: um creme de camarão seco, cubos de carneiro fritos, um arroz com frango parecido com risoto só que mais seco, uma sopa de vegetais com curry (só pra variar), o salvador arroz branco e potes e potes de iogurte natural. A aparência da comida estava ótima, mas infelizmente tudo tinha o mesmo gosto: pimenta, pimenta, pimenta, curry, curry, curry. Exceto o arroz, que não tinha gosto nenhum porque foi feito sem tempero algum. E pra que o iogurte? Pra aliviar a queimação da pimenta. Ã? Será que eu entendi direito? Eles enchem a comida de pimenta e depois comem iogurte natural pra aliviar? Pra mim isso é sofrer duas vezes. O Romeno teve que pedir socorro, pois a água não estava aliviando, e mandou pra dentro dois potes de iogurte, que disse ter sido o melhor iogurte que já comeu na vida, pois veio na hora certa.
Só olhando
Eu me servi de camarão e arroz branco. O camarão era seco e com casca. Comi super pouco e fui surpreendida com um "você só comeu isso? Tem que comer mais". Acho que pelo costume deles eu fui mal educada, pois me neguei a comer mais dizendo já estar satisfeita. Foi aí que percebemos que eles não estavam comendo. Perguntamos se fazia parte da tradição indiana não comer junto com os convidados. Eles disseram que antigamente era assim mas que agora eles simplesmente não estavam com fome. Depois de uns 40 minutos se serviram. Hora da sobremesa: uma bacia de frutas cortadas em cubos para serem comidas coletivamente com as mãos ( ou garfo se você não se sentisse à vontade).
Casamento
Depois dizem que brasileiro que é cara de pau e pergunta as coisas na bucha. A inglesa perguntou se o casamento deles tinha sido arranjado pela família. E Parkash disse: "Claro!". E a inglesa quis saber como foi. Ele estudava na Malásia - hoje é especialista em sistemas de informação - e toda vez que voltava pra casa a família dizia que estava na hora de casar, mas ele conseguia postergar. Então, teve uma vez que ele retornou e o pai já estava com 4 ou 5 pretendentes preparadas. Ele teve que visitá-las e escolher uma delas, sem nem mesmo poder ver o rosto direito pois elas tem que manter o queixo no peito e não olhar para o pretendente. Ele escolheu Krathi e, sem terem conversado, se casaram - há 9 anos. A inglesa perguntou se ela pensou em rejeitá-lo. Ela disse que isso não passa pela cabeça das mulheres indianas, pois elas devem respeito aos pais e o que eles decidem é o melhor para elas. Pensei cá com os meus botões, essa é a verdadeira Amélia, o que não quer dizer que é a mulher de verdade, só uma variação sobre o mesmo tema.
Educação
Despedida
A Lara costuma ir dormir por volta das oito e meia, nove horas da noite. Sempre foi assim ou mais cedo. Já eram 23h30 e perguntei a que horas o bebê costumava ir para a cama e disseram que nunca antes da meia-noite. Nossa! Que ânimo o dessa mulher! Mas eu já tinha perdido o fôlego fazia tempo e então resolvemos nos despedir. Qual não foi a nossa surpresa quando Parkash nos trouxe uma embalagem enoooooorme de chocolate para a Lara. E eu que estava achando que chocolate para as crianças deles não seria um bom presente!
Foi uma noite com conversa super agradável, fartura de simpatia e de comida, apesar dos meus olhos cheios d´água. Foi bom ver que diferenças culturais, alimentares, religiosas não nos fazem menos humanos ou mais porcos ou mais certos ou mais errados - em algum lugar do mundo isso é normal, é ser igual, independente de classe social ou casta. Foi bom ver que não é necessário se adaptar a tudo quando vivemos num lugar diferente e que nossas convicções pessoais ou culturais podem ser mantidas, sem vergonha de distoarmos da maioria. Dizem que em terra de sapo de cócoras com eles, mas também dizem que it takes all sorts to make a world e também que one man´s meat is another man´s poison. Já pensou que chato e entediante se todos fóssemos, pensássemos e agíssemos iguais?
Exemplo de uma palavra escrita em Tamil
Me perdoem os que sabem ler se o que estiver escrito for palavrão.
sábado, 10 de outubro de 2009
Mine, mine,mine!!!
Temos tido companheiras frequentes em nosso jardim. Nunca pensei que um dia fóssemos dar pão pra gaivota diretamente da varanda de casa. Em São Paulo, nosso apartamento fica no décimo andar em plena Avenida Jabaquara e a gente ficava extasiado de ver uma cegonha que passava todo dia pela nossa janela. A gente achava que ela passava de manhã do Jardim Botânico para o Ibirapuera e a tarde fazia o caminho de volta, como se também seguisse a rotina de trabalho da cidade. Também ficávamos admirados de ter um urubu que fez um ninho na sacada de uma janela do prédio vizinho - o dono do apartamento também devia gostar da idéia, pois parecia não se importar com o hóspede. Aqui não tem urubu, mas tem um pássaro lindo chamado "elster" que tem fama de ladrão porque leva embora tudo que brilha e gosta de revirar lixo também. Já tive a surpresa de encontrar meu lixo todo revirado na varanda, fiquei quietinha e vi quem era o culpado. Também tem muito corvo, que acho ser um bicho imponente e meio assustador.
Voltando às gaivotas. Elas estão acostumadas a pedir pão pra gente. Uma amiga minha, a Samara, que mora em Calgary, disse que isso é proibido no Canadá. Mas aqui acho que não é, senão os alemães não fariam isso. Então, a gente segue o ditado "Monkey see, monkey do".
Não sei porque mas tive a impressão de já ter escrito sobre isso.
Voltando às gaivotas. Elas estão acostumadas a pedir pão pra gente. Uma amiga minha, a Samara, que mora em Calgary, disse que isso é proibido no Canadá. Mas aqui acho que não é, senão os alemães não fariam isso. Então, a gente segue o ditado "Monkey see, monkey do".
Não sei porque mas tive a impressão de já ter escrito sobre isso.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Teoria de Cordas -
Terça-feira passada foi divulgado o resultado da premiação do Nobel de Física. Os prêmios foram dados para três cientistas devido às suas descobertas/invenções entre as décadas de 60/70 que deram base para o surgimento da internet e da digitalização de imagens. Ou seja, levou 40 anos para que eles ganhassem o prêmio. Por que estou falando sobre isso já que nenhum deles é alemão e o prêmio Nobel é sueco? Não fossem os três, eu não estaria escrevendo este blog. Não fosse o blog...
Há uns dois meses, um brasileiro googlou "Bonn" e a primeira referência foi o meu blog. Ele me contatou por e-mail pedindo informações específicas sobre a cidade e o modo de vida, pois em setembro viria para cá estudar como bolsista da Universidade de Bonn. Ontem, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. O nome dele é Daniel, tem 21 anos e ficará por aqui durante uns 3 ou 4 anos até completar o seu Doutorado em Física, mais especificamente em "Teoria das Cordas"(me corrija, Daniel, se eu estiver errada). Ele entrou na Universidade de Brasília aos 15 anos; aos 20, obteve o título de Mestre pela Unesp, no campus da capital; e agora está por aqui para se tornar Doutor em Física.
Por enquanto, ele está vendo na prática como a teoria do "make ends meet" funciona, apertando o cinto até aprender a se virar por aqui. Com o frio e a neve, vai aprender que a lei da inércia e da gravidade funciona, principalmente, se não estiver com o sapato apropriado; que abaixo de zero, tudo que tem líquido congela, incluindo o corpo humano, se não estiver vestido adequadamente; que a eletrostática por estes lados é de chocar; que o frio atrai o quente e por isso tem que aprender a usar o Heizung direito pra não sofrer no bolso; que "Go Green" é mais do que ficar verde de raiva com a violência e o trânsito caótico das capitais brasileiras e sim um estilo de vida já praticado por aqui; que no mundo nada se perde, tudo se transforma e que a reciclagem é lei, passível de multa, se não cumprida; ; que Bonn é um outro planeta e que aqui somos "Legal Aliens"; que Bonn é multiculti e que, apesar de dois corpos não poderem ocupar o mesmo espaço, muitos países podem ocupar uma mesma cidade; que, se não for bem calculado com precisão matemática, o dinheiro viaja pra fora do bolso à velocidade da luz; e outros infinitos, incontáveis, imensuráveis achados.
Quem sabe, daqui a uns 30, 40 anos, ao ser divulgado o prêmio Nobel de Física, eu não vou poder dizer que conheço o ganhador? Só não vou poder dizer: - "Peguei esse menino no colo!", como normalmente as vovós de 80 anos dizem, basta ver o tamanho dele perto de mim na foto abaixo. Boa sorte, Daniel, e bem vindo à Bonn.
Por enquanto, ele está vendo na prática como a teoria do "make ends meet" funciona, apertando o cinto até aprender a se virar por aqui. Com o frio e a neve, vai aprender que a lei da inércia e da gravidade funciona, principalmente, se não estiver com o sapato apropriado; que abaixo de zero, tudo que tem líquido congela, incluindo o corpo humano, se não estiver vestido adequadamente; que a eletrostática por estes lados é de chocar; que o frio atrai o quente e por isso tem que aprender a usar o Heizung direito pra não sofrer no bolso; que "Go Green" é mais do que ficar verde de raiva com a violência e o trânsito caótico das capitais brasileiras e sim um estilo de vida já praticado por aqui; que no mundo nada se perde, tudo se transforma e que a reciclagem é lei, passível de multa, se não cumprida; ; que Bonn é um outro planeta e que aqui somos "Legal Aliens"; que Bonn é multiculti e que, apesar de dois corpos não poderem ocupar o mesmo espaço, muitos países podem ocupar uma mesma cidade; que, se não for bem calculado com precisão matemática, o dinheiro viaja pra fora do bolso à velocidade da luz; e outros infinitos, incontáveis, imensuráveis achados.
Quem sabe, daqui a uns 30, 40 anos, ao ser divulgado o prêmio Nobel de Física, eu não vou poder dizer que conheço o ganhador? Só não vou poder dizer: - "Peguei esse menino no colo!", como normalmente as vovós de 80 anos dizem, basta ver o tamanho dele perto de mim na foto abaixo. Boa sorte, Daniel, e bem vindo à Bonn.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Estudar e pesquisar na Alemanha
A Sandra Santos, do Mineirinha na Alemanha, publicou um post sobre Feira de Intercâmbio acadêmico na Alemanha, que acontecerá em São Paulo no dia 24 de outubro. Vai lá dar uma olhada.
Há um ano, meu pai partiu.
Há exatamente um ano, meu pai partiu. Publico aqui a carta que escrevi aos meus amigos e parentes quando de sua morte.
"Aos amigos e parentes,
Hoje, depois de uma longa batalha, meu pai se foi.
Por mais que nestes 71 dias de internação, ele tenha lutado contra todos os problemas que surgiram, não lhe restou mais forças, apesar da vontade de viver.
Coube a nós juntar forças para não sofrer tanto, quando esta hora chegasse. Mas elas também não são suficientes para que aceitemos sem pesar a única coisa que é certa na vida. Não há preparo para a perda. Não há preparo para a morte.
Dizer que foi melhor assim, que agora ele descansou, que ele está junto de Deus, em algum momento alivia a dor. Mas ele não vai mais estar ali, sentado na sua poltrona preferida, com os cotovelos apoiados em suas pernas, assistindo televisão e falando "Escuta, escuta", xingando os políticos e assistindo novela, gritando ao pé da escada: "Dercy, cadê aquela cueca que eu gosto?", ou gritando pela casa a fora: "Dercy, Dercy", só pra saber onde ela está.
As nossas lembranças de um homem rabugento, briguento, pai-patrão, que nao media palavras para ofender, que só fazia as coisas como bem entendia, que deu algumas escorregadas na vida, se juntam as lembranças de um homem que, somente com o quarto ano primário, construiu uma vida sem carências para sua família; um pai trabalhador, que consertava TVs, rádios transistors e vitrolinhas; que criou 5 filhos e ainda aceitou acolher mais um - a quem no fim reconheceu ser um filho que o ajudou quando ele mais precisava, e que esteve presente para lhe afugentar os medos; um pai que trazia sua féria do dia, junto com um saquinho de gibi, pé-de-moleque e chocolate prestígio, para que fosse contada na mesa da sala; que adorava o Corinthians, assistir TV e dormir ouvindo rádio; que nos levava para a praia aos fins de semana e nas férias escolares; que bem ou mal nos deu condições de estudar e crescer na vida; que adorava cimentar as chácaras que teve e construir nelas casas parecidas com estação de trem; que nao perdia a oportunidade de fazer churrasco, comer coxinha, pizza e tomar uma pinguinha; que nas suas próprias palavras, quando no hospital, perguntado como se descreveria, disse que era um homem sério, meio rabugento, mas que gostava de tirar um sarrinho; que tinha muitos amigos que também se foram - o que fez com que ele, nos últimos tempos, se sentisse bastante deprimido - Toninho, Mané, Tio Filhinho, Tio Luiz, Tio Zezinho. E se houver um lugar além dessa vida, eles estão juntos novamente e com certeza vão se divertir bastante.
A distância nao diminui a dor da perda. A decisão de me despedir dele quando ele ainda estava lúcido não aliviou a vontade de estar presente na despedida final. E na impossibilidade, tive a necessidade de escrever.
Que este momento difícil una e reúna a família, que as desavenças se desfaçam e que o sofrimento e a morte de papai faça com que quem fica reflita sobre como viver a vida, para que seu fim seja digno; que se olhe para trás e diga a si mesmo: -"Nao vivi só pra mim, criei meus filhos, vi alguns dos filhos dos meus filhos e minha tarefa foi cumprida e é só isso que posso levar comigo".
Tchau, pai! Bença.
Arlete
"Aos amigos e parentes,
Hoje, depois de uma longa batalha, meu pai se foi.
Por mais que nestes 71 dias de internação, ele tenha lutado contra todos os problemas que surgiram, não lhe restou mais forças, apesar da vontade de viver.
Coube a nós juntar forças para não sofrer tanto, quando esta hora chegasse. Mas elas também não são suficientes para que aceitemos sem pesar a única coisa que é certa na vida. Não há preparo para a perda. Não há preparo para a morte.
Dizer que foi melhor assim, que agora ele descansou, que ele está junto de Deus, em algum momento alivia a dor. Mas ele não vai mais estar ali, sentado na sua poltrona preferida, com os cotovelos apoiados em suas pernas, assistindo televisão e falando "Escuta, escuta", xingando os políticos e assistindo novela, gritando ao pé da escada: "Dercy, cadê aquela cueca que eu gosto?", ou gritando pela casa a fora: "Dercy, Dercy", só pra saber onde ela está.
As nossas lembranças de um homem rabugento, briguento, pai-patrão, que nao media palavras para ofender, que só fazia as coisas como bem entendia, que deu algumas escorregadas na vida, se juntam as lembranças de um homem que, somente com o quarto ano primário, construiu uma vida sem carências para sua família; um pai trabalhador, que consertava TVs, rádios transistors e vitrolinhas; que criou 5 filhos e ainda aceitou acolher mais um - a quem no fim reconheceu ser um filho que o ajudou quando ele mais precisava, e que esteve presente para lhe afugentar os medos; um pai que trazia sua féria do dia, junto com um saquinho de gibi, pé-de-moleque e chocolate prestígio, para que fosse contada na mesa da sala; que adorava o Corinthians, assistir TV e dormir ouvindo rádio; que nos levava para a praia aos fins de semana e nas férias escolares; que bem ou mal nos deu condições de estudar e crescer na vida; que adorava cimentar as chácaras que teve e construir nelas casas parecidas com estação de trem; que nao perdia a oportunidade de fazer churrasco, comer coxinha, pizza e tomar uma pinguinha; que nas suas próprias palavras, quando no hospital, perguntado como se descreveria, disse que era um homem sério, meio rabugento, mas que gostava de tirar um sarrinho; que tinha muitos amigos que também se foram - o que fez com que ele, nos últimos tempos, se sentisse bastante deprimido - Toninho, Mané, Tio Filhinho, Tio Luiz, Tio Zezinho. E se houver um lugar além dessa vida, eles estão juntos novamente e com certeza vão se divertir bastante.
A distância nao diminui a dor da perda. A decisão de me despedir dele quando ele ainda estava lúcido não aliviou a vontade de estar presente na despedida final. E na impossibilidade, tive a necessidade de escrever.
Que este momento difícil una e reúna a família, que as desavenças se desfaçam e que o sofrimento e a morte de papai faça com que quem fica reflita sobre como viver a vida, para que seu fim seja digno; que se olhe para trás e diga a si mesmo: -"Nao vivi só pra mim, criei meus filhos, vi alguns dos filhos dos meus filhos e minha tarefa foi cumprida e é só isso que posso levar comigo".
Tchau, pai! Bença.
Arlete
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Nem tudo que é BIO é bom
Os famosos salsichões são a comida preferida dos alemães, na rua e em casa, no pão, no churrasco, na sopa, com pommes frites, curry ou sozinha. Tem de tudo quanto é tipo: de ave, de porco, de carne de vaca, misturada, recheada, Bratwurst, Blutwurst, Leberwurst, Weisswurst, Frankfurter Würstchen, Wiener Würstchen e outras que não me lembro o nome, muito menos como se escreve. Tem também a versão orgânica. Não me perguntem como é feito o controle de uma versão orgânica para salsicha, por que não tenho idéia, mas não deve ser uma coisa fácil já que se deveria garantir que a matéria-prima também fosse tratada de forma orgânica ( imagine um porco comendo lavagem orgânica).
E produto orgânico é outra coisa que alemão adora. Aqui são chamados de BIO ou ÖKO. Abre parênteses: quando a Lara era pequenininha, participava com ela de um grupo, chamado Krabbelgruppe/Spielgruppe, onde cantávamos, brincávamos e estimulávamos o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças. Havia uma mãe que oferecia única e exclusivamente produtos orgânicos para seus filhos e não deixava que eles aceitassem qualquer outra comida que lhes fosse oferecida, apesar de compartilhar fazer parte da interação. Ela chegou a arrancar uma banana da mão da criança como se fosse um veneno. Não sei o que seria pior, comer uma banana não bio ou o trauma que essa atitude poderia causar, fecha parênteses.É possível encontrar produtos bio nos supermercados normais, mas há várias lojas especializadas, como a "Reformhaus" e a "Bioladen", que oferecem produtos para necessidades alimentares especiais também.
Para se ter um controle supostamente imparcial de tudo que é produzido agricultural ou industrialmente para consumo alimentar, pessoal, residencial etc., existe uma fundação chamada Stiftung Warentest, parecida com o Inmetro. Para divulgação de seus achados, ela tem um site e uma revista. Em agosto, no consultório do meu médico, deparei com uma destas revistas cujo tema era a tão adorada salsicha. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que a que eu consumo, e que é uma das mais baratas, foi a vencedora do teste. É a Dulano do Lidl, mercado de descontos que eu adoro. E a minha supresa foi ainda maior quando vi que a salsicha da marca Alnatura, uma das marcas Bio mais comercializadas em supermercados e por isso uma das mais caras, é uma das piores, contendo inclusive enterobactérias - que eu entendo como sendo as famosas Escherichia coli, mais popularmente, bactérias do cocô. Ui. Prova de que nem tudo que é bio e mais caro é bom.
Eu já havia lido uma reportagem na Time sobre produto local X produto orgânico e o que me chamou a atenção foi a pergunta feita pelo autor: "How much Middle Eastern oil did it take to get that California apple to me? Which farmer should I support--the one who rejected pesticides in California or the one who was, in some romantic sense, a neighbor? Most important, didn't the apple's taste suffer after the fruit was crated and refrigerated and jostled for thousands of miles?" (traduzindo: Quanto óleo do Oriente Médio foi necessário para que esta maçã da Califórnia chegasse até mim? Qual fazendeiro eu deveria apoiar - o que rejeita pesticidas na Califórnia ou o que, num sentido romântico, é o meu vizinho? Mais importante ainda, o gosto desta maçã não sofreu depois da fruta ter sido manipulada e refrigerada por milhares de milhas?) E isso me deu food for thought. Penso duas vezes antes de comprar algo fresco que veio de longe, principalmente porque a definição de "fresco", neste caso, é "saído da geladeira". Também penso nas mãos limpinhas dos carregadores e dos ratos, nos porões dos navios, circulando por entre as frutas e legumes. Argh.
E por falar em argh, com a nova edição da revista daStiftung Warentest, descobri que o suco de maçã que tenho consumido desde que chegamos aqui é um dos piores.Hora de mudança.
Em tempo: o Amanzor é de Curitiba e a primeira vez que fui à casa dele ele me ofereceu Vina. Eu não tinha a mínima idéia do que era. Ele me mostrou um pacote de salsichas da Sadia. Só quando viemos para cá que descobrimos o porquê de no sul do Brasil eles chamarem salsicha de Vina. A palavra "Wiener", de Wiener Würstchen, salsicha vienense, se pronuncia "Vina". Deve ser a influência alemãaustríaca, assim como aquele bolo com geléia e uma farofa em cima que a gente chama de Cuca, Acho que vem de "Kuchen", que quer dizer "Bolo" em alemão. Alguém tem alguma outra explicação?
E produto orgânico é outra coisa que alemão adora. Aqui são chamados de BIO ou ÖKO. Abre parênteses: quando a Lara era pequenininha, participava com ela de um grupo, chamado Krabbelgruppe/Spielgruppe, onde cantávamos, brincávamos e estimulávamos o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças. Havia uma mãe que oferecia única e exclusivamente produtos orgânicos para seus filhos e não deixava que eles aceitassem qualquer outra comida que lhes fosse oferecida, apesar de compartilhar fazer parte da interação. Ela chegou a arrancar uma banana da mão da criança como se fosse um veneno. Não sei o que seria pior, comer uma banana não bio ou o trauma que essa atitude poderia causar, fecha parênteses.É possível encontrar produtos bio nos supermercados normais, mas há várias lojas especializadas, como a "Reformhaus" e a "Bioladen", que oferecem produtos para necessidades alimentares especiais também.
Para se ter um controle supostamente imparcial de tudo que é produzido agricultural ou industrialmente para consumo alimentar, pessoal, residencial etc., existe uma fundação chamada Stiftung Warentest, parecida com o Inmetro. Para divulgação de seus achados, ela tem um site e uma revista. Em agosto, no consultório do meu médico, deparei com uma destas revistas cujo tema era a tão adorada salsicha. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que a que eu consumo, e que é uma das mais baratas, foi a vencedora do teste. É a Dulano do Lidl, mercado de descontos que eu adoro. E a minha supresa foi ainda maior quando vi que a salsicha da marca Alnatura, uma das marcas Bio mais comercializadas em supermercados e por isso uma das mais caras, é uma das piores, contendo inclusive enterobactérias - que eu entendo como sendo as famosas Escherichia coli, mais popularmente, bactérias do cocô. Ui. Prova de que nem tudo que é bio e mais caro é bom.
Eu já havia lido uma reportagem na Time sobre produto local X produto orgânico e o que me chamou a atenção foi a pergunta feita pelo autor: "How much Middle Eastern oil did it take to get that California apple to me? Which farmer should I support--the one who rejected pesticides in California or the one who was, in some romantic sense, a neighbor? Most important, didn't the apple's taste suffer after the fruit was crated and refrigerated and jostled for thousands of miles?" (traduzindo: Quanto óleo do Oriente Médio foi necessário para que esta maçã da Califórnia chegasse até mim? Qual fazendeiro eu deveria apoiar - o que rejeita pesticidas na Califórnia ou o que, num sentido romântico, é o meu vizinho? Mais importante ainda, o gosto desta maçã não sofreu depois da fruta ter sido manipulada e refrigerada por milhares de milhas?) E isso me deu food for thought. Penso duas vezes antes de comprar algo fresco que veio de longe, principalmente porque a definição de "fresco", neste caso, é "saído da geladeira". Também penso nas mãos limpinhas dos carregadores e dos ratos, nos porões dos navios, circulando por entre as frutas e legumes. Argh.
E por falar em argh, com a nova edição da revista daStiftung Warentest, descobri que o suco de maçã que tenho consumido desde que chegamos aqui é um dos piores.Hora de mudança.
Em tempo: o Amanzor é de Curitiba e a primeira vez que fui à casa dele ele me ofereceu Vina. Eu não tinha a mínima idéia do que era. Ele me mostrou um pacote de salsichas da Sadia. Só quando viemos para cá que descobrimos o porquê de no sul do Brasil eles chamarem salsicha de Vina. A palavra "Wiener", de Wiener Würstchen, salsicha vienense, se pronuncia "Vina". Deve ser a influência alemãaustríaca, assim como aquele bolo com geléia e uma farofa em cima que a gente chama de Cuca, Acho que vem de "Kuchen", que quer dizer "Bolo" em alemão. Alguém tem alguma outra explicação?
domingo, 4 de outubro de 2009
Todo cão tem um alemão
Uma vez, um conhecido nosso disse que todo cão tem um alemão. E é verdade. Não tem cachorro abandonado ou solto na rua: eles estão sempre acompanhados ou acompanhando. Dá a impressão que o animal tem um homem de estimação. Como moro na beira do Reno, pela minha janela, vejo gente passeando com os seus cãezinhos, levando-os regularmente para exercitar suas perninhas e sua fisiologia, como se a grama pública fosse um toilet canino a céu aberto.
Alemão gosta e se orgulha de respeitar regras mas também preza muito o direito individual de fazer o que quer. Muitos se preocupam em não deixar vestígios do crime e levam um saquinho pra recolhe-los, ou utilizam os saquinhos estrategicamente disponíveis nos postes ao longo do rio e, logo que o bolinho sai do forno, o recolhem. Outros se acham no direito de deixar o dejeto lá, pronto para grudar nos sulcos dos sapatos de filhotes humanos que correm livremente pelos gramados, ou melhor, não tão livremente por conta do já citado risco. A impressão que me dá é que estas pessoas pensam que cachorro tem o direito de fazer seu cocô onde lhe aprouver e que criança é que deveria andar na coleira. Aliás, cachorro é mais bem vindo do que criança em determinados lugares, inclusive em restaurantes.
No entanto, como animais domésticos devem ser registrados e pagar impostos anuais (138 euros por um cão, aumentando o valor individual a medida que se aumenta o número de cães por dono), acredito que os donos pensam que, como estão pagando pelo cão, não têm eles mesmos que recolher a sujeira, deixando este serviço a cargo da prefeitura - mais ou menos como nós brasileiros pensamos quando jogamos lixo na rua. Neste registro do animal no departamento competente, tanto gato quanto cachorro recebe um número para possível localização do proprietário em caso de fuga. Eles carregam uma chapinha na coleira e alguns tem chips implantados ou números tatuados na orelha. Outros devem ter inclusive carta de motorista.
No entanto, como animais domésticos devem ser registrados e pagar impostos anuais (138 euros por um cão, aumentando o valor individual a medida que se aumenta o número de cães por dono), acredito que os donos pensam que, como estão pagando pelo cão, não têm eles mesmos que recolher a sujeira, deixando este serviço a cargo da prefeitura - mais ou menos como nós brasileiros pensamos quando jogamos lixo na rua. Neste registro do animal no departamento competente, tanto gato quanto cachorro recebe um número para possível localização do proprietário em caso de fuga. Eles carregam uma chapinha na coleira e alguns tem chips implantados ou números tatuados na orelha. Outros devem ter inclusive carta de motorista.
Que motorista cachorro! Tirei esta foto perto de casa. O dono tinha ido ao supermercado do outro lado da rua.
Pastor alemão
Logo que mudamos para o nosso apartamento, um casal vizinho ( aquele do concerto de piano) veio nos dar as boas vindas. O sobrenome deles é Glogle, e o Amanzor insiste em chamá-los de Google. Eles vieram da antiga Alemanha comunista e são extremamente simpáticos. Ele fala inglês e ela só fala alemão. Mesmo sabendo falar inglês, ele me força a falar em alemão, me corrigindo quando eu faço algum erro (que são muitos).
Fomos convidados para um café na casa deles e eles começaram a contar como vieram parar aqui. Eu só entendi as palavras "prisão", "Rheinbreitbach", "igreja". Eu logo achei que ele tinha sido prisioneiro em Rheinbreitbach - cidade aqui perto - e que tinha se convertido a alguma religião e tido sua pena reduzida. Devido a minha cara de espanto, acho que ele sacou que eu não tinha compreendido ou entendido mal. Então, ele resolveu explicar em inglês que ele foi capelão da prisão de Rheinbreitbach, ou seja, pastor. Concluí então que conheci naquele dia o verdadeiro pastor alemão, pena que nem em alemão ou inglês, essa piadinha tem sentido.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
O outono está aí e o Natal já está nas lojas
Com a chegada do outono, os dias ficam mais curtos, mais cinzas, mais frios. E hoje deu pra sentir bem que ele chegou mesmo. A temperatura tem estado em torno dos nove graus e com muita garoa. Mas frio não assusta alemão não e como amanhã é feriado e as lojas não abrem, uma multidão corre para o supermercado. Parece preparação para uma catástrofe. Acho que fazer compras e abastecer os armários, dá uma sensação de fartura que juntamente com a luz acesa de dia, o calorzinho do aquecimento central ou da lareira, o ficar em casa, o comer, comer, comer, dá aconchego.
É o tipo de sensação que o Natal traz no final do ano. E talvez por isso ele chegue sorrateiro junto com o outono, invade as lojas com decorações e guloseimas que nos faz engordar como se ainda precisássemos estocar energia para o inverno rigoroso, como se fazia antigamente.Os supermercados estão abarrotados de Spekulatius - bolachas tipicas desta época; stolen - bolos feitos a base de Marzipan e manteiga com bastante uva passa; Lebkuchen - pães de mel, recheados ou não e cobertos com chocolates; e por aí vai.
Já é época de Adventskalender, aqueles calendários bem coloridos e com 24 janelinhas que vão sendo abertas do dia primeiro de dezembro até a véspera de Natal, com uma surpresa em cada uma delas. Tem Adventskalender de todos os tipos, desde os simples com chocolates, até aqueles com brinquedos e minilivrinhos para serem lidos à noite para as crianças, bem como aqueles com ferramentas para os homens e jóias para as mulheres(quero um desse).
Os alemães adoram decorar a casa para as estações do ano e também para comemorações especiais. E nas lojas, nesta época, existe uma sobreposição de decoração de outono com decoração de natal. É coisa pra deixar dona-de-casa doida. A gente não sabe se decora para o outono ou se já começa a gastar com as coisas belíssimas de Natal. Em determinadas cidades tem lojas enormes que vendem decorações natalinas o ano inteiro.É sinal que tem mercado pra isso.
Agora, podem me chamar de curiosa, mas o que eu gosto mesmo nesta época do ano, é poder andar pelas ruas residenciais aoa cair da noite e poder invadir um pouco a privacidade dos moradores. As cortinas e venezianas ainda abertas e as luzes acesas trazem para quem está do lado de fora jeitos de viver, decorações, arquiteturas e interiores e modos de vida diferentes. É meio que imaginar personagens de um livro levando suas vidas ou abrir janelas na internet e entrar no cantinho dos outros através de blogs, twitters e sites de relacionamento, só que sem ser convidado, ao vivo. É meio que brincar de Grande Irmão - não o babaca do programa mas o do Orwell, só que sem interferir, deixando a vida e a imaginação rolar.
É o tipo de sensação que o Natal traz no final do ano. E talvez por isso ele chegue sorrateiro junto com o outono, invade as lojas com decorações e guloseimas que nos faz engordar como se ainda precisássemos estocar energia para o inverno rigoroso, como se fazia antigamente.Os supermercados estão abarrotados de Spekulatius - bolachas tipicas desta época; stolen - bolos feitos a base de Marzipan e manteiga com bastante uva passa; Lebkuchen - pães de mel, recheados ou não e cobertos com chocolates; e por aí vai.
Já é época de Adventskalender, aqueles calendários bem coloridos e com 24 janelinhas que vão sendo abertas do dia primeiro de dezembro até a véspera de Natal, com uma surpresa em cada uma delas. Tem Adventskalender de todos os tipos, desde os simples com chocolates, até aqueles com brinquedos e minilivrinhos para serem lidos à noite para as crianças, bem como aqueles com ferramentas para os homens e jóias para as mulheres(quero um desse).
Os alemães adoram decorar a casa para as estações do ano e também para comemorações especiais. E nas lojas, nesta época, existe uma sobreposição de decoração de outono com decoração de natal. É coisa pra deixar dona-de-casa doida. A gente não sabe se decora para o outono ou se já começa a gastar com as coisas belíssimas de Natal. Em determinadas cidades tem lojas enormes que vendem decorações natalinas o ano inteiro.É sinal que tem mercado pra isso.
Agora, podem me chamar de curiosa, mas o que eu gosto mesmo nesta época do ano, é poder andar pelas ruas residenciais aoa cair da noite e poder invadir um pouco a privacidade dos moradores. As cortinas e venezianas ainda abertas e as luzes acesas trazem para quem está do lado de fora jeitos de viver, decorações, arquiteturas e interiores e modos de vida diferentes. É meio que imaginar personagens de um livro levando suas vidas ou abrir janelas na internet e entrar no cantinho dos outros através de blogs, twitters e sites de relacionamento, só que sem ser convidado, ao vivo. É meio que brincar de Grande Irmão - não o babaca do programa mas o do Orwell, só que sem interferir, deixando a vida e a imaginação rolar.
Klangwelle 2009 em Bonn
Este é um evento que acontece todo ano na Münsterplatz, praça principal de Bonn, e é um show de luz, água, música e cores, podendo ser comparado ao show das fontes do parque Ibirapuera, só que sem lagoa, lago ou espelho d´água por perto. Este ano, vai do dia 25 de setembro a 04 de outubro.
Amanhã, 03 de outubro, comemora-se o aniversário de Unificação das duas Alemanhas e, além deste show, haverá outros eventos ao redor e por toda a cidade, atraindo muita gente. Devido às ameaças terroristas dos últimos dias e apesar de não se encontrar informações ou alertas na mídia a respeito, o marido de uma amiga brasileira, que é policial em Colônia, pediu para evitar participar de eventos que envolvem multidões. O objetivo principal do terrorista é aterrorizar, mas sabemos que eles não só cantam de galo. Então, não vou amanhã ver o que rola por lá. É melhor prevenir do que não ter como remediar. Fotos do Klangwelle 2009 aqui.
Amanhã, 03 de outubro, comemora-se o aniversário de Unificação das duas Alemanhas e, além deste show, haverá outros eventos ao redor e por toda a cidade, atraindo muita gente. Devido às ameaças terroristas dos últimos dias e apesar de não se encontrar informações ou alertas na mídia a respeito, o marido de uma amiga brasileira, que é policial em Colônia, pediu para evitar participar de eventos que envolvem multidões. O objetivo principal do terrorista é aterrorizar, mas sabemos que eles não só cantam de galo. Então, não vou amanhã ver o que rola por lá. É melhor prevenir do que não ter como remediar. Fotos do Klangwelle 2009 aqui.
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